A Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, a que nos referimos normalmente pelo seu diminutivo MUBi, faz hoje dez anos.
A origem do movimento está no blogue Massa Crítica. Foi através deste blogue que muitos utilizadores urbanos das bicicletas se começaram a encontrar. Primeiro era virtualmente, depois com encontros informais, para pedalar pelas cidades.
Em comum existia a vontade de mudar a cidade, tendo a bicicleta como um dos instrumentos para esse objetivo.
AUMENTAR O NÚMERO DE UTILIZADORES DE BICICLETA NÃO É UM OBJECTIVO EM SI, MAS UM EFEITO SECUNDÁRIO POSITIVO PARA UMA CIDADE MAIS SAUDÁVEL, BONITA, POÉTICA E EFICAZ.
No seu último comunicado, a a MUBi assume-se a favor do “reconhecimento do direito básico à não-discriminação negativa a nível legislativo e social, bem como a progressiva restauração da natural competitividade da bicicleta em meio urbano face ao automóvel”, mas demarcado-se do corporativismo mono-modal. “Gostamos de cidades e por isso gostamos de bicicletas.”
Um trabalho constante
O trabalho de uma associação que quer operar uma mudança de hábitos, mentalidades e enfrentar interesses instalados, nunca está concluído.
Ao longo desta década, a MUBi desdobrou-se em comunicados, petições, visitas a escolas, reuniões com ministros secretários de estado, autarcas, professores, empresários. Organizaram muitos eventos, alguns de confraternização, outros de índole cultural. A sua ação estendeu-se a vários centros urbanos portugueses, de norte a sul do país.
Um momento importante foi a adesão à European Cyclists’ Federation, cuja influência permite acompanhar mais de perto o que é decidido no Parlamento Europeu sobre estas matérias. Incluíndo as decisões tomadas pelos representantes portugueses. A participação da MUBi em vários programas europeus promoveu o intercâmbio com a realidade de outras cidades.
Resultados à vista
A importância do trabalho da MUBi refletiu-se, na alteração do novo Código da Estrada. Em 2014, incorporou todas as propostas da Associação.
A MUBi contribuiu também para a Estratégia Nacional para a Mobilidade Activa, bem como para os planos do governo, nas questões relacionadas com a mobilidade.
A qualidade e segurança do espaço público sempre foi uma das principais preocupações da MUBi. Um dos exemplos é este texto sobre os “Princípios de ação para a redução do perigo rodoviário dos utilizadores de bicicleta”. A associação defende também a introdução do Princípio da Responsabilidade Objetiva, na legislação portuguesa.
O seu trabalho não se restringiu à bicicleta, mas também na defesa dos peões. Continua em marcha o processo de sensibilização da CP para criar condições para o transporte das bicicletas em todos os seus comboios. Mas nos intercidades já é possível. Também o Metro e os operadores de táxi puderam contar com o apoio da MUBi no processo de adoção de novas práticas.
Entre outras iniciativas em vigor, destaca-se o Bike Buddy (um projecto de mentorado da utilização da bicicleta em contexto urbano, através do aconselhamento e acompanhamento de novos utilizadores, nas suas primeiras deslocações). O Sexta de Bicicleta é um incentivo ao uso da bicicleta pelo menos uma vez por semana. O Bike to School apoia várias escolas no sentido de proporcionar aos alunos uma forma segura de descobrirem o uso da bicicleta como meio de transporte para a escola. Este ano arrancou a Cidade Ciclável, uma mapa colaborativo online.
Muito por fazer. Venham mais dez.
Talvez ainda mais grave, as autoridades continuam a fazer “vista grossa” às infrações que colocam peões. Mas o discurso dos políticos mudou, mesmo se as suas palavras não são totalmente coincidentes com as suas decisões.
Ainda assim, se queremos dar a resposta certa no combate à crise ambiental, este é um caminho que não tem volta. E sem a MUBi, estaríamos muito mais atrasados neste caminho. Por isso, parabéns duplos, MUBi, pelo 10º aniversário, mas também pelo excelente trabalho para melhorar as nossas cidades. E as nossas vidas.