Como tornar Lisboa mais amiga de peões e bicicletas? As propostas de doze associações

08/05/2022

Aumento da largura dos passeios, mais vias dedicadas para a circulação de bicicletas, redução da velocidade do tráfego rodoviário, mais zonas 30 km/h, restrição do acesso automóvel ao centro histórico: algumas das medidas do documento assinado por doze associações para a acessibilidade de Lisboa.

Um conjunto de doze associações encabeçadas pela MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta assinam um documento que defende a necessidade de a cidade de Lisboa efetuar alterações ao modo como a sua mobilidade está definida.

“Atravessamos hoje um momento histórico — perante a emergência climática, a poluição atmosférica que afecta gravemente as populações a ela expostas, e a urgência de reduzir a dependência de combustíveis fósseis — em que são necessárias mudanças drásticas na forma como usamos a cidade de Lisboa e nela nos deslocamos”, refere a MUBi.

Considerando estes desafios, a MUBi identificou um conjunto de medidas prioritárias a implementar na cidade de Lisboa.

Estas recomendações são subscritas por 11 entidades promotoras do ambiente, mobilidade e cidades mais seguras e acessíveis para todos: ACAM – Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, ANP|WWF – Associação Natureza Portugal, APSI – Associação Para a Promoção da Segurança Infantil, Bicicultura, Caracol POP, CICLODA, Estrada Viva, GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, Mulheres na Arquitectura, Quercus e Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

O documento “Lisboa: Por Uma Cidade Viva e Acessível” define quatro eixos fundamentais para passar das palavras à ação e construir uma cidade cada vez mais acessível para quem nela se movimenta, trabalha e queira dela usufruir: 1) Planear o futuro; 2) Proteger o dia-a-dia; 3) Desenhar para todos; 4) Ativar a mobilidade.

Estes eixos traduzem-se em 34 medidas a implementar para que possamos, progressivamente, ter uma cidade mais humana, segura, descarbonizada, sustentável e mais preparada para fazer face aos desafios presentes e futuros.

Assumindo esta urgência de passar à acção, a associação MUBi pretende também assim influenciar e colaborar no planeamento e as políticas de urbanismo e mobilidade na cidade de Lisboa, sugerindo um modelo de cidade que, com as devidas adaptações, poderá ser útil para outras cidades do país.

Inês Pascoal, presidente da MUBi, recorda que “estas recomendações tornam-se ainda mais relevantes numa altura em que Lisboa é uma das três cidades portuguesas escolhidas para integrar as 100 cidades da missão da União Europeia com impacto neutro no clima até 2030”.
Sendo a cidade viva e acessível o foco principal do documento, Inês Pascoal, salienta que “a acessibilidade é uma condição fundamental para uma cidade justa, sustentável, estimulante e onde os recursos são usados de forma eficiente, promovendo um ambiente urbano saudável”.

O DOCUMENTO SUGERE MEDIDAS COM O INTUITO DE PLANEAR O FUTURO DA CIDADE, “PROTEGER O DIA-A-DIA DAS PESSOAS, DESENHAR A CIDADE DE FORMA EQUITATIVA E ATIVAR A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL”.

Passeios mais largos para Lisboa

São diversas as medidas propostas, entre as quais a construção de passeios mais largos e de vias dedicadas à circulação de bicicletas, dado que se estima que 70 a 80% do espaço urbano esteja alocado ao automóvel.

O documento “Lisboa: Por Uma Cidade Viva e Acessível” considera que todos os bairros devam ter, “pelo menos, uma rua pedonal”.

“Considerar a lógica do ‘road diet’, ou seja, estreitamento da rodovia, sempre que possível, transformando faixas de rodagem com 2 + 2 em 1,5 + 1,5 (solução de 3 vias, com a via central dedicada a multiusos: viragens à esquerda, ilhas para peões, arborização…)”, indica o documento que explica que esta lógica devia, “por exemplo, ser considerada na Av. de Roma, permitindo que as viragens à esquerda se façam a partir do centro, motivando a acalmia de tráfego sem prejuízo da sua fluidez e captando espaço rodoviário para os modos ativos ou transporte público”.

Velocidade de circulação mais baixa

As associações propõem igualmente a redução da velocidade do tráfego, implementando a velocidade máxima de 30 km/h em toda a cidade (exceptuando-se apenas as vias definidas no PDM de Lisboa como Rede Rodoviária Nacional de 2º nível e superiores).

Outra ideia lançada: “Dialogar com as apps de navegação para garantir que as características das vias são vertidas nos sistemas e que as ruas de acesso local são identificadas como ruas 10 ou 20 km/h, evitando assim que o tráfego de atravessamento seja encaminhado para ruas locais”.

Menos quantidade de veículos na cidade

Outra sugestão que consta do documento consiste em “reduzir o volume de tráfego de forma generalizada na cidade”, agravando “o valor do estacionamento para visitantes e o valor dos dísticos para residentes”.

“Restringir o acesso automóvel ao centro histórico, implementando uma Zona de Acesso Automóvel Reduzido e aumentando as ruas pedonais” é também um dos pontos referidos.

“Implementar estacionamentos para bicicletas seguros e de longa duração em zonas residenciais com edificado mais antigo” é outra recomendação.

O documento “Lisboa: Por Uma Cidade Viva e Acessível” pode ser descarregado aqui em baixo.