Os tempos conturbados na Nissan começaram antes da pandemia de Covid-19, mas o surgimento desta tornou urgente delinear um novo plano de reestruturação com o foco posto no regresso aos lucros e no estabelecimento de uma operação financeiramente saudável a nível global. O plano hoje apresentado por Makoto Uchida, CEO da Nissan, passa em revista praticamente todos os aspetos da operação da marca a nível global, sabendo-se já que a fábrica de Barcelona será encerrada e que a sua presença na Europa será “ajustada”. Mas o Velho Continente não será posto de parte, como chegou a ser avançado por alguns meios de comunicação social.

O plano hoje revelao pela Nissan Motor Co., Ltd tem um prazo de quatro anos, ao longo dos quais serão implementados diversos atos com vista ao “crescimento sustentável, a estabilidade financeira e a rentabilidade até o final do ano fiscal de 2023”. O plano, que envolve a racionalização de custos e otimização do negócio, representa uma mudança na estratégia anterior da empresa que colocava o foco na expansão contínua.

“Como parte do plano a quatro anos, a Nissan tomará medidas decisivas para transformar o seu negócio, reduzindo as operações não lucrativas e as instalações excedentes, ao mesmo tempo que irá aplicar reformas estruturais. A empresa também reduzirá custos fixos ao racionalizar a sua capacidade de produção, renovar a sua gama de produtos global e controlar as despesas”, refere a marca em comunicado, sendo neste capítulo que se pode incluir o encerramento da fábrica catalã e a procura por maior eficiência de produção em Sunderland, no Reino Unido, onde nascem os SUV Qashqai e Juke.

Através deste plano, a Nissan pretende alcançar uma margem de lucro operacional de 5% e uma quota de mercado global sustentável de 6% até ao final do ano fiscal de 2023, incluindo as contribuições proporcionais da sua joint-venture na China.

A marca explica que este plano terá um foco em duas áreas estratégicas, uma de racionalização de custos e de operações e a outra de dar prioridade aos principais mercados globais.

Sobre o primeiro, de racionalização, reestruturação e redução de custos, é indicado que a Nissan irá “dimensionar corretamente a capacidade de produção […] em menos 20% para 5.4 milhões de unidades por ano, presumindo uma operação padrão por turnos”, procurando atingir uma taxa de utilização das fábricas acima dos 80%, tornando as operações mais rentáveis. Ao mesmo tempo, irá racionalizar a linha de produtos global em 20% (cortando de 69 modelos para cerca de 55 modelos), havendo uma intenção de redução de custos fixos de aproximadamente 300 mil milhões de ienes. Além da fábrica de Barcelona, também a unidade fabril na Indonésia irá ser encerrada, com a produção na região ASEAN centrada na fábrica da Tailândia. Na América do Norte, é apontada a vontade de “consolidar a produção norte-americana nas principais gamas de modelos”, havendo também uma intenção de reforçar a “partilha de recursos, incluindo produção, modelos e tecnologias com os parceiros da Aliança”.

Aqui, inserem-se os parceiros Renault e Mitsubishi, outros membros da Aliança que chegou a ser posta em risco depois da prisão de Carlos Ghosn.

Na segunda linha de ação, a Nissan anunciou que irá focar-se nas suas principais operações nos mercados do Japão, China e América do Norte, mencionando que pretende ter uma “presença operacional adequada na Europa, América do Sul e ASEAN, tirando também partido dos ativos da Aliança”. Isso passará pela partilha de mais tecnologia e plataformas com os construtores da Aliança e até mesmo a saída de cena de alguns modelos. Decidida está a saída do mercado da Coreia do Sul, enquanto a Datsun será encerrada na Rússia, procurando também reduzir as operações em alguns mercados ASEAN.

Quanto a modelos, a Nissan aponta para um foco “nos segmentos globais dos modelos principais da marca, incluindo segmentos C e D, automóveis elétricos e desportivos”, prevendo-se o lançamento de 12 novos modelos nos próximos 18 meses. Espera-se que essa expansão se faça, sobretudo, nos segmentos de automóveis elétricos e eletrificados, incluindo com a tecnologia e-Power, com mais de 1 milhão de unidades de vendas eletrificadas esperadas por ano até o final do ano fiscal 2023.

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Sobre o mercado japonês, haverá o lançamento de mais dois automóveis totalmente elétricos e mais quatro com tecnologia e-Power, representando um aumento da taxa de eletrificação para 60% das vendas.

Além de tudo isto, a Nissan irá introduzir o sistema avançado de assistência ao condutor ProPILOT em mais de 20 modelos em 20 mercados, com o objetivo de que mais de 1.5 milhões de unidades estejam equipadas com este sistema por ano até o final do ano fiscal 2023.

“O nosso plano de transformação visa garantir um crescimento estável em vez de uma expansão excessiva de vendas. Agora vamos concentrar-nos nas nossas principais competências e melhorar a qualidade do nosso negócio, mantendo uma disciplina financeira e foco na receita líquida por unidade para atingir a rentabilidade. Isto coincide com a restauração de uma cultura definida por “Nissan-ness” para iniciar uma nova era”, referiu Makoto Uchida na conferência desta manhã.