Condição rara na Fórmula 1, Fernando Alonso reúne unanimidade quanto ao seu talento. O espanhol esteve 17 anos ao mais alto nível na modalidade rainha do automobilismo (embora não tenha competido em 2002, por ser piloto de testes da Renault) e sempre teve colado a si o rótulo de piloto competitivo e extremamente talentoso.

Mas, sendo Alonso um piloto que não raras vezes foi apelidado de fora de série, poderão parecer escassos os dois títulos mundiais obtidos na Fórmula 1, quando as suas potencialidades eram tão brilhantes em meados da década passada.

Os seus títulos foram alcançados em anos consecutivos – 2005 e 2006 –, sempre aos comandos de um Renault, no primeiro caso levando a melhor sobre Kimi Raikkonen (McLaren) e, no segundo, batendo o campeoníssimo Michael Schumacher (Ferrari). Deu-se aí o corolário máximo de uma carreira na F1 que tinha começado em 2001, aos comandos de um modesto Minardi, a pequena equipa de Faenza que ganhava em simpatia aquilo que não tinha em competitividade.

Orientado por Flavio Briatore, empresário e diretor de equipa Benetton e, depois, da Renault quanto esta adquiriu a formação com nome da marca de roupa, em 2002, Alonso foi colocado precisamente ao serviço da formação sedeada em Enstone (embora de nacionalidade francesa), assumindo um papel de piloto titular em 2003 depois de um ano apenas como piloto de testes. Desde logo confirmou o seu potencial com uma série de prestações excecionais e um triunfo no GP da Hungria desse mesmo ano, o que o catapultou para a ribalta.

Mas foi preciso esperar até 2005 para que o jovem Alonso almejasse o seu primeiro título, triunfando sobre Kimi Raikkonen, a quem o McLaren-Mercedes falhou demasiadas vezes para conseguir vencer o cetro. No ano seguinte, a concorrência foi outra: Michael Schumacher, que teve um 2005 para esquecer em virtude de um carro bem longe dos padrões que havia alcançado nos anos anteriores, fazia ressurgir uma vez mais a Ferrari. Uma arte que o alemão parecia dominar. Contudo, Alonso voltou a sorrir por último e no final do GP do Brasil de 2006, que encerrava a temporada, levantou a sua segunda taça de campeão de Pilotos.

Apostas falhadas

Depois, surgem alguns equívocos nas escolhas de Alonso. Em 2007 assina com a McLaren-Mercedes, equipa na qual ingressava também uma jovem promessa de nome Lewis Hamilton. Protegido de Ron Dennis, o então diretor da equipa britânica, Hamilton mostrou serviço bem depressa, rivalizando com o espanhol e lutando de igual para igual. Entendendo que Hamilton estava a ser favorecido no seio da formação, o clima entre companheiros de equipa arrefeceu bastante: o ponto mais baixo teve lugar no GP da Hungria de 2007, quando Alonso impediu que Hamilton conseguisse fazer uma última tentativa na sessão de qualificação para a corrida. A situação não caiu bem a Ron Dennis e, extremadas as posições, Alonso viria a sair no final do ano, regressando à formação ‘fetiche’, a Renault.

Contudo, cenário bem distinto em 2008 e 2009. Os dois monolugares estavam longe dos lugares cimeiros, com os únicos triunfos destes dois anos a surgirem em 2008: o primeiro num acidentado GP de Singapura e, o segundo, no GP do Japão. Na noite de Singapura, o regresso aos triunfos fo ensombrado, meses depois, pela controvérsia da viciação de resultados que se soube depois: Briatore terá ordenado a Nelson Piquet Jr, companheiro de equipa de Alonso, que batesse com o seu carro de forma deliberada para obrigar à entrada do safety car, manobra que viria a favorecer a estratégia de Alonso, que partiu de uma posição bastante recuada. A investigação subsequente da FIA afastou Briatore e Pat Symonds da modalidade.

Mas o sonho de muitos pilotos é ainda a Ferrari e, depois de muitos anos de especulação, o asturiano uniu-se à marca de Maranello em 2010. O primeiro ano foi quase de sonho, perdendo o título apenas na última corrida devido a um erro estratégico do muro das boxes da equipa italiana, que o colocou atrás do carro de Vitaly Petrov sem que o conseguisse ultrapassar. Seria o prenúncio do que viria a suceder em anos seguintes, pois mesmo com carros inferiores, o espanhol conseguiu lutar pelo triunfo por diversas vezes entre 2011 e 2014, este último o pior dos seus anos ao serviço da formação transalpina, também o primeiro com os novos regulamentos de motores V6 híbridos.

Desmotivado com a Ferrari, Alonso voltou a sentir o ‘encanto’ da ‘sereia’ McLaren, regressando à equipa em 2015, ano em que a união com a Honda era olhada com grande expectativa. Contudo, apesar das promessas de reedição dos anos históricos de sucesso da McLaren com a Honda, os louros não mais regressaram à formação britânica, com Alonso a ter de lutar, na maior parte das vezes, contra um binómio chassis-motor que estava muito distante, sequer, das equipas que lutavam pelos lugares do meio da tabela.

Da América a Le Mans: outras motivações

Em 2017, o primeiro sinal do descontentamento contundente com a F1: Alonso falhou o icónico GP do Mónaco para participar nas não menos lendárias 500 Milhas de Indianápolis num carro inscrito pela Andretti Autosport, mas com o nome McLaren. Na oval americana, uma vez mais, uma prestação de grande nível apenas para ser travado por uma falha no… motor Honda já na fase final quando era sétimo. Uma senda que nem do outro lado do Atlântico parecia ser quebrada. O conformismo com a sua ‘sorte’ era já tanto que o piloto foi encontrando outras formas de dar espetáculo: ora assumindo o papel de realizador da emissão televisiva (sem grande jeito), ora sentado a apanhar banhos de Sol, em ambos os casos depois de problemas mecânicos que o deixaram parado na pista…

Mantendo o seu foco principal na Fórmula 1, a sorte de Alonso parecia ter tudo para mudar com o anúncio da McLaren de que passaria a ter motores Renault para o ano de 2018, mas problemas diversos de competitividade mantêm a formação de Woking longe da frente. Olhando para outras paragens, Alonso encontrou ‘refúgio’ na Toyota e no Mundial de Endurance (WEC), participando no campeonato e nas 24 Horas de Le Mans, prova que venceu, cumprindo-se assim um sonho para o piloto (dentro do sonho da marca nipónica, que perseguia há muito aquele feito).

Para 2019, porém, Alonso procura motivação noutros campeonatos, entendendo que na Fórmula 1 já atingiu o seu limite e que aos 37 anos de idade encontrar uma formação vencedora seria já impossível.

Um pecúlio que fica fechado com dois títulos mundiais, manifestamente pouco para um piloto a quem todos reconhecem talento para muitos mais.

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