Audi TT 45 TFSI quattro: Mamba negra

06/08/2019

O porte esguio, baixo e agressivo não engana: estamos na presença de um predador, mas em formato automóvel, com carácter intenso que a cor negra da carroçaria acentua. O Audi TT prossegue a sua ‘caça’ na floresta dos desportivos compactos Premium, recebendo uma ligeira atualização estética e técnica que o deixa de… ‘presas’ prontas a morder. E não é para menos – motor 2.0 TFSI de 245 CV e tração integral quattro são atributos de ‘guerra’.

Regressando ligeiramente ao passado, é fácil encontrar uma tríade de desportivos compactos de origem alemã, ora coupé, ora roadster, que ajudaram a mostrar uma outra forma de se viver no nicho Premium: o TT da Audi, o Z3 da BMW e o SLK da Mercedes-Benz. Apesar do crescimento dos SUV e do decréscimo de popularidade dos roadsters/coupés, os três resistem (o Z3 transformou-se em Z4 e o SLK em SLC), muito embora o modelo da Mercedes-Benz já tenha ‘extinção’ planeada. Uma vítima dos tempos.

R8, és tu?

Com ares de R8 em versão mais diminuta, o renovado TT é, mesmo, um chamariz para diversos olhares, que são atraídos pelos faróis de Matriz LED, pela grelha Singleframe hexagonal desportiva e ampla, ladeada por entradas de ar agressivas, mas também pelas jantes de 19 polegadas (conjunto por 1610€), pelas saias laterais e, na traseira pelas duas saídas de escape redondas, pelo difusor e pelo spoiler retrátil situado na tampa da bagageira. A este propósito, irritante detalhe o de nunca termos conseguido abrir o porta-bagagens por fora ou com o botão da chave com a ignição ligada. Apenas com o motor desligado se abriu…

A unidade ensaiada contava com elementos inferiores da carroçaria pintados em cinzento num contraste que fica bem com o pack S Line também montado.

No interior, volante desportivo com base plana e revestimento em pele, posição de condução baixa (com bacquets ótimas) e painel de instrumentos digital que é fundamental porque não existe ecrã central, numa ideia que hoje em dia nem parece concebível. Mas, o TT tem tudo o que é preciso no ecrã digital personalizável Audi virtual cockpit, mesmo em frente dos olhos do condutor. Não se recomenda, porém, que se aventure a investigar os diversos menus, modos e definições do veículo enquanto conduz. O sistema MMI Plus Navegação (2960€) é controlado, de resto, como habitual, pelo comando rotativo na consola central, situado pouco atrás da alavanca da caixa S tronic de sete velocidades. No demais, qualidade exemplar em desenho simplista que cumpre na perfeição a ambiência desportiva.

Se procura um desportivo com capacidades familiares, pense duas vezes. Mesmo sendo um 2+2, os lugares traseiros só servem para um ato de ‘desenrasque’, já que nem o acesso é brilhante, nem o espaço para as pernas e a altura. Tudo isso pode ser mitigado se for uma criança a ocupar aqueles lugares, mas para adultos, aliás, há no portão traseiro um autocolante que diz tudo: ‘cuidado com a cabeça ao fechar’… Mas, isso são circunstâncias do próprio desenho exterior e de uma distância entre eixos ‘curtinha’ – apenas 2505 mm de comprimento.

Conduzir é o melhor remédio

O melhor lugar é, pois, o do condutor, uma vez que o TT tem dinâmica extremamente afilada, com um chassis muito eficaz que reage de maneira ágil e precisa aos ‘golpes’ de volante. A estrutura bastante leve com recurso compulsivo a alumínio (uma recordação da passada Audi space frame) no capot, tejadilho, portas e partes do chassis ajuda nesta estabilidade direcional que cola o TT ao asfalto sem que se sintam nervosismos nos dois eixos. Para esse efeito, também não se pode desconsiderar a tração integral (quattro), que mantém a trajetória precisa, mas que, também se torna demasiado linear, caso tenha a ousadia de provocar a ‘mamba’ TT.

Depois, a ajuda maior está no pulmão do motor de dois litros de injeção direta e turbo, que mostra potência e impetuosidade em praticamente todos os momentos (quando escolhido o modo ‘Dynamic’ do Audi drive select), sendo bem coadjuvado pela caixa de dupla embraiagem, ainda uma fonte de satisfação, sobretudo quando se aposta no comando sequencial/manual pelas patilhas atrás do volante. Este motor tem uma faixa de aproveitamento dos 370 Nm de binário bastante lata, o que quer dizer que é ótimo nas recuperações, ajudando também quando a toada é feita com parcimónia, ajudando a poupar nos consumos uma vez que a caixa pode optar por uma relação mais alta do que uma baixa para aceleração fugaz. O modo ‘Efficiency’ dá aqui uma grande ajuda para manter a média controlada, a variar entre os oito e os nove litros por cada 100 quilómetros, dando até para modo de ‘roda livre’.

O amortecimento é naturalmente firme, até pela escolha de equipamento S Line que deixa o chassis 10 mm mais perto do solo, mas não chega a ser demasiado desconfortável, permitindo ajudar nas transferências de massa com diversão e também viajar com comodidade tolerável em mau piso. Recorde que este é um compromisso sempre orientado para o dinamismo.

Por fim, o custo acima dos 55 mil euros mantém-no num patamar a que nem todos podem aceder, mas que prevalece como ajustado para tudo aquilo que o TT é enquanto obra de engenharia à medida que se caminha para um futuro de sanitização da emotividade ao volante do automóvel. Ainda assim, vale a pena ponderar bem os custos dos opcionais, que são vastos e sempre a somar euros fartos à fatura final (a unidade das imagens estava já nos 74.600€). Mas, como sempre se ouviu dizer aos mais antigos, é preciso cuidado com o encanto da serpente.

VEREDICTO

Os anos passam e o TT é um honrado membro do clube dos desportivos Premium que fazem sonhar sem serem ridiculamente caros, mesmo que a fiscalidade nacional seja bem mais castradora para o seu sucesso do que noutros mercados. Extremamente divertido e arrojado de conduzir, com um motor intenso produtor de adrenalina quando se pretende desportividade, o TT 45 TFSI de 245 CV dá ao condutor aquilo que promete – prestações emocionantes, agilidade sem reparos e visual arrebatador a preço moderadamente contido.

Para as emoções mais fortes é preciso ir um pouco mais longe para chegar ao TT RS de 400 CV, que se situa como expoente máximo. Mas, enquanto aposta intermédia, este TT na configuração 45 é um automóvel desportivo de capacidade impressionante.
Características Audi TT 45 TFSI quattro S tronic
Motor Gasolina, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler, 1984 cc
Potência 245 CV às 5000 rpm
Binário 370 Nm às 1600 rpm
Transmissão Integral, caixa automática de sete velocidades com modo sequencial
0-100 km/h 5,2 s
Velocidade máxima 250 km/h
Consumo anunciado (medido) 7,0 l/100 km (8,8 l/100 km)
Emissões CO2 160 g/km
Comp./Larg./Alt./Entre eixos 4191 mm/1832 mm/1376 mm/2505 mm
Peso 1440 kg
Suspensão (Fr/Tr) Independente McPherson/independente
Mala 305 litros
Pneus 225/55 R17 (ensaiado: 245/35 R19)
Preço (ensaiado) Preço: 55.440€ (74.620€)

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