Peugeot “tem tudo” para agarrar liderança em Portugal

26/01/2019

Com aumentos na quota de mercado e no volume de vendas automóveis, 2018 foi de recordes para a Peugeot em Portugal, país que, na ótica do CEO Jean-Philippe Imparato, teve um desempenho meritório. E diz que a marca “tem todos os elementos” para apontar à liderança do mercado nacional. Gama moderna e transição sem mácula para o ciclo WLTP são razões apontadas para os resultados positivos de 2018.

São tempos de otimismo na Peugeot. A marca francesa foi uma das que mais se evidenciou no mercado europeu em 2018, crescendo 31,75% no Velho Continente, o que, para Jean-Philippe Imparato, CEO da Peugeot, valida a estratégia adotada nos últimos anos de posicionamento mais Premium e a aposta na antecipação à norma de emissões WLTP, que noutros construtores obrigou a paragens na produção.

A Peugeot teve ainda um contributo fundamental para o recorde mundial do Grupo PSA: dos 3.9 milhões de veículos vendidos, 1.7 milhões foram Peugeot. Portugal não foi exceção na toada de crescimento (+8.9%) e é um dos casos destacados por Imparato, sobressaindo por ser um de apenas três países a atingir recordes de quota e de volume no ano passado.

“O final de 2018 foi bastante positivo para a marca Peugeot. Quando considero o grande cenário da Europa no final do ano, a marca foi a que teve a melhor performance em quota de mercado no top 10. Este é o primeiro ponto. O segundo ponto é que somos líderes no segmento SUV-C na Europa e, já agora, no mundo, vendemos 623.000 SUV, ou seja, 35% do volume total da marca. O terceiro ponto de uma perspetiva global é que, pelo segundo ano consecutivo, batemos o recorde nos comerciais, o que é interessante porque completa a percentagem de gama que fornecemos e as ofertas competitivas nos SUV. Depois, entre todos os países do mundo, há 16 que estão a bater os seus recordes em quota de mercado e três que estão a bater o seu recorde em quota e em volume – Portugal, Grécia e Irlanda. Por isso, para a Peugeot, o ano de 2018 foi muito bom”, refere, vendo também razões para acreditar que a liderança no mercado nacional é possível, mas não às custas da rentabilidade da marca.

“Estamos em primeiro nos SUV e somos líderes nos B2C [Business-to-Consumer] nos carros de passageiros. Somos líderes também com a Partner, ou seja, todo o campo B2B [Business-to-Business] também está com a Peugeot. Nos últimos nove anos, temos sempre aumentado a nossa quota de mercado no país. Portanto, todos os elementos estão presentes para dizer que, fazendo uma operação normal, podemos ser líderes. Mas, não o quero fazer de forma suja. A questão não é matricular carros de quilómetro zero para depois exportá-los para outros mercados. Não é isso que considero um bom trabalho”, explica, dando a sua visão de que um bom trabalho é atender às necessidades dos clientes nacionais.

“Como sabem, desde 2013, mais ou menos, considero que temos feito um bom negócio na Peugeot. Subimos o posicionamento da marca, porque temos alguma disciplina na forma como gerimos não só a questão do preço, mas também o produto e os canais. A nossa equipa em Portugal está a trabalhar nos canais de carros de passageiros, nos B2B com canais de frotas relevantes, no mercado de SUV… Não os quero a fazer negócios para fora. Por isso é que digo que esta performance [comercial] é soberba neste momento. Temos todos os meios para apanhar a liderança, mas não o queremos fazer se isso significar uma má forma de fazer o trabalho. Queremos fazer um trabalho normal de crescimento”, clarificou, defendendo igualmente que existe uma grande necessidade em defender o valor residual da marca, por exemplo, mantendo “o nível de descontos sob controlo quando se vende um carro novo. Esse é que é o ponto importante”.

Futuro sem aborrecimento

Com o Diesel cada vez menos relevante e os elétricos no horizonte, Imparato observa que os motores a gasolina têm hoje uma quota maior no ‘mix’ de vendas. Mas, se argumenta que “a mudança está feita”, acrescenta que “não está a ser feita ao mesmo ritmo entre regiões, entre países, entre cidades e entre canais. É por isso que se queremos cobrir o mundo todo, temos de ser muito simples. Simples para com os clientes, simples para com os países e simples para com a rede. É por isso que estamos a apostar na nossa nova plataforma multi-energia soberba e estamos numa situação em que podemos dizer ‘comprem o vosso Peugeot e escolham a vossa motorização’. É essa a frase chave de 2019. Não vamos construir uma caixa com uma motorização elétrica. Esse não é o meu objetivo. Os clientes terão sempre as características da Peugeot: o design, o comportamento, o i-Cockpit para todos… É difícil, porque queremos proteger o valor residual do carro. Se quero que os clientes continuem a confiar na marca, temos de fornecer, em primeiro lugar, um Peugeot”, sublinhou, não mostrando qualquer receio quanto ao futuro.

 

“Temos 208 anos de existência e já enfrentámos tantas evoluções, revoluções e mudanças técnicas. Esta será como as outras: iremos geri-la com serenidade, simplicidade e algo mais: prazer. É por isso que lançamos o e-LEGEND Concept, porque não queremos ter um futuro aborrecido e essa é a mensagem global da marca para o futuro: tornar o futuro menos aborrecido”, referiu ainda.

Interrogado se sente alguma pressão política para a implementação de uma única solução técnica – a eletrificação –, sem deixar a indústria automóvel reajustar-se na busca de qualquer outra, Imparato responde negativamente, deixando antes a sua ideia de que os construtores automóveis têm uma grande responsabilidade na redução das emissões poluentes.

“Neste momento, vejo uma Comissão Europeia que está a trabalhar e a aplicar alguma pressão na meta de CO2 e nada mais. Como construtores, estamos a enfrentar uma dupla responsabilidade, que é corresponder às expectativas dos clientes e à da regulação. Isso é chave. [Mas] seremos cumpridores. Porque temos a tecnologia e não iremos desperdiçar o nosso tempo à espera do dia 1 de janeiro de 2020. Estamos prontos no final de 2018 porque não queremos ter qualquer problema nesse lado, obviamente”, reforçou, deixando também a ideia de que os elétricos 100% puros na Peugeot serão uma realidade, mas que “neste momento, estamos a trabalhar para termos o nível de custo total de propriedade (TCO) que permita a todos estarem confortáveis com o valor do carro, mas ao mesmo tempo, poder fazer dinheiro”.

Aspeto também cada vez mais relevante no mundo atual é o das novas formas de propriedade e, além de destacar a importância do negócio de mobilidade do Grupo PSA, o Free2Move, o CEO da Peugeot valoriza o papel do leasing no mercado atual.

“Quando se olha para as formas de financiar o carro, há uns anos, o crédito era a única opção. Hoje o leasing é para todos, até mesmo para os clientes no Sul da Europa, como França, Itália, Espanha e Portugal. Tenho a impressão de que nestes países estamos com mais ou menos 5% de leasing nos carros de passageiros. O leasing está em quase todo o lado na Europa, mas também no mundo”.

Desafios latentes

Apesar de ter sido um ano de ganhos e de o Grupo PSA ter obtido um recorde global de 3.9 milhões de veículos vendidos (3.877.765, com maior exatidão), o desafio entre mercados é bastante diferente e, no caso da Peugeot os ganhos na Europa serviram para compensar, em certa medida, o abrandamento nalguns mercados importantes, como é o caso do chinês, onde a contração foi de 42,37% face a 2017.

Se na Europa reconhece o bom desempenho, o francês salienta que “noutros mercados, não foi tão fácil, porque enfrentámos a questão do Irão, onde tivemos de parar no ano passado e o impacto foi enorme, porque foram 300 mil carros a menos. Não estamos totalmente satisfeitos com a performance no mercado chinês, porque temos estado a perder 150 mil carros na China, o que foi compensado obviamente com os mais 50 mil carros na Europa, mas ainda assim são 100 mil carros menos. Fora da Europa, é uma grande aventura para 2019, porque no ano passado enfrentámos a questão do Irão, da China e o mercado da Turquia, que se dividiu por dois. Mas apesar destas situações, a marca Peugeot está a oferecer resultados soberbos para o grupo PSA”.