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Contacto Ford Mustang: Como uma ‘bala’ na montanha francesa

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A banda sonora não poderia ser outra. O rock americano das décadas de 1970, 1980 e 1990 ecoava pelo competente sistema áudio da Shaker com 12 altifalantes. Mas, ao volante de um Mustang com motor V8, a melhor banda sonora não é a do rádio. É aquela providenciada pela mecânica de 5.0 litros com 450 CV de potência que nos ‘devolve’ à mítica perseguição do filme ‘Bullitt’, na qual Steve McQueen, no papel de Frank Bullitt, perseguiu um Dodge Charger pela área metropolitana de São Francisco.

Eis, então, bem à nossa frente, o Mustang, nome icónico da indústria automóvel americana, cuja presença é intimidatória e, ao mesmo tempo, palpitante. O capot alongado, a grelha orientada para a frente, como que em missão predatória, e a traseira curta, naquilo que a Ford apelida de Fastback, silhueta que, apesar de tudo, mantém uma certa identidade ao longo dos anos. Não tanto quanto um Porsche 911, note-se, mas o Mustang é mais exuberante, mais vivo e as próprias cores escolhidas para o evento de apresentação faziam eco dessa ambição.

Tivemos a oportunidade de conduzir o renovado Mustang em Nice, França e as primeiras impressões confirmam que o desportivo do ‘cavalo selvagem’ no logótipo é um modelo que enche as medidas de qualquer amante de condução desportiva, sem pecar em demasia no conforto e nas comodidades a bordo.

Teatro dos sonhos

Para 2018, o Mustang tem então uma série de novidades importantes, a começar na aerodinâmica mais refinada (por exemplo, pequenos defletores situados atrás das rodas dianteiras permitem melhorar o fluxo de ar por baixo do Mustang e, com isso, reduzir a resistência aerodinâmica em cerca de 3%) e na tecnologia de iluminação LED na dianteira, enquanto a palete de cores disponíveis amplia-se para 11 cores – incluindo a muito chamativa Orange Fury, um laranja quase hipnotizante, e o azul Kona (também tu, Mustang?) – e novas opções de jantes de liga leve.

As faixas de competição – uma tradição americana que Bullitt não tinha ao seu dispor – também serão opções para adornar a carroçaria. Continuará a estar disponível em formatos fastback (fechado) e descapotável, direcionando-se assim a todos os tipos de clientes que procuram um desportivo emblemático e visualmente inconfundível. Essa é, pois, uma das chaves deste novo Mustang: manter a linha emblemática que caracterizou este ‘cavalo de corrida’ em mais de cinco décadas de produção.

O interior, mais mais moderno e com um bem-vindo ambiente desportivo, a Ford destaca a presença de novos materiais para os revestimentos e também um painel de instrumentos totalmente digital de 12 polegadas e personalizável (com sete cores e diversos indicadores distintos). Na consola central, o couro é cosido à mão com fio em cor contrastante que transmite uma noção mais Premium. Num detalhe curioso, o botão de ignição pulsa lentamente a um ritmo de 30 pulsações por minutos, simulando as de um cavalo em repouso.

‘Need for Speed’

Sendo americano, o Mustang transmite alguma ideia de que seria um desportivo sem a necessária agilidade para conquistar os tão exigentes clientes europeus, mas a verdade é que este Ford é uma caixinha de surpresas. Com alterações eficazes ao nível da afinação da suspensão, o Mustang mostra compostura e uma muito satisfatória capacidade de aderência em curva: ao ‘atacá-la’ há precisão, muito por culpa também da direção direta, com a traseira a seguir-lhe, depois, com neutralidade e, em condução mais afoita, com um ligeiríssimo deslizamento que aumenta a confiança de forma simples. Por palavras mais simples, eis um desportivo que, aos 450 CV, deixa brincar sem ser arisco (com 290 CV do motor 2.3 EcoBoost fica ainda mais ‘dócil’).

Naturalmente, as respostas são mais contundentes no modo mais desportivo dos vários que estão à disposição, o ‘Track’ (pista), sendo que neste as ajudas eletrónicas ficam desativadas. Os outros modos disponíveis são os ‘Normal’, ‘Sport’, ‘Track’, ‘Snow/Wet’ (neve/piso molhado) e… ‘Drag’. Neste último, o objetivo é partir que nem uma ‘bullit’ rumo ao horizonte, estando associado ao controlo de arranque (launch control), que trata de colocar no asfalto toda a potência disponível com o intuito de fazer arrancadas dignas das tradicionais faixas de drag americanas, nas quais as máquinas se enfrentam em linha reta, avaliando a pureza da aceleração.

Depois, claro, o facto de oferecer conforto assinalável aos ocupantes, mesmo quando a estrada fica mais ‘virada do avesso’. Boa parte do trabalho é responsabilidade da suspensão MagneRide, sistema de amortecedor em que o fluido eletromagnético presente no interior do mesmo permite variar a resistência do amortecimento consoante o modo de condução escolhido. Tecnicamente, além dos amortecedores recalibrados, o Mustang em versão 2018 conta ainda com suspensão posterior mais rígida graças ao eixo transversal capaz de reduzir os movimentos laterais. Barras estabilizadoras de maior grossura também contribuem para este resultado, melhorando o controlo do chassis e a precisão.

Em termos de prestações, o motor V8 é, naturalmente, aquele que mais se aproxima do ideário de sensações americano, com 450 CV de potência e 529 Nm de binário máximo às 4600 rpm. No capítulo dos motores, tendências opostas: o 2.3 EcoBoost perdeu potência, descendo dos 317 CV para os 290 CV (culpa da adoção de um filtro de partículas para cumprir com as normas anti-poluição), enquanto o V8 atmosférico subiu dos 421 CV para os 450 CV. Com novidades ao nível do sistema de injeção (direta e indireta) e aumento da cilindrada dos 4951 cm3 para os 5038 cm3, o Mustang V8 é bastante rápido na forma como sobe de regimes, entregando a sua potência de maneira decidida, mas, sobretudo, com a noção de que este é um motor ‘cheio’, veloz e intenso, com a associação de caixa manual de seis velocidades de escalonamento curto. A sonoridade proveniente dos escapes é um bónus que agrada a quem gosta destas coisas dos ‘muscle cars’ americanos. Com a garantia de que ninguém fica indiferente. Com a caixa automática de dez velocidades, o Fastback acelera dos zero aos 100 km/h em apenas 4,3 segundos.

Por seu turno, o motor turbo 2.3 EcoBoost já permite elevar o ritmo com enorme facilidade, mesmo se, neste caso, não tem a mesma energia e intensidade do V8. Compensa com a força do turbocompressor que lhe dá uma outra alma a partir das 2000 rpm, sendo uma solução que não deslustra o prestígio do Mustang. Lamenta-se, contudo, a falta de alma na sonoridade (isto se se tiver em conta que precisa mesmo de um modulador de sonoridade que ‘empurra’ para o habitáculo através dos altifalantes alguma do ruído desportivo…), compensando por outro lado com a maior economia face ao bloco atmosférico de topo de gama. Foi com o motor 2.3 EcoBoost que pudemos ensaiar a nova caixa automática de dez velocidades da Ford, um mecanismo notável na rapidez na transição entre cada relação e por, em modo sequencial, recordar o funcionamento do sistema de uma moto: rápido e decidido, não deixando cair as rotações.

Naturalmente, faltam ensaios mais aprofundados para confirmar as muito boas impressões destes cavalos de ‘puro sangue’, sobretudo atendendo às estradas não tão ‘perfeitinhas’ de Portugal, mas este modelo, nascido nos ‘States’ e ‘adotado’ pela Europa, é uma máquina de fino recorte, capaz de se bater com os seus rivais locais. Mas, nas estradas gaulesas de Nice, só nos conseguimos recordar do famoso Bullitt: fomos como ‘balas’ pela montanha acima porque no final o sorriso compensou.


Malfadados impostos

Fruto da estrutura fiscal do nosso mercado, a ‘sorte’ do Mustang V8 está praticamente ditada à partida pelo seu preço de base, com o modelo mais acessível nessa motorização, o Fastback GT, a começar nos 94.526€, sendo que só em ISV ‘paga’ mais de 40 mil euros! Por outro lado, a variante 2.3 EcoBoost com idêntica carroçaria tem um custo de base de 54.119€, o que faz com que seja uma escolha muito equilibrada para este conceito de desportivo de quatro lugares (2+2). Isto sempre no caso da caixa manual, porque a escolha pela caixa automática de dez velocidades eleva os preços para os 56.789€ no caso do 2.3 EcoBoost e para os 95.643€ no caso do Fastback GT V8.

Para quem procura um modelo descapotável, os preços são de 56.552€ no Convertible 2.3 manual e de 99.979€ no caso do Convertible GT V8 manual. Os automáticos têm preço de tabela de 61.785€ e de 101.326€, respetivamente.

Se quisermos ter uma medida comparativa de preços, saiba que em Espanha um 2.3 Fastback tem um custo de 41.300€ e que – prepare-se – um Fastback GT V8 tem um custo de base de 49.300€!