Teste Alpine A110 S: Quando os números explicam melhor do que as palavras

23/01/2023

300 cv de potência, binário máximo de 340 Nm, 0-100 km/h em 4,2 segundos. Desportivo explica-se melhor pelos números. A idade de quem vai ao volante também conta.

 

São 300 cv de potência e 340 Nm de binário máximo. O Alpine 110 S é mais fácil de explicar através dos números que constam na sua ficha técnica do que pelas palavras de quem o ensaia. Ainda há modelos assim, mas já não são muitos. Até o número que consta no cartão do cidadão de quem vai ao volante será de considerar. Será que ainda conserva os requisitos necessários para lidar com um desportivo old school, que agora até ganhou uma asa traseira, como se de uma bebida energética se tratasse? Existirá ainda energia para tanto dinamismo?

Diga-se, em abono da verdade, que esta nem é a versão mais potente (a GT) do Alpine. A “S”, digamos, é a intermédia, em termos de força. Mas acreditem que chega para as despesas de adrenalina. Nesta evolução, o modelo ganha 8 cv, chegando aos referidos 300 cv de potência, todos muito bem nutridos, que combinam bem com o binário máximo de 340 Nm, disponível a partir das 2400 rpm – mais 20 Nm do que até aqui.

Desportivo old school

As principais novidades centram-se no conteúdo. O conjunto motor/caixa continua o mesmo. Ou seja, atrás dos dois ocupantes habita o propulsor sobrealimentado de quatro cilindros em linha com 1,8 litros, apoiado por uma rápida e inteligente caixa de dupla embraiagem de sete relações Getrag. Estas afinações no motor traduzem-se, obviamente, em melhores prestações.

Segundo valores da marca, o Alpine A110S cumpre o arranque dos 0 aos 100 km/h em 4,2 segundos (menos 0,2s) e a velocidade máxima situa-se, agora, nos 275 km/h (e não de 260 km/h, como anteriormente), sendo de assinalar que, nesta expressão, já não consta o limitador de velocidade, o que obriga a algum bom senso, dado que o entusiasmo aumenta a cada curva cumprida em pleno controlo da direção.

O Alpine A110 S é, consideravelmente, leve (menos de 1200 kg), o que também se traduz em consumos bastante moderados. A marca anuncia 6,9 l/100 em ciclo misto (WLTP) e mesmo com alguns abusos, os registos não andaram (muito) longe dos oficiais.

 

Ganhar asas

Mas não esqueçamos a estética. Uma carroçaria bicolor Fire Orange (cor-de-laranja fogo) com teto em Deep Black (preto) não deixa margens para a discrição. Nem parado, nem a circular. Há muito que a marca não mexia no Alpine 110. Há seis anos, para sermos mais exatos. E mesmo agora teve o cuidado de não alterar quase nada das linhas exteriores, ciente da sensibilidade que costuma acompanhar os fãs deste desportivo.

A unidade ensaiada “vestia” o opcional “Aero kit” em fibra de carbono, que inclui, pela primeira vez, uma asa traseira. Mas não só. Alberga ainda uma lâmina à frente e “carenagens” dianteiras mais longas, o que beneficia a eficiência do fundo plano e do difusor traseiro.

Existem ainda outros extras para quem levar o dinamismo muito a sério: pneus semi-slick Michelin Pilot Sport Cup 2 — de série são os Michelin Pilot Sport 4 que envolvem jantes de 18 polegadas. A travagem, irrepreensível, diga-se, é assegurada por discos bi-material à frente e atrás, com 320 mm de diâmetro e pinças cor-de-laranja.

Extras para todos

No interior, os bancos são da Sabelt Sport, revestidos em microfibra preta e pele, com pespontos cor-de-laranja para não destoar. O chassis “Sport” conta com barras estabilizadoras (ocas e 100% mais firmes) e molas recalibradas (50% mais rijas), distância ao solo reduzida em 4 mm e amortecedores ajustados de acordo.

O grande destaque no habitáculo? O novo sistema multimédia, específico para o Alpine A110, que inclui um ecrã tátil de 7 polegadas, conectividade Bluetooth e duas entradas USB. Existe ainda um novo menu Alpine Telematics (opcional, exceto no A110S), que indica binário e potência, pressão do turbo, temperatura da caixa de velocidades, ângulo da direção e aceleração.

Como pontos mais criticáveis, podíamos mencionar a pouca visibilidade proporcionada pelo óculo traseiro, a falta (total) de espaços de arrumação no habitáculo – existe apenas uma ranhura para colocar a chave do veículo – ou ainda a bagageira que acolhe com dificuldade uma pequena mala.

Podíamos ainda reclamar dos 100.200 euros que custa a unidade ensaiada, graças aos seus muitos extras (o “S” está disponível desde 82.900 euros), mas seria injusto para tudo o que oferece este icónico desportivo, que, em breve terá, também ele, de silenciar o forte rugido e render-se a uma existência elétrica. Mas, por enquanto, continua igual a si próprio e há emoções que ainda escapam aos números da indústria.