A invasão de bicicletas e trotinetas a que a capital francesa assistiu a partir de 2017 não foi muito diferente do que se viu por cá. Marion Lagadic estudou a realidade parisiense e mostrou as soluções encontradas

Em outubro de 2018, um ano depois de terem surgido as primeiras bicicletas partilhadas em Paris, havia 15 mil viaturas destas na capital francesa. O boom da micromobilidade naquela cidade provocou o caos, com a acumulação de bicicletas no espaço público e vandalismo, além da precariedade laboral dos funcionários. “Temia-se que estes operadores se tornassem uma ameaça à mobilidade”, admitiu esta sexta-feira, na Portugal Mobi Summit, Marion Lagadic, gestora de projeto da 6T Research, que tem vindo a estudar o evoluir do cenário em Paris. Uma situação em nada diferente à vivida em Lisboa, que só foi resolvida quando se preencheu o vazio legal que existia até então.

O principal desafio era criar regras e, ao mesmo tempo, ser eficiente. Em março deste ano, foi lançado na capital francesa um concurso público para atribuir licenças para trotinetas partilhadas e dos 16 operadores candidatos três obtiveram aprovação para funcionar durante dois anos, sendo essa licença precária e revogável. Cada um com cinco mil trotinetas a circular. Tal como em Lisboa, os utilizadores têm locais específicos para estacionar e, através da partilha de dados, o município vai apurando as necessidades específicas em termos de horários ou de zonas.

De acordo com dados recolhidos em 2019 e divulgados pela especialista, o utilizador de trotinetas partilhadas é homem, jovem e em profissões intelectuais. Em Paris, 42% dos utilizadores são ocasionais, ou seja, só recorrem às trotinetas entre uma a três vezes por mês, sendo que 23% das viagens são intermodais. Segundo o estudo de Marion Lagadic, sem trotinetas, 44% dos utilizadores teriam feito o percurso a pé, 33% teriam usado transportes publicos e apenas 4% teria recorrido ao carro.

Para a especialista, o recurso à soluções de micromobilidade será essencialmente uma opção de lazer e não uma alternativa ao carro. E levará ao aparecimento de novos serviços partilhados, como o “sharelock” (cadeado partilhado) e ao desenvolvimento de novas infraestruturas para circulação.

Curiosamente, atualmente em Paris os serviços de bicicletas partilhadas praticamente desapareceram, havendo apenas dois operadores. No entanto, foram as primeiras a aparecer e, segundo os dados de Marion Lagadic, em 2018, quando se deu o boom, o utilizador era homem, jovem e inexperiente no uso de bicicletas. Nessa época sem as bicicletas partilhadas, 42% dos utilizadores teriam usado transporte público e 25% teriam feito o percurso a pé.

Porque é que são os homens os principais clientes destes serviços? Aí está uma pergunta para a qual Marion Lagadic ainda não tem resposta.

Sofia Fonseca