Os estudos indicam que, com a pandemia da Covid-19, irá privilegiar-se cada vez mais o veículo particular na maioria deslocações urbanas. Mas as vendas de automóveis novos, com quebras para mínimos históricos de 2012, ainda não confirmam a tendência. A solução para quem procura comprar carro neste momento de crise pode estar no mercado de usados. Se é o caso e já decidiu que o seu próximo carro será em segunda mão, atenção aos sinais.

Com as finanças de rastos, a compra de automóvel usado pode ser a única solução para conseguir responder a novas necessidades de transporte. No entanto, a sua aquisição só deve ser concretizada após a ponderação cuidada de uma série de fatores que irão definir o negócio como bom ou mau – ou péssimo…

Assegure-se que que cumpre todas as etapas que o ajudam a fazer a melhor escolha possível. A começar na seleção. Exclua todos os modelos que aparentem vir a ter problemas. Descarte as viaturas que já exibem mazelas, defeitos e anomalias visíveis, ou que possam vir a degradar-se mais com o tempo. Realize uma pesquisa intensiva do automóvel mais indicado para as suas necessidades. E não se limite à sua zona de residência ou a áreas que conheça, muitas vezes existem boas oportunidades de negócio em zonas mais distantes que podem compensar a deslocação. Além de procurar nos concessionários, pesquise anúncios online, em jornais e revistas.

Garantia, porque não?

A garantia é obrigatória mesmo em produtos usados. Se der primazia a modelos que dispõem deste tipo de proteção, mesmo quando pode influenciar ligeiramente o preço final, está a garantir que ficam salvaguardados os riscos sobre avarias e consequentes despesas.

Encontrou o que procura

Selecionado o conjunto de negócios apetecíveis (deve sempre considerar mais do que uma hipótese), dê início às visitas. Lembre-se, a compra de um carro, mesmo usado, é um investimento quase sempre avultado. Demore o tempo necessário a inspecionar cada detalhe. Procure marcar o encontro durante o dia para aproveitar a luz solar e, se possível que não esteja a chover, pois a carroçaria molhada pode encobrir alguns defeitos.

Carroçaria

Verifique as portas do veículo. Abra e feche (o capot incluído) para certificar-se de que não produzem ruído, não estão desalinhadas ou se precisam de muita força para fechar. São sintomas de uma colisão que foi mal reparada. Mossas e diferenças de tonalidades na pintura, marcas de tinta, faróis mal encaixados, bolhas na pintura e riscos e desníveis dos painéis da carroçaria, também são sinais de alerta.

Amortecedores e pneus

Pressione os amortecedores para testar a sua firmeza. Depois de largar a carroçaria, se esta abanar mais do que uma vez é sinal de que não estão em boas condições. Verifique o estado dos pneus, se estiverem carecas representam uma despesa extra. Se apresentarem um desgaste irregular sugerem outros problemas: direção desalinhada ou chassis empenado.

 

Não dispense o ‘test-drive’ e… apite!

Apenas ao volante da viatura conseguirá identificar problemas que passam invisíveis ao olhar. É fundamental conduzir o veículo para detetar eventuais defeitos, anomalias ou falhas no comportamento e nas prestações do carro. Ao ocupar a posição de condução ajuste o banco e o volante à sua medida e verifique a qualidade de ambos e o funcionamento das suas regulações. Faça o mesmo com o seletor da caixa de velocidades.

Durante o teste de estrada (no mínimo, com trinta minutos de duração), comprove o estado e o funcionamento de componentes como os limpa para-brisas, sistema de iluminação e de som. Comprove que a buzina funciona. A ausência desta revela muitas vezes problemas de outra natureza nos sistemas do carro ou na coluna de direção.

Performances

Não se iniba de puxar pelo motor para ficar com a noção das suas performances, e aplicar os travões mais fortemente. Velocímetro, conta-rotações e mostradores das temperaturas dos líquidos devem ser vistoriados, bem como a quilometragem total. Passe por diferentes tipos de pisos e atente a ruídos anómalos, por exemplo nas travagens: ruído metálico contínuo em curva e sem recurso aos travões pode também significar necessidade de substituição de elementos deste sistema, como as pastilhas.

Procure eventuais falhas de aceleração e na engrenagem da caixa de velocidades. Enquanto conduz, largue o volante por alguns segundos para ver se direção foge – está desalinhada ou as rodas mal calibradas. Tente descer uma estrada inclinada com a segunda relação de caixa engrenada: o automóvel deve abrandar repentinamente sem a ajuda dos travões. Verifique os fumos de escape.

Interior à lupa

O interior de um veículo usado deve estar imaculado de defeitos escondidos. Verifique sempre o estado e a consistência da montagem dos plásticos que revestem as portas, tablier e a consola central, assim como, debaixo dos tapetes, onde se podem esconder diversos tipos de estragos, com a ferrugem entre os mais comuns.

Motor

A vistoria deve incluir o motor, o número do chassis (habitualmente gravado sob o capot), que deve equivaler ao que está constante no registo de propriedade do carro. Ao verificar este número, confirme que não existem sinais de soldadura ou colagem junto à placa de identificação. Aproveite para confirmar o bom estado geral das peças, das tubagens e de indícios de fugas de óleo. Um motor que se apresenta demasiado limpo pode ter sido alvo de limpeza para disfarçar alguma fuga.

Desgaste

Faróis, desembaciador, piscas, buzina, indicadores do painel e todo o sistema elétrico do carro devem ser testados. Verifique o estado dos cintos de segurança e de outros sistemas dedicados, como o Isofix para instalação de cadeiras para crianças. O desgaste dos componentes, pedais, volante e dos estofos deve ser condizente com a idade e o número de quilómetros do carro.

 

Inspeção e histórico

Os dados de revisões que estejam indicados no livro de manutenção (quando disponíveis) também podem dar pistas sobre este ponto, já que uma revisão feita com 50.000 quilómetros há dois anos num carro que tenha no presente poucos mais quilómetros pode indicar manipulação.

Consulte, na folha de inspeção, a existência de anotações e se estas estão resolvidas. Informe-se no IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes) sobre o historial do veículo. Confirme se o automóvel tem reserva de propriedade de empresa de crédito.

Bagageira

Abra a bagageira para confirmar que o portão da mala não apresenta funcionamento irregular (pode revelar uma ‘batida’ por trás) e que dispõe de todos os materiais que o automóvel deve comportar: pneu sobressalente, macaco, triângulo.

Documentos

No negócio, aceite apenas documentos originais, recuse papéis rasurados ou fotocópias. Leia tudo com atenção. Qualquer documento com a cláusula: «o cliente ao assinar este contrato assume que o veículo se encontra em bom estado de conservação», deve incluir referência a todos os defeitos do carro.

Regateie e bom negócio!

Cumpridas todas a etapas que lhe permitirão aumentar as probabilidades de realizar um bom negócio, também tem em seu poder uma lista completa dos pontos menos positivos do veículo em questão. Se não são em suficiente número para o desencorajar de avançar com a compra, use cada um deles para tentar renegociar o preço.