Poucos saberão da importância que o Ibiza teve para o estabelecimento da SEAT como marca independente. Mas, efetivamente, foi este popular modelo oriundo da Catalunha que tornou a companhia numa força europeia. Em 2024, o Ibiza cumpre o seu 40º aniversário, pelo que tivemos direito a percorrer todo o passado desde os primórdios ao presente.

O Ibiza de primeira geração (MK 1), lançado em 1984, foi um marco para a SEAT, assinalando o início da marca como construtor independente com um automóvel completamente desenvolvido por si (embora com assistência de alguns outros nomes famosos, como Giorgetto Giugiaro, Karmann ou Porsche).

Criada a 9 de maio de 1950, a SEAT foi um símbolo paralelo da evolução da sociedade espanhola ao longo da segunda metade do século XX. Quando surgiu, também com um acordo com a Fiat, a marca espanhola limitou-se a produzir automóveis fornecidos sob licença pela marca italiana para os comercializar em Espanha. O Ibiza, revelado no Salão de Paris de 1984, veio lançar a SEAT para um novo patamar, capaz de ser independente no desenvolvimento e produção de automóveis.

 

Na altura, parecia um desafio ousado, mas os resultados e o desenrolar da História vieram a dar razão a essa ousadia. Hoje, o Ibiza – que foi apenas o segundo modelo com designação inspirada numa região espanhola, após o Marbella –, vai na sua quinta geração e leva já cerca de seis milhões de unidades vendidas. O futuro, porém, é incerto, mas o que se sabe já é que o Ibiza tem um peso muito especial na própria indústria espanhola.

O início com arrojo

Lançado em 1984, o Ibiza MK 1 foi o primeiro veículo desenvolvido pela marca sem a assistência de um parceiro tecnológico, recorrendo aos conhecimentos internos e aos dos parceiros Giorgetto Giugiaro para o design exterior, Karmann para o design interior e Porsche para o motor (daí a designação ‘SEAT System Porsche’ incrustada na cobertura da cabeça dos cilindros). No lançamento, estavam disponíveis três níveis de equipamento – L, GL e GLX – todos com motores a gasolina de 1.2 e de 1.5 litros. O modelo de destaque foi o topo de gama 1.5 GLX de 85 CV. Posteriormente, chegaram outras versões a gasolina com base em motorizações 0.9 de 44 CV e 1.7 de 110 CV, além de uma Diesel de 55 CV.

A função do Ibiza de primeira geração também foi acompanhada pela sua forma, num design exterior imediatamente reconhecível e jantes de liga leve de formato desportivo. Para exemplificar a importância deste modelo, a SEAT conserva dois exemplares de produção na sua coleção, ambos na configuração 1.5 GLX. Um deles é o modelo com o número de chassis número 1, que sal da linha de montagem no dia 27 de abril de 1984. O outro é um Ibiza que foi mantido por um concessionário com apenas 64 quilómetros registados no odómetro, estando agora registado como veículo de importância histórica.

Com apenas 3,6 metros de comprimento, o Ibiza de primeira geração foi planeado pelo Centro Técnico de Martorell, com a contribuição da Italdesign de Giorgio Giugiaro para o desenho exterior e da Karmann para a industrialização e desenvolvimento da carroçaria. O seu sucesso tornou-se chave para dar à SEAT o impulso necessário para a internacionalização, enquanto o processo de compra pelo Grupo Volkswagen avançava também a ritmo bastante forte.

No total, desta primeira geração, entre 1984 e 1993 (com dois facelifts pelo meio), produziram-se mais de 1.300.000 unidades, sendo o Ibiza MK 1 o segundo SEAT a superar a fasquia do milhão de unidades produzidas, após a família 127/Fura.

Os ‘loucos’ anos 1990

Ainda na primeira metade da década de 1990 a SEAT introduziu a segunda geração do Ibiza. Mais uma vez, desenhado por Giorgio Giugiaro em estreita colaboração com o Centro de Design de Martorell, a estética do veículo tornou-se mais arredondada, aerodinâmica e desportiva.

A sua nova plataforma, inédita até então, permitiu-lhe ganhar imensos 20 cm no comprimento, tornando-o maior também por dentro. O carro adicionou mais equipamento e um maior avanço mecânico, mas o seu maior impacto foi, sem dúvida, ajudar a sede da SEAT em Martorell a subir de nível. O veículo foi projetado no Centro Técnico, mas o seu lançamento significou o início das operações da fábrica nas instalações.

Como topo de gama, a SEAT introduziu a versão Ibiza GTI logo desde o lançamento, assumindo também uma designação com peso no segmento dos desportivos. Este modelo contava com um motor 2.0 atmosférico a gasolina de 115 CV de potência, sendo um bloco com a maior cilindrada do segmento. Rápido, ágil, fácil de conduzir (incorporava direção assistida), o Ibiza MK 2 era leve com 1010 kg para respostas dinâmicas para a época.

Mais tarde, em setembro de 1994, chegou outro GTI mais desportivo, alimentado por um motor 1.8 16 V de 130 CV, situado na gama até acima do GTI 2.0. No caminho evolutivo, dois anos mais tarde, em outubro de 1996, o 1.8 16 V deu lugar ao primeiro Ibiza CUPRA como homenagem ao primeiro título com o Ibiza Kit Car na categoria de WRC de 2 litros. O Ibiza CUPRA era alimentado pelo motor 2.0 16 V de 150 CV e estava disponível apenas com a carroçaria de três portas.

Quanto ao seu pedigree desportivo, foi com esta segunda geração que a marca espanhola começou a participar no Campeonato Mundial de Ralis, vencendo a Taça do Mundo de Ralis de 2 litros da FIA por três vezes entre 1996 e 1998.

A época ‘auto emoción’

Apresentada em 2001 no Salão de Bolonha, a terceira geração do SEAT Ibiza assinalou um salto significativo na qualidade de fabrico, engenharia, desempenho dinâmico e linguagem de design. Esta ficou a cargo do designer Walter de Silva, em colaboração com o Centro de Design Martorell, nascendo aqui a assinatura ‘auto emoción’ para reforçar a ideia de um lado emocional ligado à experiência de condução.

Para o efeito, o Ibiza MK 3 tinha por base aquilo que a marca definiu como conceito ‘Agile Chassis’ para salientar as suas capacidades dinâmicas. As suas credenciais de desempenho foram ainda mais reforçadas pelo aumento de potência da gama, com motores de até 130 CV nas versões mais ‘comuns’.

Isto porque a SEAT lançou variantes FR (Formula Racing) com motores a gasóleo 1.9 TDI de 130 CV e turbo a gasolina de 1.8 litros de 150 CV, que eram referências neste segmento. Adicionalmente, a sigla CUPRA manteve-se para as versões de topo, com motor 1.8 Turbo 20 V de 180 CV e uma inédita variante turbodiesel CUPRA R que chegava aos 160 CV.

Em fevereiro de 2006, o SEAT Ibiza estreou uma nova imagem, mais moderna e ainda mais desportiva, com novos acabamentos interiores e novos para-choques, numa gama que, no seu mercado nacional, oferecia 18 opções de escolha.

E à medida que as perspetivas dos consumidores mudaram e foi dada maior ênfase à eficiência e às preocupações ambientais, o SEAT Ibiza adaptou-se a esta mudança. Em 2007, surgiu o primeiro Ibiza Ecomotive, equipado com um motor 1.4 TDI de 80 CV e filtro de partículas, com emissões de CO2 de apenas 99 g/km. O Ibiza MK 3 foi descontinuado em 2009, com mais de um milhão de unidades produzidas.

Novas ideias

A SEAT adotou uma nova abordagem para a quarta geração do Ibiza com a equipa de desenvolvimento a trabalhar para combinar uma nova expressão de design com algumas das tecnologias mais inovadoras disponíveis na sua época.

A quarta geração estreou o conceito “Arrow Design” do designer Luc Donckerwolke na parte dianteira, conferindo ao Ibiza um aspeto desportivo graças à utilização de linhas geométricas acentuadas. Foi proposto com carroçarias de três (SC) e de cinco portas e até uma versão de carrinha (ST) para as jovens famílias que valorizavam os espaço.

Os seus níveis de equipamento aumentaram, sobretudo ao nível da segurança, com dispositivos como airbags para a cabeça e peito, programa eletrónico de estabilidade (ESP), Hill Hold Control e aviso de baixa pressão dos pneus. Os testes de colisão da Euro NCAP validaram o trabalho realizado pelo Centro Técnico de Martorell, resultando em cinco estrelas para a proteção dos passageiros, quatro estrelas para a segurança das crianças e três estrelas para a proteção dos peões.

Esta geração do Ibiza recorreu a uma plataforma totalmente nova ‘oferecida’ pelo Grupo Volkswagen, tirando partido ainda de uma gama variada de motorizações. No início, três variantes a gasolina e três Diesel, com a versão 1.6 de 105 CV a ser a primeira a estar disponível com caixa DSG de dupla embraiagem, com sete velocidades, um progresso significativo para o conforto de condução. Por outro lado, a mecânica 1.9 TDI de 80 CV tinha uma variante Ecomotive com consumo de apenas 3,7 l100 km e emissões de 98 g/km de CO2. Mais tarde, surgiram variantes 1.4 TSI de 150 CV e 2.0 TDI de 143 CV de maiores aptidões desportivas.

Em 2015, um facelift atualizou o interior e incorporou um ecrã de 6.5” no centro do tablier, antecipando assim a tendência crescente da conectividade para a geração seguinte. A produção do Ibiza MK 4 foi descontinuada em meados de 2017, dando vez à quinta geração.

Resistir na época das indecisões

A atual geração do Ibiza é também aquela que acompanha a maior indecisão em torno da indústria automóvel. Com a eletrificação a ganhar escala e tornando-se quase obrigatória para a grande maioria dos construtores, a SEAT lançou o Ibiza de quinta geração em 2017, tendo sido concebido para satisfazer as novas exigências dos seus clientes: tinha de proporcionar estilo e dinamismo próprios da marca, mas introduzir um cunho de consciência ambiental e de digitalização muito mais profundo. E, se é verdade que a SEAT dispunha de uma variante Ecomotive, a marca optou por não criar distinções.

Desenvolvido em Barcelona com base numa plataforma totalmente nova – a MQB-A0 do Grupo Volkswagen – o Ibiza MK 5 inovou com o seu conteúdo tecnológico e escalada na qualidade de construção e de condução. Desenhado por Alejandro Mesonero-Romanos, a silhueta do Ibiza emanava o ADN da marca, caracterizado pelos faróis triangulares Full LED e pela dupla bolha lateral da carroçaria.

No interior, deu-se uma revolução, com acesso a aplicações integradas e conectividade a sistemas Android Auto e Apple CarPlay, enquanto o controlo por voz em linguagem natural tornou a interação com o veículo intuitiva e instintiva. Fora do automóvel, a SEAT lançou a aplicação ‘SEAT Connect’ que permitiu ao condutor ter um maior controlo sobre o estado do veículo.

Na segurança, também houve uma progressão assinalável. Novos sistemas avançados de assistência ao condutor, como o Lane Assist, o Side Assist e o Reconhecimento de Sinais de Trânsito foram incluídos e a tecnologia Travel Assist permite condução semi-autónoma em condições de autoestrada.

Refletindo também uma mudança de paradigma, apenas estava disponível em carroçaria de cinco portas, ‘caindo’ a versão de três portas (SC) e carrinha (ST) da geração precedente. Sinais dos tempos e da estratégia da casa-mãe, a CUPRA tornou-se independente e, com isso, a gama Ibiza deixou de ter modelos com aquela insígnia, como aconteceu nas três gerações anteriores.

Ainda assim, há um CUPRA Ibiza em versão protótipo, apresentado em 2018 no lançamento desta marca desportiva como ‘força’ independente – exemplar único, é preservado na Nave A122 no Museu da SEAT, onde se podem encontrar mais de 170 exemplares da história da SEAT e da CUPRA.

Assim, a versão topo de gama e mais desportiva do Ibiza MK 5 é a FR com motor 1.5 TSI de 150 CV de potência. Em 2021, o Ibiza de quinta geração recebeu um restyling de meia-idade, focado principalmente no interior e mantendo inalterada a linha da carroçaria.

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