“Parece um filho de um Toyota FJ e um Hummer”. Durante a apresentação em Paris, ouvimos chamar de tudo um pouco ao Oli, [leia-se all-ë]. No entanto, se o design não é consensual, já toda a componente tecnológica parece ter agradado a muita gente.

 

Segundo os responsáveis pelo seu desenvolvimento, não está nos planos da Citroën a comercialização do Oli. O concept, será mais um catalisador para uma mudança do paradigma, que para a marca é insustentável nos moldes atuais: Os automóveis custam cada vez mais dinheiro, estão cada vez maiores, mais pesados, e cheios de funcionalidades que os utilizadores não usam.

É notória a inspiração em modelos do legado histórico da marca como o 2 CV, um automóvel concebido no pós-guerra, que servia para tudo e era simples e barato. Ou mesmo no Méhari, pela introdução de inovações como a carroçaria em plástico e fibra de vidro, e, claro, também no mais recente Ami, o quadriciclo elétrico lançado em 2020, que pode ser conduzido com carta de condução da categoria B1.

No Oli, nada é fruto do acaso. Todas as opções foram escolhidas com base na acessibilidade, simplicidade, e sustentabilidade com especial preocupação com o ciclo de vida, em que a maioria dos componentes são de origem reciclada, e serão reciclados no final da vida útil do automóvel.

O conceito de que “a forma segue a função” foi utilizado exaustivamente no design do Oli

O conceito de que “a forma segue a função” foi utilizado exaustivamente no design do Oli, em que a opção de colocar um para-brisas verticalmente plano deve-se ao facto de se utilizar menos quantidade de vidro, ser mais barato de produzir, e reduzir a exposição solar dos ocupantes. A Citroën estima que esta solução reduz em dezassete porcento a energia consumida pelo sistema de ar condicionado.

De entre uma série de componentes, o tejadilho é fruto de uma parceria com o fabricante de plásticos BASF, e consiste numa estrutura alveolar de cartão prensado reforçada com fibra de vidro, pesa apenas 6 kg e pode suportar o peso de um adulto. Nas portas, a eliminação dos altifalantes, do forro, e do mecanismo elétrico para os vidros permitiu poupar 7 kg. A inovação continua no interior, onde os bancos são feitos com uma estrutura tubular e os apoios impressos em 3-D, utilizando apenas 8 elementos, ao contrário dos típicos 37 utilizados num banco normal.

o tejadilho é feito numa estrutura alveolar de cartão prensado reforçada com fibra de vidro, pesa apenas 6 kg e suporta o peso de um adulto

O número de elementos utilizados no painel de instrumentos e no tablier foram também reduzidos de 75 para 34. O melhor sistema de infoentretenimento está já nos nossos smartphones, e no Oli o condutor coloca o seu numa doca especifica para ter funções como a navegação, ou música projetadas na parte inferior do para-brisas. Juntamente com substituição total do sistema de som por colunas Bluetooth removíveis permitiu poupar 250 kg.

A preocupação com o aumento do período de vida útil e a reciclagem estende-se até aos pneus. Em colaboração com a Goodyear, foi criado o pneu Eagle GO, feito com materiais sustentáveis ou reciclados, e contém sensores que monitorizam o seu estado. Este pneu tem uma duração até aos 500.000 km através da reutilização da carcaça, podendo o piso ser substituído ao longo da sua vida.

Pela lógica atual, a maioria dos construtores só pensa em aumentar o tamanho das baterias para oferecer mais autonomia nos seus automóveis elétricos. Isto só torna os carros cada vez mais pesados e caros. A Citroën pretende combater esta escalada, oferecendo aos clientes a possibilidade de escolherem a autonomia de que realmente precisam. A meta de 400 km é conseguida graças ao peso total na ordem dos 1000 kg, aos 110 km/h de limite da velocidade máxima para um consumo de 10 kWh/100 km. A bateria de 40 kWh demora 23 minutos para carregar dos 20% aos 80%, e inclui tecnologias como (V2G), que permite devolver eletricidade à rede, e (V2L) que permite ligar equipamentos ou eletrodomésticos que utilizem uma tomada 220 V.

No entanto a segurança é primordial para a Citroën e o facto de tornar um automóvel mais leve, utilizando materiais reciclados não compromete de forma alguma a segurança dos seus ocupantes. Laurence Hansen, Diretora de Produto e de Estratégia da marca esclarece que: “Nós somos um construtor de automóveis, nunca poríamos em risco a segurança dos nossos clientes.”

a segurança é primordial para a Citroën: fazer um automóvel mais leve, com materiais reciclados não compromete a segurança dos seus ocupantes

Apesar do seu aspeto polarizador, se o Oli passasse à fase de produção, neste momento teria compradores certamente. Sem adiantarem um valor concreto, os responsáveis pelo seu desenvolvimento dizem que teria o preço de um atual B-SUV, mas o problema é que ainda demoraria pelo menos quatro anos para estar disponível, e durante esse período muita coisa poderia mudar. Para já, o primeiro elemento que vamos ver nos próximos modelos será a nova imagem e logótipo, que nos remete para o original de 1919, que foi subtilmente renovado.