Embora tendo partido com algum atraso na eletrificação, a Mercedes-Benz tem dado passos determinados e bastante rápidos para se impor como uma das marcas mais ambiciosas na via da sustentabilidade. Não só através da descarbonização dos seus automóveis, declarando que apenas venderá elétricos nos mercados que o permitam a partir de 2030, mas também na procura de uma atividade global totalmente neutra em emissões de carbono, numa meta que ambiciona alcançar em 2039.
Este esforço é sublinhado por fortes investimentos e por um desenvolvimento acelerado em várias frentes, sempre sob a bandeira hasteada da transparência, como define Julia Raizner, porta-voz de Brand Awareness e Sustentabilidade na Mercedes-Benz AG, que esteve em Portugal para uma conferência sobre a mobilidade e sustentabilidade.
“Queremos vender unicamente veículos elétricos no final desta década nos mercados em que seja possível, inserido no objetivo ambicioso que é o ‘Ambition 2039’ de neutralidade carbónica em toda a cadeia de valor e na frota de automóveis novos. O que nos leva à questão de como alcançá-lo e isso tem de ser através de muitos aspetos que têm de ser conjugados”, começa por dizer, elencando o que a Mercedes-Benz tem feito para atingir os seus objetivos.
“Em primeiro lugar, diria que começamos com a descarbonização da cadeia de abastecimento, o que é muito importante. Estamos a trabalhar com materiais eficientes em termos de recursos e com energias renováveis. Estamos a falar, por exemplo, de aço quase isento de CO2 e de alumínio com emissões reduzidas de CO2. A tecnologia das baterias tem de ser utilizada de forma muito inteligente, para conseguirmos realmente reduzir as emissões de CO2 e, por último, mas não menos importante, temos de o fazer em conjunto com os nossos parceiros, porque a cadeia de abastecimento é enorme. Por isso, 90% dos nossos fornecedores já assinaram uma carta de ambição, referente ao fornecimento de produtos neutros em carbono”, salienta.
“O segundo ponto é a nossa produção neutra em termos de carbono, que já temos nas nossas próprias fábricas de veículos desde o ano passado. Portanto, isto é algo que estamos a tentar alcançar e o nosso objetivo é reduzir as emissões tanto quanto possível. O terceiro ponto é o que chamamos de ‘well to tank’ [NDR: termo para definir o processo de extração dos combustíveis, neste caso, da energia para os elétricos], a experiência de carregamento que temos de proporcionar aos nossos clientes para que possam efetuar carregamentos ecológicos em todo o mundo. Este é um caminho que temos de percorrer.
Já temos com o Mercedes.me Charge cerca de 1.3 milhões de pontos de carregamento e agora queremos construir 2000 ‘hubs’ na Europa, América do Norte e China para realmente atingir o objetivo de que os nossos clientes possam carregar veículos de forma ecológica. Depois, temos o ‘tank to wheel’, que é o quarto ponto, ou seja, a eficiência, a aerodinâmica e o grupo motopropulsor em prol da autonomia. E o último ponto é como é que podemos reciclar as coisas, com uma melhor estratégia de reciclagem. Temos, como exemplo, a fábrica de Kuppenheim, que vai começar a funcionar no final deste ano [para a reciclagem de baterias]”, acrescenta ainda, sublinhando que nos tempos atuais até o desenvolvimento de cada novo automóvel já obedece a novos parâmetros.
“Quando estamos a desenhar um carro, temos de pensar, desde o início, em conceber um automóvel que tenha em conta o ambiente, para que as peças que o compõem sejam recicláveis no final”, assume.
Faltando ainda um longo percurso até se cumprir a estratégia ‘Ambition 2039’, Raizner salienta que a Mercedes-Benz “já percorreu um grande caminho num curto espaço de tempo. Eletrificámos automóveis em quase todos os segmentos num período de tempo verdadeiramente curto. Penso que estamos numa posição muito boa”.
A questão da reciclagem e da segunda vida das baterias assume um papel preponderante na missão de sustentabilidade das marcas automóveis e, na Mercedes-Benz, não é diferente. Quanto aos materiais reciclados, Julia Raizner aponta que todos passam por provas muito exigentes de controlo de qualidade “devendo ser resistentes a oscilações de temperatura, duráveis e apenas serão usados se cumprirem todos os padrões”, como já acontece, por exemplo, com as alternativas ao couro.
Já sobre as baterias, além do grande esforço que está a ser feito na produção, para se utilizarem cada vez menos materiais raros e de menor impacto para o ambiente, o foco é também no reaproveitamento daqueles que são dos componentes que mais pesam ambientalmente na produção de um veículo elétrico.
“Com a fábrica de reciclagem em Kuppenheim, as baterias serão testadas e veremos se poderão ter uma segunda utilização como acumuladores de energia ou se temos de as reciclar completamente, mas este é um processo que irá ter lugar ali. Depois, se quisermos pensar de forma mais internacional, temos colaborações em vista com os EUA e com a China para termos as melhores práticas de reciclagem globalmente”, complementa, sublinhando que é importante pensar cada vez mais numa utilização secundária para as baterias.
“Para nós, é muito importante termos tudo comprovado e estabelecido para sermos transparentes em relação aos nossos números, porque a sustentabilidade é muito importante para nós. Queremos documentar tudo de uma forma muito transparente e factual”, garante.