‘Class One’ visitou DTM: O futuro passou por Hockenheim?

16/10/2017

Já foram vistas imagens dos Super GT a rodar na pista alemã de Hockenheim, que recebeu este fim-de-semana a final do DTM. Se no papel é apenas um ‘doce’ para os adeptos, o seu significado pode ser muito mais profundo que esse… a Class One.

A ideia começou a ser falada em 2014, aquando dos primeiros acordos entre as partes interessadas. A ideia da Class One era juntar o DTM e os Super GT numa categoria única, esperando que os americanos do IMSA se juntassem para fazer um campeonato de turismos à escala mundial. Nesse ano foram acordados os princípios dos regulamentos técnicos entre os responsáveis dos campeonatos germânicos e nipónicos, ficando à espera da resposta dos norte-americanos.

Pretendia-se uma classe que mantivesse a espectacularidade dos DTM/Super GT, criando uma base conjunta para um campeonato mundial, de custos mais reduzidos, atraindo assim marcas para o campeonato.

A vontade das partes era que o processo de aproximação ficasse concluído em 2017. A parte do chassis e da aerodinâmica era para ser mantida semelhante ao que existia (e existe) em ambos os campeonatos e a grande diferença seria o uso de um motor de arquitectura comum, de 4 cilindros, turbinado, com potência de 600cv.

A ideia entusiasmou toda a gente mas os avanços e recuos sucederam-se. Os americanos nunca deram um passo em frente e preferiram apostar no reforço dos seus campeonatos (que cada vez mais ganham relevo), os rumores apontavam que os japoneses também olhavam com muito interesse para os GT3, e os alemães resfriaram os intentos, adiando a introdução dos novo motores para 2019, de forma a diluir os custos ao longo do tempo.

Com todas estas indefinições, começou-se a falar que seria o WTCC a adoptar a Class One, o que obrigaria as marcas que quisessem participar no WTCC a desenvolver novas máquinas. As marcas presentes no DTM e nos Super GT usam como base modelos ‘premium’, enquanto as marcas do WTCC apostam em modelos de gama média. Existam alguns pormenores da Classe One que iam contra a filosofia do WTCC.

A notícia que veio mudar completamente este cenário de indefinição e marasmo foi o anúncio da saída da Mercedes do DTM no final de 2018, passado a apostar no campeonato de carros elétricos, a Fórmula E. Isto fez por certo soar os alarmes na ITR, que até então parecia algo relutante a juntar-se aos japoneses. Com a saída da Mercedes, o campeonato ficaria reduzido a apenas duas marcas o que não agrada nem aos responsáveis nem aos adeptos. Audi e BMW tornaram público o apoio à mudança para a Class One e se em junho, Gerhard Berger afirmava que a Class One não era o principal foco do DTM, as coisas parecem ter mudado.

Aponta-se que 2019 seja um ano de transição e as marcas alemãs já se mostraram receptivas para a mudança de motores e chassis, para atrair os construtores japoneses, sendo que os DTM estão concebidos para corridas de 60 minutos e os Super GT para corridas de Endurance. Os próximos dois anos terão de ser de trabalho árduo para encontrar uma base que permita o ‘casamento’ assim como a entrada de novas marcas. Para isso terá de ser criada uma competição atrativa para os fãs, com o foco nas capacidades dos pilotos, mas cujos gastos e complexidade não sejam exagerados (o exemplo da F1 é o mais pertinente, com uma regulamentação tão complexa a nível de motores, que só a Honda arriscou com os resultados que se conhecem. Ninguém quer entrar num campeonato para perder).

O primeiro passo rumo à Class One foi dado este fim-de-semana com as duas máquinas japonesas a rodarem com as alemãs, naquilo que é considerado pelos responsáveis como um sinal sério de compromisso para um futuro comum. E pelas primeiras imagens, os fãs têm motivos para sorrir.

Fábio Mendes/Autosport