Não são precisos muitos metros para se perceber que o Honda Civic Type R é um modelo especial e mais evoluído do que o anterior. Sendo um dos últimos modelos da Honda com motor de combustão e caixa manual, o Civic Type R é candidato a melhor desportivo de tração dianteira, com um foco total na condução, que é apaixonante e vibrante.

Não há mais volta a dar. O Civic Type R destas imagens é o único automóvel da Honda disponível na Europa apenas com motor de combustão interna sem eletrificação e com caixa manual. No seu esforço de se tornar numa marca mais sustentável, a Honda concedeu ao Type R a missão de encerrar um capítulo que se pode considerar épico na história da marca: o dos compactos desportivos de tração dianteira e motor de combustão.

A geração anterior ficou já conhecida pela sua grande eficácia e pelos diversos elogios que granjeou enquanto esteve à venda, pelo que os engenheiros da Honda tinham uma tarefa complicada para melhorar o Civic mais desportivo de todos. A base é a mesma do híbrido (e:HEV), a qual contava já com um chassis mais rígido em comparação com a geração precedente, dando assim bons indicadores para o Type R.

No entanto, a marca japonesa foi um pouco mais longe e procedeu a uma série de melhorias estruturais que visam oferecer uma rigidez ainda superior, aplicando, por exemplo, um reforço no eixo traseiro ou um número ampliado de adesivos estruturais para assim incrementar a rigidez torsional em curva sem incrementar o peso (1480 kg, no total).

Por outro lado, o Civic é também maior, voltando a dar mais um salto no crescimento. Esta geração mede 4594 mm (a título de curiosidade, um Civic Type R de 2009 media 4285 mm…), ao passo que a distância entre eixos é agora de 2735 mm, crescendo 35 mm face ao modelo anterior. Naturalmente, olhando para este Civic Type R, facilmente se percebe que é também um desportivo bastante largo (1890 mm), mais 90 mm do que o Civic e:HEV, graças às cavas das rodas mais musculadas, mas, num detalhe fulcral, completamente integradas com a carroçaria, dando assim um aspeto mais elegante e mais consensual.

Aliás, o visual deste Civic evolui consideravelmente face ao anterior, com linhas mais ao estilo de um fastback, com tejadilho muito suave rumo à tampa do porta-bagagens, mas com elegância nos detalhes. Todas as entradas de ar – no para-choques e no capot – são funcionais e, na frente, é fácil de observar o grande radiador através da rede em formato ‘ninho de abelha’. O fluxo aerodinâmico é, depois, trabalhado ainda pelas saias laterais e, na traseira, por um difusor e pelo grande aileron montado na tampa da bagageira. Este permite obter níveis mais elevados de carga aerodinâmica graças à forma como foi desenvolvido, mas não se intromete na visibilidade traseira a partir do interior. E tem um aspeto fantástico!

Destaque, ainda, para o trio de saídas de escape ao centro do difusor traseiro, com o central a ser maior. Mas, não esperem uma sinfonia muito apaixonante…

As jantes sofreram um ‘downgrade’ de 20 para 19 polegadas, mas beneficiam o conforto e são mais leves do que as de série do anterior modelo, estando pintadas em preto mate.

Interior de bom gosto

Tal como sucede no Civic dito ‘normal’, o interior da 11ª geração deste compacto evidencia uma subida considerável na qualidade e no desenho, sendo mais ergonómico e agradável de viver. Os detalhes desportivos desta versão ajudam bastante a sentir que o Type R é, efetivamente, um modelo especial e não apenas mais um no conjunto da gama. Ao volante com revestimento em Alcantara e couro, juntam-se outros revestimentos em vermelho para o piso e tapetes especiais, bem como os bancos de estilo bacquet em vermelho (a par de cintos de segurança de igual cor) que promovem um excelente conforto (são surpreendentemente macios) e elevadíssima sustentação do corpo em curva. A Alcantara pode ser ainda encontrada na consola central e nos painéis das portas.

O painel de instrumentos digital de 10.2″ tem modos de visualização específicos, incluindo um claramente orientado para a performance no modo ‘+R’, ao passo que o ecrã central tátil de 9.0″ serve de centro de comando para uma série de funcionalidades e permite a conexão aos sistemas Android Auto e Apple CarPlay. Adicionalmente, este módulo traz consigo também um ‘gravador’ de dados de telemetria, o Honda LogR, que combina as informações recolhidas a partir de uma série de sensores e permite assim avaliar a condução ou a resposta do Civic Type R em aceleração, travagem e passagem em curva.

Nota, ainda para a colocação bem pensada dos comandos da climatização e para o posicionamento do comando da caixa de velocidades, bem perto da mão do condutor. Uma placa no lado direito do tablier enumera a unidade do Civic Type-R.

Mas, o Civic Type R não é apenas um carro para o condutor. Também pode ser um familiar e, como tal, o espaço nos bancos traseiros é bastante bom, sobretudo para as pernas, havendo também aqui uma sensação de continuidade temática: os revestimentos do piso são em vermelho, os bancos têm um revestimento semelhante a Alcantara e os cintos de segurança são também vermelhos. Adicionalmente, as costas das ‘bacquets’ dianteiras têm incrustadas o logótipo ‘Type R’. Em contrapartida, atrás só podem ir dois passageiros, já que o lugar do meio foi suprimido.

A bagageira é também ampla, com 410 litros e bocal imenso, graças à colocação das dobradiças na zona do tejadilho.

Condução efervescente

No capítulo técnico, além dos já mencionados trabalhos de reforço estrutural, a Honda aplicou também algumas novidades ao motor, uma vez mais sem ajuda da eletrificação, mas com sobrealimentação, como já sucedia nas duas gerações anteriores. Graças a um novo turbocompressor que é mais compacto e mais eficiente e a mexidas no sistema da admissão de ar (e também no escape), o Civic Type R ganhou em potência e disponibilidade, com o 2.0 Turbo a oferecer agora 329 CV de potência e 420 Nm de binário.

Na teoria, o ganho não é muito grande, mas na prática, o novo Civic Type R sente-se mais ‘vivo’ e dotado de uma capacidade fantástica para ganhar velocidade. O motor é bastante imediato a reagir à maior pressão do acelerador, mesmo quando está fora do seu regime de rotações ‘preferido’, ou seja, abaixo das 2000 rpm, demonstrando um voluntarismo que é muito bem-vindo.

Claro que os modos de condução influenciam. O modo ‘Comfort’, que é o mais cómodo, como o próprio nome indica, esmorece as respostas, torna a direção mais leve (mas não muito…) e o amortecimento mais suave, sendo o modo mais indicado para levar a família no dia-a-dia. Mas, ainda assim, o Civic Type R sente-se contido, mas já rápido suficiente para adotar uma rapidez tranquila, a qual se torna cada vez mais aguerrida à medida que alteramos os modos de condução e selecionamos o ‘Sport’ ou o mais explosivo ‘+R’.

O modo ‘Sport’ é aquele que agrada mais no sentido em que solta já o Type R para uma identidade mais dinâmica, deixando-nos sentir uma grande parte da eficácia deste desportivo. Eficácia genial. O motor ganha ainda mais ímpeto e sobe de regime com rapidez, ao passo que a direção, altamente precisa e sem grande sinal de ‘torque steer‘, se molda aos nossos desejos, com um amortecimento que é duro mas não imperdoável para as nossas costas.

No meio de tudo isto, falta referir a caixa de velocidades, cujo manuseio não tem paralelo no mercado. Verdadeiramente. Se só uma caixa de velocidades puder ficar para o final, tem de ser esta. O comando curto da caixa com punho redondo em alumínio (por falar nisso, nos dias de Sol, tape-o…) e um tato preciso e decidido tornam cada passagem de caixa uma experiência gratificante. Não há dificuldades na engrenagem e cada mudança ‘entra’ com exatidão, numa lógica de ‘short shift‘.

O modo ‘+R’ torna a experiência no seu limite sensorial, com todas as características orientadas para a máxima performance. O motor responde ainda mais rápido e, se na era dos elétricos, já não surpreende, é a sensação que nos concede, acompanhado pelo chassis extremamente firme e direção com peso notável que torna tudo mais dramático e emocionante. E esta é a palavra-chave: emocionante. O comportamento fenomenal torna este desportivo altamente sensorial, sobretudo com uma frente mordaz e ‘agarrada’ ao asfalto, mercê de um diferencial autoblocante e contributo de pneus Michelin Pilot Sport 4S desenvolvidos especialmente para este Type R.

Ao entrar em curva, o Civic Type R é difícil de provocar, graças a essa mesma dianteira muito aguerrida, mas é o comportamento da traseira que depois parece ser sobrenatural. O efeito de rotação é notório e notável, ajudando a descrever qualquer curva, mesmo em piso menos liso. Ganha-se confiança e percebe-se que, no conjunto dos desportivos de tração dianteira não há igual e mesmo nos de tração integral apenas a eficácia é superior. A noção de divertimento, de comprometimento para com uma estrada sinuosa tenderá a ser superior no Civic Type R.

No limite, em determinadas circunstâncias, pode ser também mais exigente no trabalho de mãos, nomeadamente, com piso húmido ou demasiado degradado, mas esses são casos pontuais.

Para quem quiser jogar com o seu próprio modo de condução, a Honda disponibiliza o modo ‘Individual’, que permite acertar uma série de características do chassis, como a direção, firmeza, resposta do amortecedor, sonoridade (que se reflete nos altifalantes interiores… dispensável), entre outros elementos.

O sistema de travagem, desenvolvido pela Brembo em específico para este modelo exibe capacidade de paragem exemplar e alta resistência à fadiga, mesmo não tendo discos perfurados, ainda que o sistema de refrigeração tenha sido melhorado por via das entradas de ar dianteiras.

O consumo não é exagerado para o modelo em questão, cifrando-se nos 9,2 l/100 km em condições de utilização quotidiana, subindo sim quando se pretende explorar mais os seus limites em estradas secundárias. O conforto beneficia do facto de ser adaptativo, pelo que é fácil de viver, embora se note uma maior firmeza em mau piso ou com muita ondulação. Não há milagres…

O preço de 73.000€ é o seu verdadeiro óbice (além dos números limitados de produção), mesmo com o elevado nível de equipamento disponível.

VEREDICTO

Exemplar de uma espécie em vias de extinção, o Civic Type R encerra em si tudo o que um compacto desportivo sempre ambicionou: rapidez, confiança, estabilidade, segurança e uma sensação de controlo absoluto que faz dele um modelo verdadeiramente único. Pelo conjunto de atributos, esta geração do Civic mais desportivo – que se despede dos motores de combustão exclusivos – oferece uma sensação de adrenalina e de entusiasmo que encontra paralelo em automóveis de categorias e preços superiores.

A precisão do chassis é a característica que mais se destaca, a par de uma capacidade bastante interessante do motor 2.0 Turbo que está mais elástico e mais determinado do que na geração anterior. O ato de troca de caixa sublinha uma experiência quase única, que alia emoção a divertimento naquilo que os verdadeiros entusiastas da condução procuram – o entrosamento com a máquina.

Outros modelos terão outros atributos vantajosos ‘aqui e ali’, mas na súmula geral, é este que leva a coroa, uma vez mais, como ‘rei’ dos compactos desportivos de tração dianteira. O preço é mesmo o seu maior entrave. Como não há ‘bela sem senão’, o do Civic Type R é esse. O preço de uma alegria em extinção.


MAIS
Prestações
Comportamento excecional
Travagem
Solidez geral
Construção e equipamento
Funcionalidade quotidiana
Equipamento

MENOS
Preço
Sonoridade anónima
Qualidade da câmara traseira

FICHA TÉCNICA
Honda Civic Type R
Motor: Gasolina, quatro cilindros, injeção direta, turbo, intercooler
Cilindrada: 1996 cm3
Potência: 329 CV às 6500 rpm
Binário máximo: 420 Nm entre as 2200 e as 4000 rpm
Transmissão: Dianteira, caixa manual de seis velocidades
Aceleração (0-100 km/h): 5,4 segundos
Velocidade máxima: 275 km/h
Consumo médio: 8,0 l/100 km
Emissões de CO2: 186 g/km
Dimensões (C/L/A): 4594/1890/1407 mm
Distância entre eixos: 2735 mm
Peso: 1480 kg
Bagageira: 410-1212
Pneus: 265/30 R19
Preço (base): 73.000€

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.

AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9.5
Prestações
9.5
Espaço
9.5
Segurança
9.5
Condução
10
Consumos
8.5
Preço/equipamento
7.5