Os automóveis e as Exposições Universais: A Expo 67 em Montreal

10/07/2021

A Expo 1967 é um caso curioso na história das exposições tuteladas pelo Bureau International des Expositions, primeiro porque originalmente era para ter sido realizada em Moscovo e segundo porque detém números recorde de entradas, que não foram superados até aos dias de hoje (mais de 50 milhões de visitantes).

A URSS tinha anos antes confirmado a organização da Exposição Universal de 1967 com o intuito de celebrar os cinquenta anos da Revolução de Outubro e demonstrar a validade e força do poder soviético, no entanto em 1962 retira-se do processo, possivelmente motivada pelo aumento da tensão da chamada Guerra Fria. Desta forma em Novembro de 1962 os membros do BIE reuniram-se e resolveram atribuir a organização da Expo 67 a Montreal.

A exposição com o tema O Homem e o seu Mundo comemorava também os 325 anos da fundação da cidade e o centésimo aniversário da criação da confederação canadiana, tendo decorrido entre 28 de Abril e 29 de Outubro. Entre os pavilhões temáticos existia um intitulado de Man the Producer que explorava a relação da humanidade com os recursos existentes no planeta. A área expositiva deste pavilhão subdividia-se em três secções, Recursos para o homem, Progresso e Homem no controle?.

É precisamente para os conteúdos do Progresso que a organização da exposição coloca, nove meses antes da abertura da exposição, o desafio à Alfa Romeo de criar uma viatura para figurar no pavilhão. Na encomenda os organizadores pedem à marca italiana “a maior ambição do homem moderno em termos de automóvel”, ou seja, um produto que representasse o que de melhor se fazia no sector e tivesse soluções de design e técnicas de vanguarda e, por fim, que fosse possível ser posto em produção sem grandes alterações face ao apresentado.

A Alfa Romeo com um prazo tão apertado para a entrega do veículo não teve tempo para desenvolver uma nova plataforma e motorização, logo optou por uma solução já existente, entregando assim à Carrozzeria Bertone o chassis de um Giulia Sprint GT com um motor 1600 TI de dupla árvore de cames com 90 cv para que o carroçador tratasse das questões do design. Nos quadros da Bertone na altura estava Marcello Gandini que nos anos de 1965/66 trabalhara no desenvolvimento de viaturas como o Lamborghini Miura, Porsche 911 Roadster ou Jaguar FT, tendo-lhe sido também entregue a chefia deste projecto. O resultado foi um elegante coupé que se destacava pelas suas aberturas no pilar C e pelos faróis parcialmente cobertos por pequenas grelhas abertas na carroçaria. Só foram produzidos os dois protótipos que figuraram na Expo 67 numa sala repleta de espelhos que davam uma sensação de infinitude.

A resposta do público e da imprensa ao coupé foi muito positiva, o que fez com que a marca de Arese considerasse a produção do modelo, facto que viria a suceder a partir de 1970, já com a denominação oficial de Montreal, pois os protótipos presentes na Expo ainda não ostentavam qualquer designação oficial. Nesta “segunda vida” o Montreal sofreu algumas alterações e passou a adoptar um motor de 2.6 litros V8 derivado do Tipo 33 de competição, o que ainda aumentou a aura em volta do modelo.

Um dos protótipos da Expo 67 encontra-se actualmente exposto no Museo Storico Alfa Romeo em Arese e o outro nas reservas à espera de um merecido restauro.