Líder da VW polémico: “Veículo a hidrogénio não é solução para clima”

31/05/2021

O desenvolvimento de veículos a hidrogénio continua a ser uma aposta de vários construtores e a tecnologia de fuel cell é vista como o futuro dos transportes. Todavia, essa não é a opinião do responsável máximo pela Volkswagen.

Herbert Diess declarou que os veículos movidos a pilha de combustível não são a solução para um futuro com mobilidade livre de emissões, tendo, inclusive, colocado em maiúsculas o advérbio de negação.

“O carro a hidrogénio NÃO é comprovadamente a solução para o clima. No transporte, a eletrificação prevaleceu. Debates falsos são uma perda de tempo. Por favor, ouça a ciência!”, escreveu Diess no Twitter.

O post foi especialmente dirigido aos candidatos à sucessão da chanceler alemã Angela Merkel para o cargo de chanceler neste outono, incluindo Armin Laschet, líder da União Democrática Cristã da Alemanha (CDU); Olaf Scholz, ministro das finanças do país; e a líder do Partido Verde Annalena Baerbock.

O tweet de Diess também visou Andreas Scheuer, ministro alemão dos transportes e das infraestruturas digitais, e incluiu um link para um artigo no jornal de negócios alemão Handelsblatt relatando um estudo apoiando as afirmações de Diess.

O que diz o estudo sobre hidrogénio

Esse estudo foi conduzido pelo Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (Potsdam Institute for Climate Impact Research – PIK). O relatório chegou à conclusão que o desenvolvimento de automóveis de passageiros à base de hidrogénio seria prejudicial ao clima, pelo menos por enquanto e a médio prazo.

Os pesquisadores do PIK dizem que os combustíveis à base de hidrogénio são ineficientes, caros e a disponibilidade das matérias-primas necessárias não é confiável, recomendando que os veículos elétricos a bateria (os BEV) sejam o foco de uma estratégia de mobilidade verde.

Para uma reviravolta ecológica na mobilidade, este estudo recomenda antes os elétricos a bateria (BEV). O hidrogénio a médio prazo, não é defendido pelo relatório.

Numa entrevista publicada em 6 de maio pelo “The Guardian”, Romain Sacchi, membro da equipa de estudo da PKI, declarou que, se produzidos com as atuais “mixes” de eletricidade na Europa, os combustíveis à base de hidrogénio aumentariam – e não diminuiriam – as emissões de gases de efeito de estufa, tendo como comparação o uso de combustíveis fósseis.

A VW tem se manifestado repetidamente contra o hidrogénio como uma opção para o futuro próximo.
Audi h-Tron quattro

Desde o início da transição energética, o Grupo Volkswagen tem estado mais focado nas viaturas 100% elétricas (BEV) do que nos veículos a pilha de combustível, apesar de alguns concepts, caso do Audi h-Tron quattro.

Há cerca de um ano, a marca alemã chegou mesmo a publicar uma comparação entre os dois tipos de propulsão, concluindo que os FCV (Full Cell Vehicles) são “muito ineficientes – quer em termos de eficiência quer de custos operacionais”.

Fonte: Volkswagen

Já numa entrevista ao Financial Times, Diess afirmou, em março, que a tecnologia de fuel cell nunca seria eficiente o suficiente para uma utilização generalizada.

Noutro post, também no Twitter de 11 de fevereiro, Diess disse que era hora de os políticos aceitarem os factos da ciência e chamou o hidrogénio de “muito caro, ineficiente, lento e difícil de distribuir e transportar”.

“Afinal de contas: não há nenhum automóvel a hidrogénio à vista”, rematava o post.

Apesar desta posição, o facto é que na indústria automóvel têm sido vários os investimentos nas células de combustível provenientes de diferentes quadrantes, casos de Hyundai, BMW, Renault, Honda, Bentley, Jaguar Land Rover, Iveco, Toyota e Grupo Stellantis (com as suas marcas Peugeot, Citroën e Opel).