Um novo rumo com pouca unanimidade na Fórmula 1

02/11/2017

A Liberty Media apresentou as bases para os novos motores a partir de 2021. Era um dos anúncios mais esperados, dado o pouco carinho que estas unidades têm sido alvo.

A ideia seria introduzir motores mais baratos, mais ruidosos e mais simples. O resultado foi o suposto aproveitamento dos V6, 1.6 Litros atuais, retirando a unidade de recuperação de calor, aumentando a capacidade da unidade de recuperação de energia cinética e um aumento de 3000 rpm.

Em teoria faz sentido pois a arquitectura do motor mantém-se, retira-se a parte mais complexa e aumenta-se som dos motores devido à mais elevada rotação, que passa de 15.000 para 18.000 rpm. Os custos de desenvolvimento seriam relativamente menores, e esta fórmula simplificada poderia atrair novos construtores (a Aston Martin parece ter gostado do que ouviu, e espera-se que a Audi ou a Porsche também se interessem).

Mas para os responsáveis da Mercedes e da Renault, está-se a apostar na solução errada. Segundo Toto Wolff, este novo motor proposto implicaria custos de desenvolvimento e produção significativos, longe da redução anunciada e isso ia levar a um aumento da fatura para todas as equipas da F1. Cyril Abiteboul é da mesma opinião e afirmou que o que foi anunciado implica a fabricação de um novo motor e que a proposta da Renault (que consistia em manter os mesmos motores, acabando com as restrições no fluxo de combustível, o que permitiria aumentar as rpm e assim o som dos motores) feita há seis meses é aquela que mais facilmente pode ser aplicada sem grandes custos extra.

Retirar o MGU-H pode parecer uma boa solução mais vai obrigar as equipas a repensar o MHU-K e o próprio motor. É uma ‘regra’ antiga da F1… quanto mais tempo os motores se mantiverem, mais baratos se tornam. A tecnologia atual é interessante para construtores (e principalmente para os consumidores), já começa a atingir o ponto de convergência ao nível da competitividade dos vários motores e aumentando as RPM, poderemos ter motores que ‘cantem’ melhor. O aviso da Mercedes e Renault não é descabido. Mas a ideia deverá passar por atrair novos construtores que estão com algum receio da tecnologia necessária.

Com este modelo simplificado os receios de ser a ‘nova Honda’ poderão desvanecer-se aos olhos dos interessados. Há certamente ainda muito a retirar destes motores que apenas são alvo de críticas dos fãs por serem pouco ruidosos e por obrigarem a constantes penalizações. Se ‘cantassem’ melhor e não fossem atribuídos 94 lugares de penalização por troca de componentes, ninguém olharia de lado para eles.

Outro grande problema nesta reforma que está em curso refere-se aos prémios das equipas e do estabelecimento de um teto orçamental. A questão do tecto orçamental nunca foi consensual e vem desde os tempos de Max Mosley. Quem gasta muito quer continuar a gastar e quem não pode quer ver limites, para se aproximarem do topo. A Force India é a mais interessada nesta ideia, dada a performance que apresentam com menos recursos. Se todos tivessem o mesmo orçamento a Force acredita que daria luta às grandes do paddock. Mas convencer equipas como a Mercedes, que gastou mais de 300 milhões para garantir o título no ano passado (sem contar com os custos de desenvolvimento da unidade motriz) a gastar menos será tarefa complicada.

Mais complicado só mesmo a questão da renegociação dos prémios. No ano passado a F1 deu às equipas mais de 914 milhões de euros em prémios. O problema é que 55% deste valor ficou dividido por 4 equipas. A Ferrari continua a receber mais, mesmo não vencendo campeonatos (graças a um famoso prémio por antiguidade) seguindo-se a Mercedes, Red Bull e McLaren Com isto, sobram pouco menos que 45% a dividir por 6 equipas. Dividir os prémios de forma equitativa levaria a um tombo doloroso nas finanças das equipas grandes.

A Liberty Media defende-se com a possibilidade de permitir melhores corridas, o que implicará mais patrocinadores mas já todos imaginam a reação das equipas quando forem confrontadas com esta proposta de perderem dinheiro que para elas é certo.

A Liberty veio com vontade de mudar o paradigma actual, mas se os próprios fãs torcem o nariz a mudanças imagine-se equipas que já tem estruturas confortavelmente montadas sobre este sistema. As vozes discordantes surgem com mais frequência e há quem questione os gastos da Liberty em eventos como a demonstração em Londres ou a compra de um túnel de vento para servir a equipa técnica chefiada por Brawn.

O que parece certo é que estas propostas vão implicar muita discussão e não serão fáceis de implementar e quem ninguém se espante se as ameaças de sair da F1 regressarem.

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