Electrificação de clássicos: Sim ou não?

11/01/2019

Para todos os leitores que nutrem uma paixão por automóveis clássicos, uma era de dúvidas e contra-sensos aproxima-se a grande velocidade.

Multiplicam-se as cimeiras, conferências e acções em torno das alterações climáticas e respectivos programas a longo, médio e curto prazo, com vista a diminuir a emissão de gases poluentes e consequente aquecimento global, assuntos estes que estão na ordem do dia.

Se, por um lado, não há qualquer dúvida de que os nossos veículos do dia-a-dia vão sofrer alterações radicais num futuro próximo, surge uma questão de importância extrema: os automóveis clássicos, legado da mobilidade como a conhecemos hoje, terão de se confinar a um museu, sem ordem de saída ou sequer de aquecer o antigo motor de combustão?

As restrições à circulação de automóveis com motores convencionais já estão a ser postas em prática e tudo indica que nos próximos tempos vamos assistir a uma multiplicação das mesmas.

Haverá uma janela de exceção?

Se os nossos governos e as suas políticas não considerarem uma janela de exceção ou no mínimo de tolerância para com os veículos clássicos e de interesse histórico, podemos vir a ter um cenário onde a circulação destes se cinja a recintos fechados ou, na pior das hipóteses, à total proibição de circulação.

Irá depender bastante das “regras do jogo” e de como estas serão aplicadas, quer a nível da definição de espaços destinados à circulação destas viaturas, aos impostos que poderão ser aplicados aos veículos de combustão interna independentemente do seu interesse histórico, o preço dos combustíveis fósseis no futuro, entre uma infinidade de variáveis que só o futuro poderá desvendar.

Eletrificar a história?

Serve esta introdução, que já vai longa, para levantar a questão que alude o título deste artigo: alterar a motorização de um automóvel clássico, nomeadamente retirar o velho motor a gasolina ou gasóleo e colocar no seu lugar um moderno motor elétrico, será o passo natural a seguir e com vantagens associadas, ou será inaceitável roubar a originalidade a estes veículos, em que um transplante de coração retirará toda a alma e propósito ao veículo e, para tal, mais vale relegá-lo a um museu para a eternidade?

Como em quase tudo na vida, este é um tema que divide opiniões, e por certo haverão argumentos válidos de ambas as partes. O que é certo e sabido é que já muitas oficinas realizaram conversões em clássicos com vista à adaptação de motores elétcricos e actualmente até algumas marcas de automóveis já começaram a seguir esta tendência.

São exemplos disso a Jaguar ou a Aston Martin, com os seus programas de transplante ditos reversíveis, que permitem anular a modernização caso o proprietário do automóvel assim o deseje.

A eletrificação ou o museu?

Se alguns poderão dizer que é a evolução natural e que até será mais agradável a condução de um clássico com este novo tipo de motorização, afirmando que acrescenta mais à experiência do que propriamente a estraga, para mim o ponto de vista é simples. Um automóvel clássico só poderá ser considerado como tal se mantiver as suas características originais ou de época.

Até poderei fazer concessões a determinados componentes que permitam uma utilização mais facilitada dos automóveis antigos (p.e. ignição eletrónica, direcção assistida, ar condicionado), mas nunca à completa descaracterização dos mesmos.

Se chegarmos ao extremo da proibição de circulação? Prefiro guardar a lembrança de como eram os automóveis do passado e seguir em frente para as novas formas de mobilidade (que já têm e cada vez mais terão propostas apelativas). Visitar um museu de clássicos de vez em quando. Não faz sentido é vestir D. Afonso Henriques com jeans e t-shirt.

E a sua opinião sobre o tema? Faça-nos chegar através da caixa de comentários!

Pedro Cegonho / Watts On

 

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