A possibilidade de todos os carros novos à venda na União Europeia a partir de 2022 surgirem equipados com um limitador de velocidade automático (ISA) é cada vez mais uma certeza, com esta medida proposta pela Comissão Europeia a ser apontada como uma forma eficaz de reduzir o número de acidentes e fatalidades nas estradas do Velho Continente. Contudo, poderá também dar uma machadada nos intentos de muitos fabricantes de automóveis desportivos modernos.

A ideia é simples: através da recolha de dados de GPS e/ou de câmaras que façam a leitura dos sinais de limite de velocidade, o sistema eletrónico do veículo poderá limitar a potência do motor e, automaticamente, limitar também a velocidade para a adequar ao limite vigente num determinado troço. Imagine-se que o limite é 30 km/h numa estrada e a potência passa a ser a adequada para… circular a 30 km/h.

Numa primeira fase, é proposto que os automóveis novos desenhados a partir de maio de 2022 (ou alvos de facelift a partir de maio de 2024) contem com uma forma de desativar o sistema, embora por defeito mesmo esteja ativado. Momentaneamente, o condutor poderá também, acelerando a fundo, ‘libertar’ o limitador e voltar a contar com a potência total (por exemplo, para ‘fugir’ a algum imprevisto ou para concluir uma ultrapassagem rapidamente), mas é alertado acústica e visualmente para o facto de estar em excesso.

Não é, ainda, de descartar a possibilidade de, num futuro a médio-prazo, não possa haver um modo ‘off’ do sistema, caso a União Europeia decida ‘apertar’ as regras.

Neste cenário, a existência de carros desportivos como hoje os conhecemos poderá estar ameaçada, uma vez que ter um carro para utilização na via pública com 400 CV será, mais ou menos, o mesmo que ter um carro com 80 CV. Não existe ainda uma resposta por parte da Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA), que congrega a grande maioria dos fabricantes europeus, quanto a estas medidas, mas no ano passado, em reação à revelação das propostas, esta entidade já havia alertado que a implementação do ISA deveria ser abordada de forma cuidadosa, uma vez que “não existe harmonização nos sinais pela Europa” e de que “a simples leitura dos sinais pode não ser suficiente, quando os mesmos estão tapados, por exemplo”.

Em última instância, poder-se-ia contar com um regime de exceção para que fabricantes como a Ferrari, Porsche, Bugatti, Mercedes-AMG, Koenigsegg ou Lamborghini possam ter alguma benesse neste campo – até porque a simples ideia de um limitador faz estas marcas perderem uma parte importante do foco do seu negócio na Europa. Ainda assim, esta possibilidade é uma mera suposição, não se sabendo se tal estará a ser equacionado.

Até ao momento, o que está em cima da mesa, portanto, é a limitação da velocidade máxima dos automóveis dependendo do troço em que circulam, faltando ainda a sua aprovação definitiva pelo Parlamento Europeu para posterior aplicação nos estados membros da União Europeia. Quanto ao Reino Unido, apesar do ‘Brexit’ subtrair o país das leis obrigatórias da UE, os seus responsáveis já indicaram que pretendem manter os seus regulamentos alinhados com os do continente europeu.

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