Os Automóveis e as Exposições Universais: A Expo 1962 em Seattle

17/08/2023

Após a Expo 58 de Bruxelas houve um retomar da regularidade na organização das exposições coordenadas pelo Bureau International des Expositions, até 1970 realizaram-se mais três eventos de carácter mundial, Seattle em 1962, Montreal em 1967 e Osaka em 1970. Desta vez vamos focar-nos em Seattle e, apesar de nos referirmos a esta exposição como Expo 1962, a sua designação oficial é de Century 21 Exposition. Neste evento houve um foco na tecnologia do futuro e na corrida espacial, tanto que o tema da mostra é Man in the Space Age (o Homem na Era Espacial).

Contrariamente às exposições tratadas anteriormente há a particularidade da Century 21 Exposition ser nas categorias instituídas na convenção de Novembro de 1928 do BIE, uma exposição geral de segunda categoria, o que significa que não foi permitido a nenhum país convidado a construção de um pavilhão. Neste caso não existem projectos arquitectónicos próprios dos países, mas sim áreas edificadas com espaços definidos onde estes puderam erguer a sua representação.

A Century 21 Exposition contou com mais de 40 representações nacionais reunidas em torno do Washington State Coliseum e da International Plaza, numa área bastante reduzida do certame, sendo a maior parte do espaço dedicada à ciência, indústria, arte e entretenimento.

A ciência e a indústria estavam presentes um pouco por toda a área da exposição, eram os anos de ouro para o automóvel americano, o que permitiu à General Motors montar o seu próprio espaço no central Washington State Coliseum e lá mostrar o que de mais avançado fazia. Vivia-se a era das barbatanas e elementos de inspiração aeronáutica, da experimentação de métodos de propulsão como as turbinas de gás ou mesmo de sistemas alternativos aos tradicionais volante e pedais, havendo um veículo que sintetizava todas estas tendências, o GM Firebird III que, claro está, esteve em exibição em Seattle naquele verão de 1962.

O Firebird III era o terceiro de uma linha de veículos experimentais movidos por turbina de gás que havia iniciado em 1953 com o Firebird XP21 e cujo objectivo era essencialmente testar a viabilidade da utilização deste tipo de propulsão em veículos automóveis.

Apesar de ser uma das estrelas em Seattle o Firebird III havia sido inicialmente construído em 1958 e apresentado na GM Motorama de 1959, mas as suas diversas características inovadoras fizeram com que ele permanecesse durante alguns anos como um dos símbolos da capacidade técnica da indústria automóvel americana.

A GM não poupou nos recursos nem na tecnologia ao desenvolver este último Firebird que, além do motor de turbina Whirlfire GT-305 que debitava cerca de 225 cv, possuía um motor de combustão de dois cilindros opostos de 327 cc e potência de 10 cv feito em alumínio para operar o ar condicionado, os controlos e diversos acessórios do veículo. As características técnicas inusitadas não se ficavam por aqui, existia ainda o Unicontrol que consistia numa alavanca que concentrava as funções de direcção, aceleração, travagem e selecção de posição da caixa automática Hydra-Matic. No capítulo da suspensão esta funcionava com um sistema hidráulico às quatro rodas de forma a manter uma altura constante ao solo mesmo quando sujeito a pesos mais elevados. O sistema hidráulico central era a base do funcionamento tanto da suspensão como do Unicontrol.

Para travar o Firebird III a General Motors desenvolveu o sistema de travagem Turb-Al que consistia em tambores fixos nas jantes de liga específicas que permitiam também o arrefecimento através de 36 passagens de ar, para auxiliar a travagem existiam ainda flaps instalados na carroçaria, tal como numa aeronave. Convém referir que a travagem Turb-Al possuía um sistema anti-bloqueio das rodas dependente dos sistemas hidráulicos e electrónicos do automóvel.

Este veículo experimental contava com um sistema de abertura remoto que ao ser accionado levantava a porta e a bolha da carroçaria em fibra de vidro do Firebird, mas a característica mais marcante deste carro era o seu pioneiro sistema de cruise control e condução autónoma que utilizava os sistemas electrónicos instalados no Firebird III que funcionavam combinados com os dispositivos instalados na pista que a GM possuía no seu centro de testes em Warren no Michigan. Foi também construído um troço experimental em New Jersey para testes num ambiente de trânsito real. Um protótipo destas Automatic Highways foi também instalado na Century 21 Exposition de Seattle de forma a salientar o seu potencial e demonstrar as capacidades do Firebird III.

Para encimar este concentrado de tecnologia a equipa de designers chefiada por Harley Earl desenhou uma carroçaria que mais parecia uma aeronave de caça que um automóvel. O desenho para além da clara inspiração aeronáutica foi também testado em túnel de vento para obter um bom coeficiente aerodinâmico.

O gigante americano com esta linha Firebird mais não quis que criar laboratórios sobre rodas, como afirmam na brochura do Firebird III que foi distribuída durante a Expo 62 em Seattle, e deste modo apurar que tecnologias podiam ser desenvolvidas e adoptadas nos seus veículos de produção nos anos e décadas seguintes. Este protótipo deixou também o seu legado no seio da GM com algumas soluções estéticas que foram retomadas em veículos de série e, claro está, na designação que foi mais tarde adoptada nos vistosos Firebird da Pontiac.