Teste Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio: Para que serve um SUV com 510 CV?

28/11/2020

O Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio chega aos 100km/h em mais ou menos o mesmo tempo que demora a ler no seu nome completo – 3,8 segundos. Ora, um SUV com um V6 2.9 biturbo de 510 CV fará algum sentido? Foi a pergunta que mais ouvi nos dias em que andei com ele.

A resposta é simples e fica já arrumada a questão, que apesar de ter dado algum jeito para o título, faz pouco sentido. Um SUV com 510 cv é do domínio da paixão, não da razão, por isso passemos à frente.

O Stelvio Quadrifoglio teve o dom de me colocar um sorriso na cara sempre que o conduzi, o que não é dizer pouco. E não foi por um ou outro pormenor, como o som das quatro ponteiras de escape no modo de condução Race, a forma como os 600Nm de binário máximo nos colam ao banco ou pela rapidez e eficácia da caixa automática ZF de oito relações. Não foi por nada em particular, mas antes pelo conjunto.

Com pouco mais de duas toneladas de peso (em ordem de marcha), este Stelvio Quadrifoglio move-se com uma relação peso/potência de 3,99 kg/cv. Para que se tenha uma ideia, um Porsche 911 Carrera S consegue 3,53 kg/cv. Mais uma comparação? O Stelvio – estamos a falar de um SUV, não nos esqueçamos – chega aos 100 km/h com apenas uma décima de segundo de atraso em relação a um 911 Carrera S, 3,8 segundos contra 3,7 segundos.

O coração deste pequeno monstro, um V6 2.9 litros bi-turbo, tem ascendência aristocrática. A Alfa Romeo teve ajuda da Ferrari e há mesmo quem especule que uma versão híbrida deste motor possa vir, nos próximos tempos, a quebrar a actual hegemonia de blocos V8 e V12 da casa de Maranello.

Este V6 entrega 510 CV às 7250 rpm e desenvolve o binário máximo, de 600 Nm, entre as 2500 e as 5500 rpm. Mas, lá está, os números assim a seco não explicam muito e, como dizia acima, não é isto ou aquilo, é o todo, é o conjunto.

Atrás do V6 está aquela que é, muito provavelmente, a melhor das caixas automáticas, a ZF 8HP75, de oito relações. É capaz de mudar de relação em 150 milissegundos no modo race – a duração média de um piscar de olhos anda entre os 100 e os 400 milissegundos – e, em ritmos mais elevados, as reacções parecem-se pouco com uma caixa de velocidade automática, sendo mais próximas de uma caixa de dupla embraiagem.

Daí, o que o V6 entrega é distribuído pelas quatro rodas pelo sistema Q4, com vectorização ativa do binário no eixo traseiro. O que é que isto quer dizer? Que o Stelvio faz a gestão do binário entre as duas rodas do eixo traseiro, ajudando a colocar o carro em curva.

Para completar o quadro, a ligação ao solo é assegurada por muita borracha – pneus 255/45 à frente e 285/40 atrás, montados em jantes de 20’’ -, e por uma suspensão sempre muito dura, mesmo quando escolhemos o modo mais suave. A travagem está entregue à Brembo, com quatro discos ventilados e perfurados – 390 mm e pinças de 6 pistões à frente e 350 mm e quatro pistões atrás.

E o que é que dá a soma das partes? Um pequeno monstro, vermelho neste caso, capaz de devorar o que lhe pusermos pela frente. E quanto mais curvas melhor. Passado o respeito inicial de estarmos sentados bem acima do que é normal num super-desportivo, o Stelvio dá-nos um nível de confiança que está bem acima dos principais rivais neste segmento muito exclusivo, dos SUV desportivos. Vão por mim, passadas umas horas esquecemos que estamos num SUV, com um centro de gravidade mais alto do que seria próprio para aqueles ritmos e é aí que aparece o tal sorriso.

O interior é relativamente espaçoso à frente, mas algo acanhado nos lugares traseiros, o que não tem grande justificação num SUV destas dimensões e, sobretudo, com uma bagageira tão grande. Os materiais e a qualidade de construção estão uns furos acima do que a Alfa faz noutros modelos e, com o restyling deste ano, o Stelvio ganhou um sistema de infotainment mais intuitivo, mais conectado e, para o que interessa nesta versão, com muita informação sobre o estado do veículo, quer da mecânica, quer do ele vai fazendo em estrada.

À parte a falta de espaço na traseira, há uma nota negativa na vida a bordo. Os bancos desportivos em pele e alcantara, com regulação elétrica – um extra que vale 1500€ – são demasiado volumosos e não permitem uma posição de condução mais… desportiva. Talvez as bacquets Sparco, com estrutura em carbono, um extra bem mais caro, resolvam problema.

O preço base do Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio também demora quase tanto tempo a ler quanto o nome, são cento e trinta e dois mil e quinhentos euros (132.500,00€). O Stelvio desta história acrescenta à conta perto de 13.500 euros de extras.

A pintura Vermelho Competizione vale 2800€, o que desaconselha expor este Stelvio a caminhos de terra no meio do campo, não vá sairmos de lá com uns riscos. Depois, paga-se extra pelos vidros traseiros escurecidos, pelo pacote Driver Assistance Plus Quadrifoglio, que permite ao Stelvio condução autónoma de nível 2; pelo aquecimento dos bancos traseiros; pelas pinças Brembo em vermelho; pelas jantes de 20’’; pelo volante desportivo em pele, alcantara e fibra de carbono; pela abertura sem mãos da tampa elétrica da bagageira; pelo sistema de som da Harman/Kardon; pelo kit de fumador; pelo carregador wireless e pelos cintos de segurança em vermelho.

A conta final fica nos 145.918€. Vale o sorriso?

Paulo Tavares