A divisão de competição da Skoda decidiram honrar o passado desportivo da marca com a reconstrução do 1100 OHC Coupé em celebração dos 120 anos da Skoda Motorsport. Além do peso histórico que este modelo representa, assume-se também como o maior desafio em matéria de reconstrução por parte da divisão de clássicos da marca checa.

Para esta missão de recuperação daquele coupé, os colaboradores do Museu da Skoda e os do Centro de Protótipos da Skoda Auto juntaram-se com o intuito de reconstruir o carro de competição Skoda 1100 OHC Coupé, procurando devolver-lhe a glória de outros tempos.

As duas equipas começaram por recuperar a estrutura, o chassis e o motor originais, reconstruindo a carroçaria de acordo com a documentação histórica. Para tal usaram tecnologia de ponta, bem como técnicas tradicionais na construção da carroçaria.

Uma lenda renascida

O ambicioso projeto de restauro do veículo não teria sido possível sem os técnicos especializados do Museu da Skoda e sem a documentação técnica original que se encontrava preservada no arquivo da companhia checa, incluindo uma explicação de cada secção de produção e um desenho explicativo para a instalação de montagens individuais. Os componentes mecânicos originais tinham muito pouco desgaste, pois o carro tinha participado em poucas corridas. A renovação de todo o chassis, juntamente com um radiador recém-reconstruído, depósito de combustível e outros elementos, foi concluída no final de 2015.

Originalmente, o chassis do carro deveria ser exposto no Museu da Skoda ao lado do carro com carroçaria aberta. No entanto, foi decidido reconstruir o coupé como um veículo totalmente funcional.

A tarefa mais desafiante foi reconstruir a carroçaria de alumínio. O design original foi projetado por Jaroslav Kindl, um ex-engenheiro da fábrica. De acordo com a documentação, os carpinteiros da época construíram um modelo de madeira. Posteriormente, numa empresa metalúrgica, fabricaram e moldaram manualmente os painéis de alumínio e, depois, chegou a vez de todas as peças serem soldadas ou rebitadas.

A partir da digitalização dos desenhos 2D na escala 1:1, foi criada uma grelha tridimensional das curvaturas, que foi pós-processada visualmente. As formas de cada componente foram cuidadosamente examinadas e retificadas, como foi o caso da frente do veículo e no contorno das luzes traseiras.

Foram comparadas fotografias históricas com os esboços e o modelo 3D. Assim, os especialistas puderam visualizar o carro de todos os lados virtualmente e efetuar as correções necessárias. Foram criados modelos em miniatura dos cantos dianteiros e traseiros e um modelo de uma carroçaria à escala 1:1. Depois de avaliação especializada e efetuadas as alterações necessárias seguiu para aprovação final, e partir daí, os engenheiros da Skoda Auto começaram a trabalhar nos diferentes elementos da carroçaria.

Num trabalho minucioso, a carroçaria foi desenvolvida a partir de chapas de alumínio de 0,8 mm e 1 mm de espessura que foram soldadas manualmente e moldadas durante a reconstrução. Originalmente, os dois coupés eram únicos, apresentando um acabamento anodizado. Na pista, no entanto, esse tratamento de superfície não demonstrou nenhum benefício e, portanto, ambos os carros foram pintados de vermelho a meio da temporada de 1962.

O projeto elaborado para reconstruir completamente o veículo exigia a aquisição de vários pequenos componentes que eram idênticos às peças usadas nos veículos de produção na época.

Os manípulos exteriores das portas do coupé, por exemplo, eram os mesmos do Skoda 1200 Limousine e alguns comutadores e a tranca da ignição também foram usados no Skoda 440 “Spartak” e no Octavia. O volante de três raios com acabamento em plástico preto, que também é claramente visível em desenhos históricos e fotografias, foi herdado do Skoda Popular, o ‘best-seller’ do período da pré-guerra.

Pronto para as corridas

A planificação para o desenvolvimento do protótipo 1100 OHC (designação interna de ‘Type 968’), que se destinava principalmente a corridas de velocidade de resistência, começou na primavera de 1956. No final de 1957, foi concluído o primeiro de dois protótipos com carroçaria aberta (‘roadster’). Esse veículo ainda está entre os destaques em exposição no Museu da Skoda, em Mladá Boleslav. Atualmente, participa com regularidade em eventos nacionais e internacionais de carros clássicos. O segundo 1100 OHC é usado pela Skoda UK (Reino Unido) para fins publicitários, principalmente em eventos no próprio Reino Unido.

Em 1959/1960, os designers continuaram a trabalhar no projeto 968 e criaram dois coupés 1100 OHC com carroçaria fechada. Foram utilizados componentes testados e comprovados dos modelos de produção da marca, mas, ao contrário dos Sport e Supersport, que foram criados no final da década de 1940, o veículo não tinha como base uma estrutura tubular central para a montagem de um motor OHV na dianteira. Em vez disso, o Skoda 1100 OHC Coupé aproveitou uma estrutura rígida ultraleve com tubos de aço de paredes finas, tendo surgido com um chassis tubular, suspensões independentes, uma raridade para a época, com dois triângulos sobrepostos à frente e um eixo ligado por braços atrás e havia ainda uma barra de torção de 15 polegadas.

O motor estava montado atrás do eixo dianteiro em posição longitudinal, enquanto a embraiagem e a caixa de cinco velocidades formavam um conjunto montado atrás, com o diferencial, o que permitia uma distribuição de pesos quase ideal e um excelente desempenho dinâmico. O Skoda 1100 OHC Coupé era alimentado por um motor de quatro cilindros em linha atmosférico. Os cilindros e o cárter foram fabricados em alumínio e foram herdados do Skoda 440 “Spartak”, assim como o veio de excêntricos.

No entanto, o motor OHC do carro de competição ultrapassou significativamente a potência do Spartak de 40 CV. Isto graças às suas câmaras de combustão otimizadas, duplo comando das válvulas OHC, taxa de compressão de 9,3:1, dois carburadores, bloco de alumínio e ignição Bosch, Scintilla Vertex como ainda muitas outras modificações. A sua potência ascendia assim aos 92 CV às 7700 rpm, para uma relação específica de 85 CV/litro. Em curtos períodos de utilização, podia atingir as 8.500 rpm. Dependendo da relação de transmissão, que podia ser regulada de acordo com cada circuito, este modelo bilugar com carroçaria de alumínio e um peso sem carga de apenas 555 kg podia atingir uma velocidade máxima de cerca de 200 km/h. Os travões de circuito duplo garantiram sempre uma desaceleração eficaz e, para reduzir a massa não suspensa, os travões traseiros de tambor foram montados no diferencial.

A carreira desportiva dos dois coupés 1100 OHC teve lugar entre as temporadas de 1960 a 1962. Em 1966, foram vendidos a clientes particulares, quando deixaram de ser autorizados a competir após as mudanças nos regulamentos técnicos, que resultaram no fim da categoria abaixo de 1100 cc.

Destruição comprometedora

Posteriormente, ambos foram destruídos em acidentes rodoviários. O proprietário do primeiro veículo, cujos componentes se mantiveram e foram usados na reconstrução, substituiu o motor do 1100 OHC por um bloco de quatro cilindros de produção com um comando de válvulas OHV de um Felicia. O motor original esteve em exibição durante muito tempo numa escola em Mladá Boleslav, antes de ser instalado no reconstruido 1100 OHC Coupé.

O segundo coupé ardeu num acidente. O condutor conseguiu sair ileso do veículo, mas a carroçaria de alumínio ficou irremediavelmente danificada. Depois de desmontado, o eixo traseiro com a caixa de velocidades integrada fez parte da coleção do Museu Técnico Nacional de Praga antes de ser doado há 25 anos ao Museu da Skoda. O museu da marca também adquiriu de um colecionador particular em 2014, a estrutura feita de alumínio e de outros materiais, que foi cortada em três partes, juntamente com o eixo dianteiro completo e outras peças sobreviventes.
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O motor tinha uma cilindrada de 1089 cc, debitando uma potência de 92 CV às 7.700 rpm, o que correspondia a uma relação potência/litro de pouco menos de 85 CV. Originalmente, o motor funcionava com combustível da aviação com elevadas octanas, que era alimentado por dois carburadores duplos fabricados pela marca checoslovaca Jikov e, mais tarde, pelo fabricante italiano Weber.

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