Admito: nem sempre a convivência com os senhores das duas rodas que fazem entregas ao domicílio foi a melhor, mas é graças a eles que a economia e a vida não se imobilizaram completamente nesta fase tão estranha da Humanidade.

Face à condição atual de reclusão (quase) obrigatória a que estamos dedicados, enquanto não abranda a pandemia do novo coronavírus (que por esta altura já não tem nada de novo), acabam por ser os rapazes de mochila às costas e os das empresas de distribuição de encomendas que impedem a total paralisação da economia e das vidas de quem precisa de algumas coisas, mas não tem paciência ou coragem de ir à rua, tentar abastecer-se no meio daquela que é a época mais estranha da Humanidade em muitas décadas.

Homens e mulheres que dedicam o seu tempo e esforço a levar bens essenciais – alguns nem tanto – para que outros usufruam dos mesmos merecem uma palavra de reconhecimento. Não só aqueles de serviços de entregas ao estilo de estafeta, como também os das companhias transportadoras. Sobretudo, imaginando que não terão a devida remuneração nestes tempos de guerrilha ao Covid-19, enquanto dão o ‘corpo às balas’.

Nesta fase, em que somos bombardeados com mensagens constantes para ficarmos em casa, porque é imperativo, é esse pessoal de transporte que dá ‘vida’ às ruas, entretanto despidas da azáfama usual. Por isso, porque também são uma parte importante das nossas vidas na atualidade, merecem este reconhecimento, um pequeno agradecimento.

O maior de todos, porém, estará reservado para a classe médica e científica – a primeira dando o que tem e não tem nos hospitais e, a segunda, ao trabalhar a contra-relógio para encontrar a vacina e/ou medicação que trave o vírus. São eles os primeiros a sofrer, longe de amigos ou família por longos dias, temendo com a invisível ameaça deste coronavírus.

Também aos jornalistas

Da mesma forma, também os jornalistas permanecem como fontes seguras de informação e de estoicidade. Uns trabalhando em casa, outros na rua, fazendo o seu trabalho para informar os outros, aquela que é a sua meta final. Essa é uma outra luta na ‘guerra’ ao Covid-19, a pandemia que ninguém viu aproximar vinda da China. É aos jornalistas que muita da população anseia agora por ver na televisão ou ler na palma da mão (ou em papel, a quem for possível), esperando boas novas de apaziguamento do vírus.

Também as bancas e quiosques que ainda se mantêm em funcionamento para vender notícias e cultura aos outros merecem o apreço de todos.

E os carros? Onde ficam no meio de tudo isto?

A resposta óbvia é… parados. Mas, na verdade, os carros continuam a circular. Na mente de quem os sente como paixão. É comum dizer-se que o Homem é feito de sonhos e ambições, os quais o confinamento não impede. Os carros, para quem os sente com o mesmo afinco como os jornalistas do meio, são também isso – uma forma de sonhar, escapulir pelas estradas desenhadas na imaginação, sejam à beira-mar ou numa montanha repleta de curvas. Esse é também o seu papel, caro leitor, sonhar com esse momento. Sonhar com a liberdade. Mesmo que a chave do seu carro seja a de um Opel Corsa de 2000 ou a de um Porsche 911 de 2019.