Concebido como um protótipo para demonstrar as potencialidades dos combustíveis sintéticos, o Iron Knight da Volvo Trucks ‘explica-se’ em poucos detalhes: aerodinâmica trabalhada, motor D13 com quatro turbos, 2400 CV de potência e massivos 6000 Nm de binário. Mas, por vezes, nem mesmo as obras humanas mais possantes conseguem enfrentar as forças titânicas da natureza, como a chuva copiosa que se abateu sobre o Autódromo do Estoril, onde o ‘Cavaleiro de Ferro’ batalhou para colocar a sua potência no asfalto.

Quem se acostumou aos desenvolvimentos da saga ‘Guerra dos Tronos’, de George R. R. Martin, poderia pensar que o Iron Knight (ou, mais concretamente, The Iron Knight, para um título mais preciso) seria uma personagem de uma qualquer família mística em contenda pelos poderes de outros reinos. O Iron Knight é bem mais real, mas não menos imponente.

Com cabina rebaixada, este camião mantém o porte robusto e impressionante dos seus congéneres, mas nota-se um maior aprumo aerodinâmico, por exemplo, no para-choques dianteiro (quase em formato de pá na dianteira) ou nas laterais, bastante mais esculpidas. A razão é simples: a aerodinâmica serve para manter o veículo mais estável, ao passo que os pneus Goodyear especiais ajudam a suportar as exigências da velocidade e do peso.

Para o caso, importa notar que este modelo da Volvo Trucks bateu, em 2016, o recorde mundial de velocidade para camiões, dando também à marca de pneus americana o estatuto de recordista nos pneus para camião mais rápidos do mundo. O camião, com 4.5 toneladas e 2400 CV de potência, conseguiu alcançar uma velocidade média de 169,09 km/h num tempo de 21,29 segundos, ao percorrer uma distância de 1000 metros (com arranque parado). Enquanto batia estes recordes, o Iron Knight chegou a atingir uma velocidade de ponta de 276 km/h (171,5 mph), sendo ainda recordes até à data de hoje. Já a aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 4,6 segundos.

O motor do Volvo Iron Knight é o seis cilindros de 13 litros, mas com quatro turbos, montado em posição central no chassis, para uma melhor distribuição de peso e estabilidade. Esta unidade tratora assenta na base da atual série FH de Volvo, estando equipado com a caixa de velocidade I-Shift de dupla embraiagem, também disponível para os camiões Volvo FH.

Mas há mais uma razão para o Iron Knight mostrar a sua ‘armadura’ nos tempos que correm. Apologista dos combustíveis sintéticos como solução para reduzir as emissões de CO2 das frotas atuais, este camião de pista é alimentado unicamente a HVO, um combustível sintético que reduz as emissões de CO2 em cerca de 85% quando comparado com um combustível fóssil convencional.

Pneus entre o comum e o inovador

Presente no Autódromo do Estoril também para celebrar os 125 anos da Goodyear, o Iron Knight conta com pneus exclusivos para lidar com as exigências desta máquina. As carcaças dos pneus com que foram batidos os recordes são as mesmas carcaças standard dos pneus para camião da Goodyear que, diariamente, são utilizados nas estradas europeias por transportadores e frotas.

No entanto, há diferenças relevantes em relação a esses. Às carcaças standard são aplicados compostos e rastos de banda concebidos especificamente, não faltando também, nos pneus que bateram os recordes mundiais, desenhos especiais ‘Goodyear – Iron Knight’ nos flancos.

Os pneus direcionais de medida 315/70 R22.5 para o camião The Iron Knight têm por base os pneus de competição para camiões da Goodyear, que equipam todos os camiões que participam no Campeonato da Europa Goodyear de Corridas de Camiões (ETRC) da FIA. Já os pneus de tração 495/45 R22.5 são capazes de resistir ao incrível binário disponibilizado pelo motor do Iron Knight.

Guerra dos elementos

Ao passar por Portugal, o Iron Knight enfrentou condições climatéricas próximas das de um temporal, com chuva torrencial a cair sobre a zona de Sintra e Estoril na manhã do dia 18. Mais um desafio para este Volvo, que demonstrou a sua capacidade com algumas passagens pela reta da meta, em sentido inverso ao normal, apenas para validar os valores de uma aceleração que impressiona.

Com uma nuance: o Iron Knight não utilizou a sua potência total. Na verdade, o Iron Knight usou apenas 30% da sua potência e do binário por questões relacionadas com a tração em tais condições de chuva. E, mesmo assim, durante a curta experiência a bordo deste camião (com o ex-piloto sueco Boije Ovebrink ao volante), foi possível perceber como a motricidade estava bem aquém do desejável, lutando para colocar a potência no asfalto perante autênticos ‘rios’ que atravessavam a pista. Ainda assim, o Iron Knight é bastante rápido, sem nunca fazer esquecer a sua opulência e musculatura, até mais intimidante pelas condições do piso.

Finda a curta passagem a bordo do Iron Knight pela reta principal do circuito do Estoril, fica o lamento pelas condições imensas de chuva e a interrogação de como seria com o tempo seco. Ficará para outra (hipotética) oportunidade.

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