Especial Michael Schumacher: Ecos de grandeza

03/01/2019

Ninguém sabia ainda, mas no momento em que se sentou para pilotar o Jordan 191 de 1991 no GP da Bélgica, no sempre desafiante circuito de Spa-Francorchamps, Michael Schumacher estava a assinar o início de uma carreira lendária que o colocaria no topo das estatísticas como o piloto mais triunfante e galardoado de sempre.

Com sete títulos mundiais e 91 triunfos em corridas, o piloto alemão esculpiu aquele que foi o seu lugar na Fórmula 1, pese embora, como sucede com muitos dos grandes pilotos, nunca tenha reunido consenso entre os adeptos. Uma circunstância que gravita em torno dos grandes pilotos, como sucedeu anteriormente com Alain Prost, Ayrton Senna ou, nos dias de hoje, com Lewis Hamilton, muitas vezes desvalorizados pelos carros que utilizam.

Hoje, dia 3 de janeiro, Schumacher cumpre o seu 50º aniversário, não se sabendo ao certo como está o seu estado de saúde na sequência do grave acidente de ski que sofreu no final de 2013 enquanto esquiava na estância de Méribel, em França. A especulação é mais do que muita, uma vez que a família fornece poucas atualizações sobre o seu estado de saúde e nenhuma delas indicativa em concreto de como se encontra o piloto.

No entanto, os adeptos não esquecem a sua grandeza em pista, sobretudo dos termos em que esteve aos comandos de um Ferrari, marca mítica que ajudou a relançar na ribalta do sucesso da Fórmula 1.

Predestinado ao sucesso

A carreira de Schumacher iniciou-se nos karts, na pista de Kerpen, com a ajuda do pai, que se esforçou por dar aos seus filhos, Michael e Ralf, as condições necessárias para competirem nas fórmulas de promoção. Obtidos os primeiros sucessos, galgou categorias, marcando impacto em todas elas. No GP de Macau de 1990 teve um dos seus pontos altos, ao vencer o finlandês Mika Hakkinen no Circuito da Guia, depois de um incidente algo polémico – dois pontos que viriam a pautar a carreira de Schumacher na Fórmula 1: tanto Hakkinen, como futuro rival, como a polémica em diversos momentos da sua carreira. O passo seguinte, até 1991, foi a ascensão aos Sport-Protótipos com a equipa oficial da Mercedes-Benz, servindo numa formação de jovens pilotos ao lado de Karl Wendlinger e de Heinz-Harald Frentzen. E foi em 1991 que um golpe do destino colocou Schumacher no caminho do estrelato.

A EXPOSIÇÃO DO MUSEU FERRARI: ‘MICHAEL 50’

Em 1991, depois de uma altercação entre Bertrand Gachot e um taxista londrino, que levou à detenção do piloto, a equipa Jordan ficou com uma vaga livre para Spa-Francorchamps. Eddie Jordan, o diretor da jovem formação, que também se estreava nesse ano na Fórmula 1, foi ‘tentado’ por Willi Webber, empresário de Schumacher, a ‘experimentar’ o piloto germânico, garantindo que o mesmo já tinha experiência do circuito belga. Na verdade, soube-se depois, a primeira experiência de Schumacher no circuito foi de bicicleta, antes dos treinos livres do grande prémio! Mais espantoso ainda, na qualificação, Schumacher bateu o experiente Andrea de Cesaris e firmou o sétimo lugar na grelha para a corrida de domingo. Não iria longe, mais do que 700 metros, devido a problemas com a embraiagem do carro. Soube-se também mais tarde que Jordan, desacreditado de um bom resultado, tinha mandado instalar uma embraiagem já usada naquele monolugar.

No entanto, o talento chamou a atenção dos grandes ‘tubarões’ da F1 e na corrida seguinte, em Monza, Itália, já estava num Benetton-Ford, no lugar de Roberto Moreno e a dar trabalho ao experiente Nelson Piquet. O circuito das Ardenas sempre foi de resto, um local feliz para Schumacher, com o seu primeiro triunfo a ser conquistado ali mesmo, em 1992, também com a Benetton. Os primeiros tempos de rivalidade com Ayrton Senna também começaram aqui, chegando ao ponto de levar uma repreensão do brasileiro depois de um acidente entre ambos no GP de França, em Magny-Cours.

Alguns anos depois, em 1994, chegou ao primeiro título, obtido numa temporada polémica e trágica, devido à morte de Ayrton Senna (Williams). Na derradeira corrida, uma colisão com Damon Hill (Williams) deu-lhe o título, apesar da forma pouco ortodoxa como foi firmado. Mas justo. Na temporada seguinte, ainda na Benetton, dominou a temporada e, no final da época, procurando um novo desafio, rumou à Ferrari, equipa que procurava desesperadamente o título de pilotos que escapava desde 1979.

Schumacher obteve o seu sétimo e derradeiro título mundial de Fórmula 1 em 2004. Aqui em Monza, ‘Templo da Velocidade’, onde os adeptos italianos vibram com as prestações da equipa italiana.

Sem receio de abrir os cordões à bolsa e com o auxilio da Philip Morris International (dona da Marlboro, principal patrocinadora da equipa) e da Shell, Luca di Montezemolo, apresentou Schumacher como reforço da Scuderia para a temporada de 1996. Nos primeiros testes com o Ferrari 412 T2 com que Jean Alesi e Gerhard Berger competiram em 1995, somando apenas um triunfo (por Alesi no Canadá), mostrou-se surpreendido pela positiva com o comportamento do carro italiano e com a potência do motor V12, admitindo que era melhor do que o seu Benetton campeão e que teria sido campeão…

Em 1997 e 1998 esteve perto, mas em ambos os casos o título foi perdido na última corrida, sendo que no primeiro caso o desfecho foi tudo menos positivo, em sequência do contacto com Jacques Villeneuve (Williams) que acabaria por lhe valer a retirada de todos os pontos desse ano. Foi preciso esperar até 2000 para que o piloto obtivesse o tão desejado título, que repetiu com a Ferrari por mais quatro vezes: 2001, 2002, 2003 e 2004.

Abandonou a modalidade em 2006, depois de perder o título para Fernando Alonso (Renault), mas o ‘bichinho’ da F1 parecia ter ficado na mente de Schumacher e, depois de ‘atiçado’ pelo teste em 2009 para tentar substituir o lesionado Felipe Massa (atingido por uma mola do carro de Barrichello na Hungria), acabou por assinar por um novo projeto. Ambicioso.

O ‘Barão’… prateado

A 23 de dezembro de 2009, Schumacher surpreendeu o mundo ao anunciar seu retorno às corridas com a Mercedes (construída sobre a Brawn GP, ​​a equipa campeã de 2009), após três anos de ausência. Meses depois, em março de 2010, no Bahrein, todos os olhos estavam voltados para o homem que já havia conquistado sete títulos mundiais na Fórmula 1. Na mente de todos os observadores e fãs da F1 havia uma pergunta: seria Schumacher capaz de voltar à sua forma gloriosa contra uma nova geração de pilotos talentosos que apareceram nesse intervalo de tempo?

As perspectivas eram boas, já que o alemão voltou a encontrar-se com seu ex-diretor de equipa (e parceiro no sucesso) da Benetton e da Ferrari, Ross Brawn, e os esforços postos em pista pela Mercedes foram imensos. Portanto, tudo parecia pronto para um retorno bem-sucedido para Schumacher. Mas as coisas não eram tão simples para o piloto e sua nova equipa.

Redescobrindo a Fórmula 1

Quando encetou este projeto com o fabricante alemão, Schumacher tinha um plano de três anos, segundo o qual achava que poderia estar na luta pelo título em 2012. No entanto, ao longo desses três anos de volta às pistas, Schumacher raramente lutou sequer pelos lugares de pódio, não só sofrendo com carros que nem sempre eram competitivos e fiáveis, mas também lutando para lidar com uma nova era da Fórmula 1, com testes reduzidos e regras mais apertadas, sobretudo em termos de agressividade em pista.

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Schumacher deixou a Fórmula 1 em 2012 sem grandes glórias adicionais para o seu extenso currículo, deixando para trás algumas dúvidas quanto à validade de sua decisão de voltar à F1 em 2010. No entanto, ao invés de julgar a influência que esses três anos terão na perceção da sua carreira como um todo, parece mais apropriado lembrar os muitos ‘altos’ em mais de 20 anos de corridas no mais alto nível: 91 vitórias, 68 pole positions e sete campeonatos mundiais associados a muitas grandes atuações. Mas também tem alguns “baixos”, como as colisões com Damon Hill (1994) e Jacques Villeneuve (1997) ou o alegado “estacionamento” em La Rascasse (Mónaco) em 2006.

Como todos os grandes pilotos, estes são os dois lados de uma mesma moeda – herói e vilão -, que serão inspiração para muitas das histórias que irão alimentar a imaginação dos fãs nas próximas décadas. Mas, através desses registos, continua a ser o piloto de maior sucesso de todos os tempos na F1 e, certamente, uma das suas maiores figuras de todos os tempos.

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