Audi e-tron: A força da técnica num SUV elétrico com 400 km de autonomia

18/09/2018

O primeiro Audi de uma nova era. Eis a forma mais sucinta e até ligeira com que se pode observar a chegada do novo e-tron, um automóvel elétrico com carroçaria direcionada para o segmento SUV com bateria de 95 kWh e 300 kW de potência para prestações capazes de rivalizar com um desportivo. Chegada ao mercado prevista para janeiro de 2019.

O segmento dos elétricos Premium está cada vez mais ao rubro e escassos dias depois de a Mercedes-Benz ter revelado o seu novo EQC, a Audi apresenta ao mundo o seu novo e-tron. No entanto, o modelo dos quatro anéis até surgiu em primeiro lugar, uma vez que tivemos a oportunidade de o ver em primeiríssima mão num evento privado na Alemanha, em junho, numa viagem envolta em secretismo e onde telemóvel ‘não entra’.

Fruto de vários anos de desenvolvimento, o novo e-tron é apresentado como um ‘compêndio tecnológico’ repleto de novas funcionalidades que a Audi quer que sejam apenas a porta de entrada num novo ecossistema de mobilidade sustentável que não se esgota com o ato de deixar o veículo estacionado.

Dois motores: 408 CV e 400 km de autonomia

As suas credenciais técnicas são, de resto, elucidativas de que a Audi aposta forte, a começar pela motorização: para este modelo, a companhia de Ingolstadt escolheu um conjunto de dois motores, um por eixo, com uma potência total de 300 kW (408 CV), embora esse seja o valor obtido em caso de ‘boost’, sendo que a potência permanente é de 265 kW, distribuindo-se 125 kW na frente (mais 15 kW adicionais) e 140 atrás (mais 20 kW adicionais). Como se depreende a terminologia quattro também se aplica aqui, havendo lugar a uma avaliação contínua da eficiência e das condições de condução para adaptar o nível de tração, podendo passar da configuração de tração integral para uma em que um dos eixos recebe o maior valor de potência. O binário de 660 Nm está disponível praticamente desde o arranque, beneficiando as prestações.

A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em menos de seis segundos, podendo superar os 200 km/h de velocidade de ponta (a marca anuncia 220 km/h).

Carga máxima: para já a 150 kWh

Entre os pontos de destaque deste novo e-tron quattro está também a capacidade de poder já carregar a 150 kWh, sendo o primeiro a dispor desta funcionalidade de ‘High Performance Charging’. Essa é uma das capacidades da nova rede de carregamento IONITY que está a ser desenvolvida a nível europeu por um consórcio composto por alguns dos maiores fabricantes automóveis (Grupo Volkswagen, incluindo Audi e Porsche, BMW Group, Daimler AG e a Ford Motor Company), prevendo assim a criação de corredores eletrificados de alta potência para retirar a pressão das redes normais de cada país.

Antevendo a evolução dessa mesma rede, a Audi trabalha já na possibilidade de efetuar carregamentos a 350 kW “como visão do futuro”, apontando até para valores mais altos mais além. A IONITY terá 400 postos no final de 2020 em toda a Europa, alguns dos quais em Portugal (em intervalos de 120 km). Podendo carregar a 150 kW, a Audi aponta uma autonomia superior a 400 km já no novo ciclo de medição WLTP. Em meia hora, o e-tron pode receber até 80% da carga.

A tampa da tomada do carregador tem acionamento automático, abrindo ou fechando de forma elétrica.

Além da carga rápida (em DC), o SUV pode também ser carregado em AC de 11 kW (até oito horas e meia de tempo de carga) de base ou de 22 kW opcionalmente com o módulo Connect (reduzindo o tempo necessário para a carga total para as 4,5 horas graças a um segundo carregados integrado no e-tron), o que significa, de acordo com a Audi, que o condutor terá mais de 65.000 postos de carregamento públicos à sua disposição na Europa, num número que irá ainda aumentar. De início, a marca vai lançar um único cartão para aceder a cerca de 80% destes postos, sejam em AC, DC, 11 kW ou 15 kW, devendo fazer o seu registo no portal ‘myAudi’ e concluir um contrato individual. No futuro, porém, maior simplificação com a funcionalidade Plug & Charge, que elimina a necessidade de ter um cartão – o próprio carro autoriza o carregamento e desbloqueia a estação de carga.

Trava, regenera, gasta, trava, regenera…

O conceito de regeneração de energia decorrente da travagem também foi um ponto muito cuidado pela Audi, que tem no e-tron quattro uma elevada eficiência graças a inovações na área. A marca aponta “uma capacidade de recuperação fantástica de energia decorrente da travagem”, havendo um efeito de recuperação até 300 Nm/220 kW decorrente do efeito de travagem, ou seja, um equivalente a 0.3 G de desaceleração quando se trava. O SUV pode recuperar energia quando vai em modo de roda-livre, ou seja, apenas ‘embalado’ ou pela travagem. Quando o travão é acionado, o sistema eletrónico do veículo analisa a quantidade de pressão necessária para aquela função específica. Consoante a situação, o sistema de gestão da travagem decide se usa os motores elétricos como alternadores (para recarregar a bateria) ou se os travões de fricção. Nas ‘contas’ da Audi, o modo de travagem apenas pelos motores elétricos (sem recurso aos travões de disco) cobre 90% das situações de condução.

Além disso, através das patilhas atrás do volante, é possível ao condutor alterar os parâmetros da regeneração (existem três), intensificando-a (e ao efeito de travagem) ou reduzindo-a (tornando a desaceleração menos intensa, mas menos eficaz na recuperação de energia).

Tecnicamente, o facto de contar com um conceito de arrefecimento das baterias muito mais avançado permite-lhe andar mais tempo em ritmos fortes, conforme adianta a Audi, que prevê utilização mais intensa contínua sem perda de eficácia das baterias. Com 2,28 metros de comprimento, 1,63 metros de largura e 34 cm de altura, o pack de baterias do e-tron conta com um total de 36 módulos de células dispostos em quadrados de alumínio, cada um deles do tamanho de caixas de sapatos. A bateria, fabricada pela LG (com um peso de cerca de 700 kg incluindo todo o material acessório, como as cablagens e arrefecimento), situada sob o piso e entre os dois eixos para melhor repartição do peso e baixo centro de gravidade, está envolta num gel de arrefecimento que mantém a eficácia da mesma.

Uma moldura envolvente e uma estrutura estilo malha em alumínio protegem a bateria, enquanto uma proteção inferior em alumínio protege aquele componente de pedras ou danos na zona inferior da carroçaria. Não menos importante é o facto de a bateria estar aparafusada à ‘barriga’ do e-tron em 35 pontos, o que tem o condão de aumentar a rigidez da estrutura que, por sua vez, integra partes em alumínio na zona traseira, portas ou tampas de bagageiras.

Ainda maior por dentro

A Audi promove o seu mais recente modelo “como um SUV elétrico para desporto, família e lazer”, destacando ainda o espaço interior, algo que é potenciado pela configuração elétrica. Com 4901 mm de comprimento, 1935 mm de largura, 1616 mm de altura e quase três metros de distância entre eixos, o novo e-tron admite espaço mais do que suficiente para cinco adultos no seu interior, com 660 litros de capacidade para bagagens (60 desses no compartimento da dianteira). Além disso, tem ainda uma capacidade de reboque de 1.8 toneladas.

No capítulo da eficácia aerodinâmica, destaque para o coeficiente de arrasto de 0.28, que é melhor do que o do Q5 ou Q7 – o e-tron posiciona-se, de certa forma, entre esses, mesmo não sendo um Q6. Mas há outros elementos que denunciam o seu maior cuidado: a grelha dianteira ativa (que altera a abertura consoante as necessidades de arrefecimento), o revestimento inferior completo (com pequenas saliências para ajudar o fluxo do ar) ou a curiosidade dos espelhos retrovisores que deixam de ser… espelhos. Mas já lá iremos. Aliás, na proteção inferior em alumínio que protege a bateria conta com os buracos da conexão dos parafusos em ‘pratos’ recuados que criam deliberadamente pequenas concavidades que ajudam o ar a fluir melhor.

O chassis também foi trabalhado para reduzir o peso, tirando partido da plataforma MLB já existente para veículos de maiores dimensões do Grupo Volkswagen. As opções de jantes iniciam-se nas 19 polegadas (de base, com pneus 255/55), passando pelas do Q7 (com 21 polegadas) e, pela primeira vez, jantes de 22 polegadas também estarão à disposição.

A suspensão pneumática adaptativa consoante a velocidade é um dos elementos de série no e-tron, contando com um sistema de vetorização de binário para a melhoria da condução integrado no próprio controlo da suspensão, distribuindo a potência com uma ligeira predileção ao eixo traseiro. É o controlo do sistema de tração que avalia o escorregamento das rodas em milésimos e promove a distribuição da potência de forma imediata, num conceito de tração elétrica integral. Para dinamismo específico, a marca disponibiliza ainda um Controlo de Estabilidade Eletrónico de quatro fases, com modos ‘Sport’ e ‘Offroad’. Os modos de condução Audi drive select também estão presentes, havendo sete ao alcance de um comando – do mais desportivo ao mais eficiente, para necessidades diferentes. A atuação de elementos como a direção ou a suspensão é alterada pelo modo escolhido. Por exemplo, a altura ao solo pode variar até 76 mm, entre o máximo e o mínimo. Caso seja necessário enfrentar troços fora de estrada, a distância ao solo aumenta 35 mm face ao nível base, enquanto uma função ‘Raise’ permite incrementar mais 15 mm essa mesma altura.

Interior hi-tech

O interior não foge ao que já foi visto em modelos como o A8, mas dá um passo em frente, com um ‘arco’ ao nível da parte superior do tablier envolvente dos passageiros, que integra nas portas os ecrãs do sistema opcional de retrovisores digital. Uma solução que aumenta o lado vanguardista, ao substituir os espelhos exterior por duas pequenas câmaras (numa solução que reduz o atrito aerodinâmico e o ruído), mas que, aponta a Audi, consegue até melhorar as conduções de visibilidade para o ambiente à retaguarda (sobretudo à noite). As imagens captadas pelas câmaras de alta-definição são transmitidas em pequenos ecrãs na parte superior das portas, sendo táteis, o que permite ao condutor ajustar o ponto a ver atrás ou até fazer zoom de algum elemento na retaguarda.

A construção volta a estar num patamar de elevadíssima qualidade, o mesmo se podendo dizer dos materiais selecionados pela Audi, que denotam para este modelo um elevado nível, até porque o conforto acústico também foi muito trabalhado, de forma a manter o ruído no exterior. A orientação dos comandos e ecrãs interiores da consola central tem uma ligeira orientação para o condutor, destacando-se a coexistência de três ecrãs – o virtual cockpit (1920 x 720 pixels), ainda mais funcional e os dois referentes ao sistema MMI, com o do sistema multimédia na parte superior do tablier (10.1”) a ser complementado pelo inferior (8.6”), para o sistema de climatização e não só. O túnel central oferece uma série de espaços de arrumação, possibilitados pelo seu cariz elétrico.

De série, surge com ar condicionado de duas zonas, mas pode receber de quatro zonas com pacote de alta qualidade do ar. Também opcional o conjunto de bancos desportivos com função de massagem e o sistema head-up display.

Note-se, ainda, que o e-tron conta com o sistema de navegação MMI de série, mas na versão de topo, o modelo dispõe de um módulo de transmissão de dados LTE com hotspot Wi-Fi integrado. O sistema de navegação deste sistema também consegue efetuar sugestões inteligentes de rota com base em viagens anteriores e em serviços de tráfego em tempo real fornecidos pela HERE. Os serviços online da Audi podem complementar o leque de serviços digitais, até com a informação de pontos de carga AC/DC na Europa e informações decorrentes de troca de dados ‘car-to-X’.

Ao nível da segurança, o e-tron apresenta os mesmos sistemas que os seus ‘primos’ mais evoluídos de quatro anéis, destacando-se o cruise control adaptativo que auxilia o condutor na aceleração, travagem, manutenção de velocidade e das distâncias para o veículo da frente, mesmo em engarrafamentos. O sistema deteta marcações na estrada e veículos nas laterais, adaptando-se adequadamente até mesmo em zonas de construção em autoestradas.

Em cidade, destacam-se outras competências, como o assistente de cruzamento dianteiro e traseiro, bem como o assistente de mudança de faixa ou de saída de estrada. As câmaras 360º oferecem vários ângulos de visão e, segundo a Audi, disponibilizam até um nível de detalhe elaborado das rodas. Afinal, ninguém gosta de ter jantes de 21″ encostadas ao passeio…

 

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