Fiat Chrysler quer fusão com a Renault

27/05/2019

A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) confirmou a existência de uma proposta de fusão transformadora com a Renault, deixando assim no ar a hipótese de criação de uma mega-entidade automóvel na Europa.

A FCA, uma das marcas que mais tem vindo a defender a visão de fusões e parcerias na indústria automóvel como forma de reduzir custos, anunciou a existência de uma proposta de fusão com a Renault, que permitiria fortalecer a presença de ambas as marcas em diversas regiões, proporcionando uma poupança anual de 5 mil milhões de euros.

A visão de fusões era já fortemente defendida por Sergio Marchionne, antigo CEO da companhia, mas as tentativas de parcerias realizadas pelo italiano nunca chegaram a bom porto. Contudo, este é o passo mais decidido rumo a uma fusão, com a FCA agora liderada por Mike Manley a considerar que o portefólio amplo e complementar possibilitaria uma cobertura completa do mercado, desde o [segmento de] luxo ao generalista”.

Os detalhes da proposta ficaram expressos num comunicado enviado pela FCA para as redações, com a Renault a confirmar o seu interesse igualmente num outro comunicado, adiantando que a administração abordou a proposta da FCA com interesse com vista a uma fusão nos setores de negócios.

Época de mega-grupos

A criação de novos grupos automóveis de grande envergadura não é nova, mas atingiu recentemente novos patamares, com o criação daquilo que o Grupo PSA denominou de “campeão europeu” no momento da integração da Opel no seu portefólio. Esse é apenas um exemplo da criação recente de grandes estruturas cooperativas de marcas, como também já existe na Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi (integrando ainda a Dacia). A esta última ficariam então agregadas as marcas Fiat, Alfa Romeo, Chrysler e Jeep com a hipotética fusão com a Renault.

Caso o acordo prossiga, o objetivo seria um acordo em que as partes ficariam com uma participação equitativa 50/50 da nova entidade resultante da fusão, sendo esta feita através de uma empresa holandesa. Prevê-se que, caso as duas partes estejam de acordo e aceitem prosseguir com a fusão, o acordo leve um ano até estar concluído, como afirmou Mike Manley em carta aos seus empregados.

“A perspetiva para a combinação [de esforços] também é fortalecida pela necessidade de tomar decisões arrojadas para capturar as oportunidades de escala criadas pela transformação da indústria automóvel”.

Barreiras políticas

Apesar do potencial benefício financeiro para as duas partes em termos de poupanças, poderão existir obstáculos políticos, sobretudo por parte do Governo italiano e dos sindicatos locais, que estarão atentos a eventuais indicações de encerramentos de fábricas ou cortes nos postos de trabalho. Da parte do Governo francês, que detém uma participação de 15% na Renault, existe abertura, mas uma fonte oficial, citada no Automotive News Europe, explica que necessita de ver mais detalhes deste acordo e que “permanecerá particularmente vigilante relativamente ao emprego e pegada industrial”.

A Nissan, também parte interessada neste acordo, mas cuja relação com a Renault (detentora de 43,4% do capital da marca japonesa) sofreu um forte abanão devido ao caso de Carlos Ghosn, poderá vir a nomear um diretor para o quadro de administração com 11 membros da nova companhia.