O caminho da smart só agora envereda pela eletrificação em pleno, mas desde a sua génese que a marca do Grupo Daimler tinha essa transição em vista. Quem o garante é Daniel Lescow, responsável de marca e de produto da smart, que olha para a posição atual da marca com satisfação, embora assuma que os próximos anos possam ser desafiantes para a smart, enquanto prepara também uma nova fase já ao abrigo da parceria com a Geely.

Em entrevista ao Motor24 durante a apresentação da gama renovada smart EQ, Lescow recorda que “a smart nasceu para ser elétrica. Desde o início que foi esse o plano e sempre estivemos ligados à ideia dos carros elétricos. Em 2007 tivemos os nossos primeiros carros em Londres e em 2012 tivemos uma grande frota através da plataforma de carsharing Car2Go. Depois, todos esses esforços levaram ao ano passado quando a marca vendeu 18.400 carros elétricos de um total de 116.800, o que já é um grande sucesso para a smart”.

Lescow entende, por isso, que “este é o momento certo para mudar por completo para os elétricos. Sob muitos pontos de vista: do ponto de vista da procura dos clientes, do ponto de vista das discussões que estão a decorrer na sociedade, do ponto de vista das cadeias de valor que estamos a ter, mas também tecnicamente, porque agora mudamos bastantes coisas no carro e isso é tudo uma grande razão para fazer essa grande decisão”.

Além disso, nota, esta transição para os modelos puramente elétricos é uma forma de a smart ser “fiel a si própria, porque a inovação é extremamente importa te para a smart e podemos ser agora a primeira marca a converter-se diretamente para os elétricos globalmente. É um sinal muito forte”.

Se o ano de 2019 foi de crescimento para a marca, o facto de passar agora para os elétricos deverá interromper essa trajetória de crescimento, devendo “cair um pouco, é algo que prevemos. É diferente em cada mercado, nalguns a queda será mais profunda, noutros será melhor”, reconhecendo que terá um “efeito nas vendas globais”. Contrapõe, porém, que “do ponto de vista dos clientes é a decisão certa porque eles pedem-nos estes carros e isso é que importante para nós. Do ponto de vista do cliente e do ADN da marca é uma razão muito forte para fazer esta decisão, que creio que é confirmada como acertada por toda a gente com quem falámos”.

Negócio da China

Aquilo que já é certo é o futuro da smart ligada à gigante chinesa Geely, tendo sido estabelecida uma parceria de 50/50 com aquela fabricante, que recebeu a luz verde para a sua formação oficial a 27 de dezembro de 2019, com o estabelecimento de uma nova companhia, a “smart Automobiles Co. Ltd., que estará encarregue de desenvolver, produzir e vender o novo carro da smart”.

Sobre essa nova geração, ainda poucos detalhes, mas sabe-se que terá dimensões ligeiramente maiores do que os atuais e que dará origem a uma gama mais ampla. “Esse novo carro deverá chegar ao mercado, muito provavelmente, em 2022. Será um de muitos. Sempre dissemos que não era só um carro, mas mais. Esse carro chegará em 2022 e será ligeiramente maior do que os que temos hoje. Será um carro de segmento B, para o qual existem diferentes definições, mas será maior, mas ainda assim um smart, ou seja, compacto. Isso significa que não será um substituto direto destes smart [os atuais EQ fortwo e forfour]. Vão coexistir e continuar no mercado. Não dissemos ainda que tipo de carro vai ser, mas é algo que vamos anunciar mais tarde”.

Desta forma, fica confirmado que os atuais smart irão estar à venda com os novos modelos, que deverão estar à venda dentro de dois anos, com desenvolvimento na China e exportados para todo o mundo. Garantida está também a ideia de “o novo carro será um conceito técnico completamente diferente”.

Autonomia sem mudanças

Na atualização da gama smart para 2020, a marca optou por não mexer no lado técnico, o que quer dizer que o sistema elétrico se mantém igual ao do modelo já lançado. Daniel Lescow refere que essa foi uma decisão consciente atendendo aos critérios de utilização do veículo, maioritariamente em ambiente urbano.

“Quando fizemos este carro [o facelift], focámo-nos muito no design: tem uma nova dianteira, interior renovado com consola central redesenhada, novos faróis traseiros e um lado digital renovado, que foi muito importante. Cada carro está conectado e pode ser controlado com a app smart EQ Control e com os serviços opcionais Ready to”, começou por destacar, explicando que “aquilo que foi muito importante foi a variabilidade do carregamento elétrico: neste carro temos o carregador interno padrão de 3.6 kW e o opcional de 22 kW e podemos carregar em qualquer tomada doméstica. E podemos combinar qualquer carregador de bordo com a wallbox”.

“Numa tomada doméstica, carrega em seis horas e meia, com uma wallbox com o carregador padrão leva 3.5 horas, com o carregador de 22 kW e wallbox em menos de 40 minutos. E isso é muito importante para nós, que tenhamos esta variedade para o cliente de carregar em qualquer lado. Não precisamos de encontrar uma tomada DC de alta voltagem, podemos carregar em qualquer lar. E do ponto de vista de um carro citadino, em que não é conduzido em grandes distâncias, é mais importante que possamos carregar o carro em qualquer lado do que ter um pouco mais de autonomia mas ter as possibilidades de carregamento mais limitadas. Por isso é que entendemos ser mais importante o lado da variabilidade do carregamento. Se olharmos para os dados dos nossos clientes, sabemos que fazem cerca de 30-35 quilómetros diários, em média, e que, mesmo com esta bateria, podem fazer dois ou três dias de viagens antes de carregarem outra vez. Esse foi o conceito. E também com uma pegada mais ecológica, porque não precisam de grande bateria”, precisa.

Entrando em maior detalhe nos elementos digitais do novo smart, Lescow aponta a possibilidade de uma opção de carsharing como principal novidade, embora frise que isso apenas se aplica numa ótica particular e não de negócio.

“A solução que estamos a lançar é privada. Há restrições no tempo que cada pessoa pode alugar o carro, porque, caso contrário, enfrentam uma série de problemas com impostos, que não queremos ter. Por isso, limitámos o tempo”, afiança, acrescentando que “para o carsharing, podemos emprestar o carro e receber dinheiro por isso. E vem com seguro automático, que é algo que as pessoas se esquecem e que faz parte do pacote. Irá funcionar em Portugal, assim que o lançarmos”.