Moto Guzzi V85 TT: Trail à “La Moto Guzzi”

28/07/2019

Já restam poucas ou nenhumas dúvidas de que o segmento trail é dos que mais tem crescido nos últimos anos no universo das motos. Todas as marcas disponibilizam, pelo menos, um modelo, algumas têm mesmo vários com cilindradas para todos os gostos. Há muito tempo que a Moto Guzzi não tinha uma oferta tão apetecível neste segmento. Fiel às suas origens, a marca italiana continua a apostar irredutivelmente no motor bicilíndrico transversal em V a 90º, como faz há 98 anos.

Mas esta não é a primeira vez que a Moto Guzzi se aventura no segmento das trail, já nos anos 1980 desenvolveu uma “Tutto Terreno” que viria a receber a designação V65, tratando-se de um dois cilíndros transversais em V com 643cc, refrigerado a ar com 48cv. Chegou, inclusive, a participar no Paris Dakar, em 1985, com uma versão Baja, mais adaptada às exigências de tão dura prova.

Com uma clara inspiração no modelo de há 34 anos, a nova V85 TT é uma moto a que a marca chama de “classic enduro”, não querendo mais que lhe chamem “scrambler”. A primeira vez que se põe a trabalhar uma Moto Guzzi pode ser uma surpresa para quem nunca andou numa: a vibração é notória e o som é diferente de qualquer outro bicilíndrico. Este, além de ser em V, é montado transversalmente, por isso vemos as suas cabeças tão proeminentes, uma de cada lado da moto.

Este é o motivo que me deixou intrigado em relação ao comportamento dinâmico da V85 TT: como é que aquele motor, a uma altura do solo considerável, iria afetar o centro de gravidade da moto? Nada como experimentar. As primeiras impressões são quase desconcertantes, uma moto com estas caraterísticas não era suposto curvar tão bem. Para tal ser possível, os engenheiros transferiram muito do peso para debaixo do motor, incluindo a panela de escape. E, por incrível que pareça, a moto ficou com um centro de gravidade muito equilibrado.

Mas, outros fatores contribuem para a excelente dinâmica da V85 TT: o quadro estreito convida a conduzir de pé com bastante eficácia fora de estrada, ao permitir encaixar os joelhos no depósito; o banco esguio é muito confortável (uma mais-valia em viagens longas); as suspensões com 170mm em ambas as rodas são ajustáveis em pré-carga e em extensão, demostrando um comportamento muito bom nas estradas esburacadas da cidade.

As rodas raiadas de 19” na frente e 17” atrás também são responsáveis por parte do conforto que se sente, convidando a andar a ritmos bem rápidos, por vezes. Na altura de parar o conjunto, os travões Brembo, com discos de 320mm e quatro pistões na frente, e disco de 260mm e um só pistão atrás dão, perfeitamente, conta do recado. A posição do guiador é boa tanto em condução sentada como de pé, os controlos têm um aspeto refinado e o ecrã tft a cores mostra toda a informação de uma forma clara.

Infelizmente, o acesso aos modos de condução não é óbvio porque só premindo o start, por alguns segundos, se consegue alterar entre os modos road (disponibiliza os 80 cv), off-road (permite desligar o controlo de tração e o abs na roda traseira) e rain (reduz a potência e torna o controlo de tração ainda mais interventivo). A autonomia é boa, tendo em conta que o depósito de 23 litros permite fazer cerca de 400 quilómetros com andamentos razoáveis.

Com várias Moto Guzzi na sua coleção, o ator escocês Ewan Mcgregor é um conhecido fã da marca e o protagonista de uma campanha com a V85 TT, que aceitou fazer porque adorou o modelo. Para quem como ele procura algo diferente no segmento trail, a V85 TT é uma boa notícia pois conjuga, perfeitamente, o aspeto clássico com a tecnologia atual, destacando-se pela diferença num panorama com ofertas tão semelhantes.

Ficha técnica
Preço: a partir de 11.870 euros
Motor: Bicilíndrico em V transversal a 90º com 853 cc refrigerado a ar
Caixa: 6 velocidades
Potência: 80 cv
Depósito de combustível: 23 litros
Peso: 229 kg

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