Quando o Citroën DS salvou o General de Gaulle

23/04/2019

Certos acontecimentos, totalmente inesperados, acabam por ser mais eficazes do que qualquer campanha publicitária. O atentado que visou o General de Gaulle em 22 de Agosto de 1962 foi um desses acontecimentos. O beneficiário dessa publicidade, um automóvel, cujas qualidades já eram unanimemente reconhecidas: o Citroën DS.

A assinatura dos acordos de Evian em 1962, pelos quais a França reconhecia a independência da Argélia, pondo fim a oito anos de guerra colonial, valeram ao presidente francês da altura, o General De Gaulle, uma grande hostilidade por parte dos defensores da Argélia francesa, nomeadamente os membros da OAS (Organisation Armée Secrète), organização radical responsável por uma série de operações violentas, tanto em França como na Argélia. Uma dessas operações: um atentado contra o presidente francês…

No dia 22 de Agosto de 1962, o presidente Charles de Gaulle, a sua esposa e o seu genro, saem do palácio do Eliseu a bordo de um Citroën DS 19, seguido por outro DS tripulado por dois polícias e um guarda-costas, sob a escolta de duas motas da gendarmerie.

Quando os dois Citroën e as duas motas chegam à localidade de Clamart, um grupo de 12 homens da OAS abre fogo contra o DS presidencial, furando dois pneus. Enquanto que o genro dos De Gaulle grita para estes se baixarem, o motorista, Francis Marroux, carrega no acelerador conseguindo manter a trajectória e fugir da zona de tiros.

Mas o atentado não terminou. Eis que outro Citroën, um ID 19, lança-se numa perseguição ao DS do general, colocando-se então entre os dois DS da presidência. Vários tiros são disparados, mas uma vez mais, nenhum atinge os ocupantes. O ID dos atacantes acaba por desistir e cessa a perseguição. O atentado da OAS fracassou…

Com cerca de 14 balas no Citroën DS (praticamente de série e sem blindagem) e dois pneus furados, o motorista conseguiu acelerar, sair da cilada sem perder o controlo e ainda escapar a outro atacante! Um desfecho destes não teria sido possível com outro automóvel, fosse ele um Mercedes-Benz ou mesmo um Rolls-Royce. É que a solução técnica que permitiu ao motorista manter o controlo é uma especificidade Citroën: o sistema hidráulico. A suspensão e a direcção, exclusivas do DS, foram decisivas para este seguir viagem com dois pneus furados e evitar um desfecho trágico, sem menosprezar o sangue frio do condutor, igualmente decisivo.

Depois de uma caça ao homem de vários dias, os autores do atentado foram detidos e condenados. O General De Gaulle manteve-se fiel ao DS até ao fim, tendo deixado a presidência em 1969 e falecido no ano seguinte. O Citroën DS continuou a sua produção até 1975 e o sistema hidráulico foi-se aperfeiçoando até aos inícios do século XXI.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.