A Renault continua a ser uma das marcas com uma aposta firme no GPL como solução de mobilidade acessível e, até, mais ecológica do que a gasolina. O renovado Clio é um exemplo de como este combustível é uma alternativa viável e muito apelativa para quem faz muitos quilómetros – a sua autonomia ronda os 1000 quilómetros.

Com o renovado Clio a chegar agora ao mercado, a marca francesa mantém a aposta firme no GPL (Gás de Petróleo Liquefeito) como alternativa para os motores de combustão, resultando numa opção bivalente em termos de utilização. Fazendo uma revisão da matéria dada, o Clio de atual geração conta com uma plataforma desenvolvida de raiz para albergar todos os componentes necessários para esta adaptação a GPL, pelo que a segurança está totalmente garantida, bem como todas as valências de espaço a bordo. Face à versão correspondente apenas a gasolina, vale a pena mencionar que a única desvantagem é a perda da roda sobressalente na bagageira.

No Grupo Renault, enquanto a eletrificação avança, prevendo-se para 2024 o lançamento de novos modelos, como o Scénic E-Tech e o novo Renault 5 E-Tech, o GPL ainda se mantém como um dos esteios das gamas Clio e Captur (que também irá conhecer uma renovação em breve), funcionando como uma opção ao motor exclusivamente a gasolina e, também, ao híbrido/elétrico E-Tech.

A motorização em questão é a mesma da variante unicamente a gasolina, ou seja, o 1.0 TCe de três cilindros, mas aqui beneficiando de um ligeiro acréscimo de potência e de binário: 100 CV face a 90 CV e 170 Nm face a 160 Nm, sendo que os valores superiores estão apenas disponíveis quando se utiliza o GPL como combustível. Mais uma vantagem a juntar à poupança no abastecimento, sendo que as emissões de CO2 também são ligeiramente reduzidas: entre 107 e 121 g/km emitidos face aos 121-136 g/km quando funciona a gasolina.

Por outro lado, o consumo do GPL é ligeiramente superior, com um valor entre os 6,9 e os 7,8 l/100 km, naquele que é um registo bem realista, como pudemos comprovar no ensaio, em que a média de 100 quilómetros feitos a GPL foi de 7,8 l/100 km, em contraponto com os 6,8 l/100 km registados no mesmo exercício feito apenas com gasolina (ligeiramente acima do homologado, entre os 5,4 e os 6,0 l/100 km). Os dados do consumo do GPL no painel de instrumentos são uma mais-valia para permitir maior controlo sobre consumos e autonomias.

Para comutar entre os dois depósitos basta pressionar um botão no lado esquerdo do tablier, não havendo quase nenhumas diferenças que não uma aspereza ligeiramente superior no caso do GPL, mas que em nada afeta a agradabilidade da condução. Aliás, o Clio demonstra uma boa veleidade dinâmica, com prestações despachadas e respostas bem elásticas desde baixas rotações, com o escalonamento da caixa manual de seis velocidades a ser uma preciosa ajuda para esse seu desempenho ritmado (embora o punho sobre-dimensionado da alavanca da caixa não seja dos melhores para o manuseamento).

Com aqueles registos de consumos, quer isto dizer que a autonomia combinada entre os dois depósitos (39 litros para o de gasolina e de 18 kg/32 litros para o de GPL) aponta, de forma realista, para um valor em torno dos 1000 quilómetros, o que num automóvel com motor de combustão apenas se julgava possível com o Diesel. Avaliando os preços de cada combustível, rapidamente se obtém uma equação que é favorável ao GPL, até porque o custo de aquisição não é substancialmente superior (21.420€ no caso do TCe 90 Techno e de 22.320€ no TCe 100 GPL Techno) e é rapidamente compensado pelos abastecimentos na bomba.

À data deste artigo, recorrendo aos dados da DGEG, o preço médio por litro da gasolina sem chumbo 95 simples é de 1,642€ (1,66€ se considerarmos a gasolina sem chumbo 95 aditivada), enquanto o litro de GPL está a 0,825€, ou seja, a cerca de metade do preço. Sintetizando a questão de forma muito rápida: quantos mais quilómetros fizer por ano, maior é o potencial de poupança com o GPL.

Dinamicamente, o Clio é também um dos utilitários do segmento B mais cativantes de conduzir, possivelmente assumindo-se mesmo como o mais dinâmico depois da saída de cena do Ford Fiesta, que era uma das referências até ao ano passado. Com imensa estabilidade e excelente compromisso entre agilidade e conforto, o amortecimento é permissivo e a direção dá ao condutor a quantidade certa de informação. Os modos de condução disponibilizam alguma diferença nas prestações, ainda que não sejam muito vincadas na condução – o modo mais desportivo entrega a potência de forma um pouco mais vigorosa, enquanto o ‘Eco’ suaviza essas mesmas respostas para beneficiar os consumos.

De resto, o Clio beneficia da atualização estética e tecnológica operada em toda a gama, destacando-se de forma muito natural toda a secção dianteira, com uma nova assinatura luminosa que reforça mais o código identitário da marca francesa, agora com as luzes diurnas situadas no para-choques (em forma de seta) e nova grelha dianteira. A bordo, destaque para a boa qualidade de construção e habitabilidade correta para quadro adultos, inserindo-se o espaço nos lugares posteriores na média daquilo que o segmento oferece. A bagageira também está num patamar interessante, com os seus 340 litros, deixando apenas de ter o espaço sob o piso que seria ocupado pela roda sobressalente.

O Pack Navigation (700€) consegue valorizar ainda mais o habitáculo, sobretudo no aspeto tecnológico, já que inclui o painel de instrumentos digital de 10” (com configuração personalizável) e o ecrã tatil central de grandes dimensões Easylink de 9.3” com navegação e Andoid Auto e Apple CarPlay sem fios. De série, o painel de instrumentos dispõe de elementos analógicos com ecrã de 7″ ao centro para as informações do computador de bordo, ao passo que o ecrã tátil central é de 7″, mas já com replicação de smartphone sem fios.

VEREDICTO

O renovado Clio viu as suas credenciais reforçadas e validadas com a sua atualização, ganhando uma identidade moderna e bastante agradável em linha com as mais recentes propostas da marca francesa, como o Rafale, por exemplo. Por outro lado, na vertente mecânica, quem optar pela solução bi-fuel (gasolina e GPL) irá beneficiar de um modelo de autonomia alongada e poupança reforçada, unindo o melhor de dois mundos, sobretudo atendendo ao facto de o preço de aquisição desta versão face à TCe 90 não ser muito avultada – apenas 900€, pelo que nos parece claramente vantajosa a opção pela versão bi-fuel.

Seja como for, o Clio assegura elevados níveis de conforto em aliança com uma condução bastante agradável e abrangente – tanto para o condutor mais despreocupado, como para o mais empenhado –, a que se junta um motor ‘elástico’ nas respostas e voluntarioso.


MAIS
Capacidade bi-fuel
Prestações despachadas
Boa apresentação geral
Comportamento bastante agradável
Relação preço/equipamento

MENOS
Consumo de gasolina tende a ser superior
Ainda há parques subterrâneos que não aceitam veículos GPL

FICHA TÉCNICA
Renault Clio TCe 100 GPL Techno
Tipo de motor Bi-fuel (Gasolina/GPL), 3 cil. em linha, injeção indireta, turbo, intercooler
Cilindrada 999 cc
Potência máxima 100 CV entre as 4600 e as 5000 rpm
Binário Máximo 170 Nm entre as 2000 e as 3500 rpm
Transmissão Tração dianteira, caixa manual de 6 velocidades
Velocidade máxima Máxima 188 km/h
Aceleração 0-100 km/h 11,8 s
Consumo (desde) 5,4/6,9 l/100 km (Gas.-GPL)
Emissões CO2 (desde) 123/109 g/km (Gasolina/GPL)
Dimensões (C/L/A) 4.053/1.798/1.439 mm
Distância entre eixos 2583 mm
Pneus 195/55 R16
Peso 1.219 kg
Bagageira 340 L
Preço 22.320€
Gama desde 20.320€

Principal equipamento opcional: Pintura metalizada 650€; Pack Look (400€) inclui jantes em liga leve de 17″ ‘Monastella’, contornos com acabamentos em cromado, pilar-C ‘shiny black’ com rebordo em inox e personalização exterior em cromado/preto; Pack navigation (700€) inclui cartografia do país, alerta de excesso de velocidade, ecrã do painel de instrumentos de 10” e ecrã tátil Easylink 9,3″ com navegação e replicação de smartphone wifi.

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9
Prestações
8.5
Espaço
8.5
Segurança
9
Condução
9
Consumos
8.5
Preço/equipamento
9.5