Com 21 anos de existência, o Porsche Cayenne foi resultado de uma aposta arrojada e, até, inesperada, por parte da marca alemã quando se decidiu a criar um SUV. Contra vozes contrárias dos puristas da marca, o Cayenne surgiu no mercado em 2002 e, sob a filosofia de um ‘Porsche total’, conquistou um espaço fundamental com mais de um milhão de unidades vendidas desde então. A terceira geração dá continuidade a este legado de sucesso.

São dados que detalham bem a relevância do Cayenne no seio da Porsche. Criado numa época em que a sua gama era composta, basicamente, por dois modelos, o 911 e o Boxster, o SUV de grandes dimensões rapidamente começou a ser adotado por todos aqueles que apreciavam a vertente desportiva da marca, mas também a versatilidade e a competência fora de estrada (a primeira geração até contava com redutora).

No total, desde 2002, venderam-se 1.250.000 unidades das três gerações (com os respetivos ‘facelifts’ à mistura). Só em 2022, de um total de pouco mais de 300 mil automóveis Porsche vendidos, 95.600 eram Cayenne. A última geração, com a proliferação da eletrificação, ajudou ao crescimento, registando-se mais de 430 mil unidades do Cayenne vendidas desde que foi lançada.

Foi, precisamente, a sua competência como um ‘Porsche total’, apto para as estradas mais sinuosas como um verdadeiro desportivo e para os percursos em família e, até, para as aventuras bem longe do asfalto, que ajudou a compor o sucesso do Cayenne em termos de vendas, diversificando-se em carroçarias – ora SUV tradicional, ora em versão coupé de visual mais dinâmico.

Na Península Ibérica, o Cayenne também faz ondas. Venderam-se 19.400 entre Portugal e Espanha, ou seja, cerca de 970 por ano, assumindo-se como valores relevantes. No mercado luso, há também um dado curioso que poderá ser alcançado este ano: pela primeira vez, a Porsche poderá chegar às mil unidades comercializadas (oficialmente) em solo luso, valendo-se do ‘mix’ muito equilibrado da sua gama, mas sobretudo ao sucesso do Macan em versão de quatro cilindros. Mas, isso são contas para outros rosários.

Mais do que um ‘facelift’

Na sua terceira geração, o Cayenne recebeu muito recentemente uma atualização de meio de ciclo que foi muito mais do que um simples ‘facelift’. Entre as novidades estéticas, apenas por alto, menção para os novos para-choques e para o novo capot, mais estilizado, o mesmo se aplicando aos grupos óticos, sendo que na dianteira pode contar com tecnologia opcional LED HD Matrix, com capacidade de ajuste do foco de iluminação de maneira a não encandear os condutores que circulem à frente ou em sentido contrário.

Com dois módulos de alta definição e mais de 32.000 pixels por ótica, esta tecnologia deteta os outros utilizadores da estrada e reduz a luz dos máximos com precisão de pixel para não ofuscar. Podem também projetores linhas de guia no chão e até determinar a largura do veículo em espaços apertados.

Revisto e muito melhorado

No interior, o passo em frente é também significativo, com a Porsche a inspirar-se no Taycan para um conceito de controlo e visualização completamente. Num ambiente luxuoso e muito cuidado, repleto de materiais nobres e de construção exemplar, sobressai o Porsche Driver Experience, conceito focado no condutor e que coloca as funções mais frequentemente utilizadas no volante ou nas suas imediações. Por exemplo, a alavanca localizada atrás do volante (com desenho mais desportivo) à esquerda tem agora funções adicionais para os sistemas de assistência ao condutor.

O seletor da caixa de velocidades passa para o tablier, libertando espaço na consola central para compartimentos de arrumação e para um grande painel de controlo do ar condicionado com controlos de grandes dimensões e facilmente acessíveis, combinados com comandos mecânicos do ar condicionado e controlo de volume háptico, garantem facilidade de acesso, operação intuitiva e visual refinado, respondendo também aos pedidos dos clientes. A marca indica que procurou obter, com o novo Porsche Driver Experience, o equilíbrio certo entre elementos digitais e analógicos.

O habitáculo redesenhado do Cayenne apresenta, pela primeira vez, um painel de instrumentos totalmente digital de 12.6 polegadas com design curvo e opções de visualização variáveis. Como opcional, está disponível um head-up display avançado. O ecrã central tátil de 12.3 polegadas do Porsche Communication Management (PCM) está integrado no novo tablier e permite aceder a todas as funções relevantes do veículo. São também fornecidas aplicações como Spotify e Apple Music para otimizar a conectividade do novo Cayenne.

Outra estreia é a possibilidade de contar com um ecrã tátil adicional no lado do passageiro dianteiro, com 10.9” de dimensão, enriquecendo a sua experiência ao exibir dados de performance, fornecer acesso separado aos controlos do sistema de infoentretenimento e, dependendo do mercado, a opção de streaming de vídeo em andamento. Cumprindo os requisitos legais para o efeito, a Porsche desenvolveu num conceito com uma película especial que assegura que o condutor não possa ver o ecrã durante a condução.

Ao nível da segurança, o Cayenne reforça a sua aposta e passa a incluir elementos como o limitador de velocidade ativo e o assistente de manobra de emergência, o assistente de curva e o Porsche InnoDrive melhorado como parte do cruise control adaptativo.

O interior passa a dispor também de novos materiais, novas cores e revestimentos, não faltando também elementos como a iluminação ambiente, tejadilho panorâmico e pegas na consola central, que apontam para uma utilização mais off-road.

Chassis de luxo

O novo Cayenne sai agora da fábrica com suspensão de molas de aço, incluindo tecnologia Porsche Active Suspension Management (PASM). Novos amortecedores com tecnologia de duas válvulas, com fases separadas de ressalto e compressão, permitem uma performance otimizada perante diferentes momentos de condução. Em particular, o conforto a baixa velocidade, a condução em curvas dinâmicas e o suporte às oscilações foram melhorados.

A experiência de condução pode ser ainda aperfeiçoada com a nova suspensão pneumática adaptativa com duas câmaras e duas válvulas. Isto melhora a experiência de condução devido à suspensão suave, que estabiliza o veículo e simplifica a condução tanto em estrada como em off-road – comparativamente com a suspensão de série e com o antecessor. A suspensão também oferece uma diferenciação ainda mais acentuada entre os modos de condução ‘Normal’, ‘Sport’ e ‘Sport Plus’.

Mais eletrificado, mais uma faceta ‘Porsche total’

No que toca às motorizações, o Cayenne renovado reforça a eletrificação com quatro variantes híbridas nesta fase, incluindo as Cayenne E-Hybrid, Cayenne S E-Hybrid com motor V6, Turbo E-Hybrid com motor V8, a qual deriva ainda numa outra variante híbrida, com pacote GT. O objetivo é salientar a presença da eletrificação nesta gama, reforçando o esforço que tem sido feito pela sustentabilidade por parte da Porsche, não obstante trata-se de uma marca de emoções fortes. Mais uma faceta do tal ‘Porsche total’, que pode agora ser também, cada vez mais, um automóvel eficiente para utilização do dia-a-dia.

Mas, para celebrar o sucesso dessas duas décadas do Cayenne, a Porsche preparou uma série de percursos pela zona de Barcelona e Tarragona para nos colocar aos comandos não só de diferentes versões da nova gama, como também de algumas versões especiais que passaram por expedições de todo-o-terreno em Marrocos e não só – modelos de anteriores gerações preparadas e, outras de série, que superaram igualmente troços pouco simpáticos por florestas privadas.

Começámos pelo Cayenne S que adota agora motor V8 biturbo de 475 CV de potência para desempenhos elevadíssimos, desde baixas rotações até às mais cimeiras, num motor que é pleno de fôlego e que dá azo a prestações de topo para um SUV, sendo muito mais intensa de explorar que a versão de base, simplesmente denominada Cayenne, com motor V6 de três litros de cilindrada com 354 CV.

Esta última é uma versão que permite uma entrada ‘feliz’ no universo do Cayenne, com uma proposta equilibrada entre economia, com consumos moderados, e prestações já muito convincentes, facilmente arremetendo para ritmos elevados com a sonoridade típica de um Porsche. O chassis sempre competente dá confiança ao condutor e os movimentos de carroçaria são bastante limitados, mesmo em estradas muito sinuosos.

O Cayenne não renega ao seu carácter de agilidade e segurança ao volante, algo que é muito valorizado pelos clientes indefetíveis da marca. Isso fica bem patente, mesmo na versão de base.

Por fim, o evento de condução teve ainda como ‘companheiro’ o Cayenne E-Hybrid, que é uma das versões eletrificadas (plug-in) com possibilidade de rodar em modo zero emissões. Esta versão adota motor V6 de 304 CV associado a uma máquina elétrica de 176 CV (460 Nm) para uma potência combinada de 470 CV e 650 Nm de binário. A bateria de 25.9 kWh está situada sob o piso da bagageira e permite autonomia para entre os 66 e os 78 quilómetros.

Tratando-se de um modelo de elevada eficiência, o consumo homologado desta versão varia entre os 1,4 e os 2,0 l/100 km, dependendo do equipamento, com emissões de CO2 entre 31 e 46 g/km. Novidade é também o facto de contar com um novo carregador de bordo de 11 kW, com que pode recarregar a bateria em duas horas e 18 minutos.

Além de ser um SUV extremamente eficiente, o Cayenne E-Hybrid é também um desportivo de plenas credenciais, com acelerações pujantes e retomas igualmente eficazes, conseguindo com o seu duplo carácter ser muito poupado nos consumos, circulando em modo elétrico quando possível, mas também colocando a potência do motor elétrico ao serviço das prestações quando é preciso acelerar de forma mais rápida.

Esse efeito sente-se muito mais nos modos de condução ‘Sport’ e ‘Sport Plus’, que tornam as respostas muito mais apuradas. É, também, aqui que o Cayenne se revela extremamente recompensador. As suas dimensões são esquecidas e o aprumo da direção, a competência da travagem e o fulgor da mecânica são incansáveis. Um belo exemplo de engenharia por parte da Porsche e que salienta a competência de desenvolvimento de um desportivo mesmo em formato SUV.

Os preços dos novos Cayenne começam nos 117.462€ do E-Hybrid em formato SUV (120.537€ para a carroçaria Coupé), com o Cayenne de base a ter um custo desde 129.115€ na carroçaria SUV (133.116€ do Coupé). O Cayenne S tem um custo a partir dos 165.374€ na carroçaria SUV (170.746€ na Coupé), ao passo que o Cayenne S E-Hybrid a ter um preço de partida nos 127.381€ (131.686€ do Coupé).

O Cayenne Turbo E-Hybrid tem um preço de partida nos 190.174€ (193.741€ para o Coupé), ao passo que o Cayenne Turbo E-Hybrid com Pacote GT tem um preço de 224.079€, estando disponível apenas para a carroçaria Coupé.


Cayenne sem medo da sujidade no corta-mato

Uma das credenciais do Cayenne sempre foi a sua competência de versatilidade para utilização também fora do asfalto. No entanto, ao contrário de muitos automóveis de estilo SUV que apenas autorizam pequenas excursões por estradões de terra com dificuldade muito limitada, o Cayenne é um autêntico ‘atleta’ multifacetado que não receia percursos off-road.

Pode até dar a impressão do contrário, mas os Cayenne são hábeis a ultrapassar obstáculos de dificuldade elevada fora do asfalto. Ou melhor, poderá não ser o foco de muitos dos seus compradores, que se ficarão pelo habitual padrão de estradões de terra, mas as competências deste SUV fora do asfalto são bem elevadas.

Num recinto de testes em Bassella, um povoado isolado em Lérida (situando-se equidistante na diagonal entre Barcelona e a fronteira com França), onde as recentes gerações do Cayenne também passaram por testes de off-road no seu desenvolvimento, pudemos sentir a evolução ao longo das três gerações deste modelo, com alguns dos modelos a serem os que passaram por expedições em África, dispondo assim de algum carácter suplementar.

Ao todo, eram sete os Cayenne que se predispuseram a cumprir um inusitado trajeto pelo meio de um percurso florestal ao cair da noite, com passagens por água, sulcos profundos ou cruzamento de eixos. Do primeiro Cayenne, que dispunha de redutoras, até ao mais recente, com um foco muito mais elevado de assistências eletrónicas, a evolução é notória, sobretudo na construção do habitáculo e no conforto (o facto de disporem de pneus para utilização fora de estrada também ajudou).

Imperturbável nos diferentes pisos e perante os obstáculos que se lhe levantaram, os Cayenne demonstraram grandes veleidades em TT, validando a impressão de que se trata de um Porsche com todos os genes de um desportivo, mas também com o potencial de superar dificuldades inesperadas em troços de lama, terra e pó.

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