O primeiro contacto com a nova variante 100% elétrica do novo Renault Trafic decorreu nos arredores da cidade de Bordéus, conhecida pelos seus vários castelos e áreas de vinhas, as quais são utilizadas para a produção de vinho. Em trajetos maioritariamente urbanos, demonstrou claramente as suas virtudes de agilidade nas prestações e de agradabilidade da condução.

Nome com muita história no seio da Renault e no próprio mercado dos comerciais ligeiros, a Trafic beneficia de passagem para o mundo da eletrificação para se tornar cada vez mais adaptado aos novos tempos. Porém, como grande objetivo, não altera o traço essencial de versatilidade, com múltiplas possibilidades de configuração e personalização para diferentes fins.

O novo modelo surge em dois comprimentos de carroçaria (5,08 metros na L1 e 5,48 metros na L2) e duas alturas (1967 metros e 2498 metros), ao passo que a capacidade de carga (na configuração Furgão) pode variar entre os 5.8 m3 e os 8.9 m3. A versão mais comprida (L2) pode oferecer também até 4,15 metros de comprimento de carga graças à partição na divisória. Já a capacidade de reboque é de até 750 kg, para 1,1 toneladas de peso de carga admissível.

No habitáculo, há ainda muitas soluções de arrumação e de funcionalidade, com um total de 88 litros de espaços de arrumação (19,7 litros na consola, 14,6 litros nas portas e 54 litros sob o banco), sendo de destacar também a solução de banco corrido na frente – para três – que tem como particularidade o rebatimento do banco do meio para servir de mini-escritório ou de local de arrumações suplementares.

Uma das grandes premissas dos automóveis comerciais ligeiros é manter o peso sob controlo para assim permitir mais carga e, também, uma sensação de condução mais ágil e eficaz. Na transferência para a eletrificação, esse desafio torna-se ainda mais determinante, já que o peso da bateria de 52 kWh e o seu posicionamento podem tornar-se ‘quebra-cabeças’ no momento de encaixar tudo numa plataforma que, como é o caso, não nasceu com a eletrificação em mente.

Mas o trabalho dos engenheiros da Renault é bem conseguido, com o Trafic Van E-Tech Electric a manter uma elevadíssima modularidade a bordo a que não são alheias as portas laterais deslizantes, as múltiplas possibilidades de configuração por via das soluções Renault Pro+ e um compartimento de carga amplo e sem o menor indício de que se trata de modelo elétrico. Aliás, é difícil identificá-lo como tal apenas por via estética.

Mas a ausência de ruídos provenientes do motor assim que se começa a mover é rápido revelador da sua característica – o motor elétrico de tração. O Trafic Van E-Tech Electric é alimentado por um motor de 90 kW/122 CV de potência e 245 Nm de binário instantaneamente disponível, permitindo-lhe acelerar dos zero aos 100 km/h em 13,6 segundos, ao passo que a velocidade máxima está limitada aos 110 km/h. O consumo médio homologado é de 22 kWh/100 km.

Na estrada, em percursos que foram essencialmente urbanos, com ligeiras escapadelas por estradas nacionais (máximo de 80 km/h), este comercial denotou sempre uma admirável capacidade para ganhar ritmo, valendo-se da potência disponível de imediato para prestações muito competentes. Mesmo com uma caixa com 350 kg a simular carga no compartimento traseiro (mais dois ocupantes), o desempenho foi consistente com o que é de esperar de automóveis: desenvolto.

Mesmo em modo ‘Eco’, que limita a potência e a velocidade máxima, o Trafic ofereceu respostas cómodas para lidar com o trânsito do dia-a-dia. Mesmo o consumo, com alguns excessos ocasionais para testar a aceleração e as recuperações, foi surpreendentemente positivo, com uma média de percurso de cerca de 70 quilómetros de 17.7 kWh/100 km, bem abaixo do valor anunciado pela marca.

O comportamento é também bastante estável, com a bateria a ajudar a baixar o centro de gravidade, mas o Trafic é essencialmente um modelo de cariz laboral, pelo que as suas ambições aqui são limitadas. Seguro e estável, obedecendo bem a mudanças de direção e com um tato de travagem correto, mesmo atendendo ao facto de ser adaptável consoante a velocidade – acima dos 70 km/h ao levantar o pé do acelerador, a intensidade de regeneração e da desaceleração é menor, abaixo dos 70 km/h a intensidade de ambas torna-se mais evidente, para assim implementar uma espécie de ‘one pedal’ mode, sem o ser.

Em suma

A Renault complementa a sua gama de comerciais ligeiros com o Trafic Van E-Tech Electric, que acaba por ser uma solução francamente agradável em termos de compromisso entre prestações e suavidade de utilização, juntando-se depois a questão das manutenções que, tratando-se de um elétrico, tenderá a ser benéfica ao ter menos partes móveis e de desgaste de utilização. Um modelo que amplia as opções para o setor profissional que pretende eletrificar a sua frota, mesmo que o custo de aquisição ainda possa não ser o mais vantajoso. Mas para lá caminham. Este Trafic é mais um passo nesse rumo.

FICHA TÉCNICA
Renault Trafic Van E-Tech Electric
Motor elétrico: Síncrono de íman permanente, dianteiro
Potência: 90 kW/122 CV
Binário: 245 Nm
Bateria: Iões de lítio, 52 kWh
Transmissão: Dianteira, caixa automática de relação única
Aceleração 0-100 km/h: 13,6 s
V. Máxima: 110 km/h (limitada)
Consumo médio (WLTP): 22 kWh/100 km
Autonomia elétrica (WLTP): 297 km
Carregamento (15-80%): 1h25 a 22 kW (AC trifásico); 50 min. a 50 kW (CC)
Dimensões: (C/L/A) 5480/1956/1967 mm
Distância entre eixos: 3498 mm
Pneus: 215/65 R16
Peso: 2350 kg
Bagageira: De 5,8 m3 a 8,9 m3
Preço: N.D.

*Em Bordéus, França

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