A Dacia surpreendeu ao anunciar a sua participação no Dakar por três anos já a partir da edição de 2025, com foco na ideia de simplicidade que é transversal a toda a gama. O Sandrider T1+ foi desenvolvido no mundo ‘virtual’, preparando-se agora para os primeiros testes antes da primeira prova de fogo, em Marrocos, no mês de outubro. Falámos com François Aupièrre, responsável pelo projeto do Dakar, para ficar a conhecer mais detalhes desta nova aventura da marca romena.

Ao revelar o seu novo protótipo para ‘atacar’ a edição de 2025 do Dakar, a Dacia revelou as suas ambições de lutar pelas posições cimeiras. O novo Sandrider é um modelo de classe principal (T1+) com clara inspiração no concept Manifesto, que foi apresentado em 2022 para mostrar como serão os Dacia do futuro. Para já, serão ‘atletas’ para enfrentar as mais condições brutais da prova de TT mais dura do mundo, o Dakar.

Prosseguindo na sua missão de redefinir aquilo que é essencial, um lema da marca para os tempos modernos, a Dacia mostrou o Sandrider, protótipo com que irá abordar o Rali Dakar e o Campeonato do Mundo de Rali-Raid da FIA (W2RC) a partir de 2025. Para conceber o Sandrider, a Dacia inspirou-se, então, na simplicidade do Manifesto, tendo como parceira a Prodrive, conceituada companhia de preparação que já colocou em prova os Subaru no Mundial de Ralis e até os Ferrari de GT1 nas 24 Horas de Le Mans.

“Porquê este projeto? Primeiro, este carro é um exemplo em tamanho real da filosofia de aventura ao ar livre e achámos que existe a coerência perfeita entre este laboratório tecnológico ao ar livre em tamanho real e o nosso empenho na mobilidade com baixas emissões de carbono e que se enquadra realmente na ambição da Dacia de ser líder em emissões de carbono reduzidas e em soluções acessíveis. Foi por isso que nos comprometemos a participar no Dakar, porque queríamos utilizar este laboratório e desenvolver algumas inovações ou características novas para os modelos da nossa marca”, afirma François Aupièrre, que coordena o projeto da Dacia para o Dakar.

Quanto à Prodrive, a estrutura britânica de David Richards foi escolhida, precisamente, pela sua reputação e pela sua competência no desenvolvimento de programas de competição. “Decidimos que não queríamos começar o programa do zero, porque somos uma marca nova neste domínio e é muito difícil começar do zero”, complementou Aupièrre, garantindo que muito trabalho está a ser feito também com recurso a muitas competências internas do Grupo Renault, como é o caso do motor, que é um V6 de origem Nissan.

“Não temos um programa de competição de dez anos, por isso, decidimos tirar partido da experiência de diferentes especialistas. Primeiro internamente, por exemplo, temos ajuda do Grupo Renault, temos algumas competências que podemos adquirir vindas do grupo Renault para trabalhar no motor, no chassis e em tudo o resto”, argumenta. “E decidimos também utilizar a Prodrive como fornecedora técnica, porque eles já o fazem há muito tempo. Por isso, quando se faz uma mistura de tudo, temos um carro completamente novo, mas com a ajuda de especialistas e de boas características provenientes de uma série de lados. Por isso, a Prodrive foi claramente uma boa escolha para nós, porque nos pode ajudar a avançar rapidamente. Mas definimos, claramente, uma ambição vinda de dentro da Dacia para definir um ótimo programa”, insiste François Aupièrre.

Com o primeiro Sandrider T1+ da marca ainda em construção antes do arranque da fase de testes, o responsável da Dacia explica que é difícil apontar para objetivos nesta fase do projeto: “é difícil dizer que queremos vencer logo na primeira corrida. O que é certo é que queremos obter o melhor resultado possível o mais depressa possível e, porque não, vencer… Mas, temos de ter em conta que, por um lado, temos um excelente alinhamento, com o Sébastien [Loeb] e com o Nasser [Al-Attiyah], que sabem como vencer. Mas, por outro lado, temos de nos recordar que é um novo carro e que precisamos de ser fiáveis. Temos de fazer imensos testes para garantir que o carro é fiável. E se for fiável penso que os nossos pilotos podem consegui-lo. Por isso, sim, diria que vamos tentar alcançar o melhor resultado possível e, se possível, vencer o primeiro rali Dakar. Seria ótimo. Mas não podemos dizer que vamos vencer com um carro completamente novo”.

Essencial para a participação da Dacia neste programa é o recurso a combustíveis sintéticos, “o que é muito importante para nós, porque é um laboratório para perceber que não existe qualquer impacto na performance do motor, porque o nosso objetivo é tentar aplicar os combustíveis sintéticos no mercado comum. Pode ser uma resposta para o futuro, porque existe a resposta elétrica, a resposta híbrida, mas os combustíveis sintéticos também podem ser uma resposta. Porque na Dacia pensamos que não existe apenas uma resposta, mas sim várias. Pode ser uma e é por isso que nos comprometemos a fazer o Dakar com os combustíveis sintéticos”.

Na definição do programa, a ideia de um sistema híbrido foi rapidamente posto de parte, pelo peso e pela complexidade, embora Aupièrre indique que existe um “sistema elétrico inovador chamado ‘High Power‘ que nos permitirá fazer mais coisas, mas que não podemos explicar neste momento. Temos de testar ainda mais para saber que poderá mesmo ser algo importante”.

“A nossa ambição é ter uma solução de baixo carbono e pensamos que os combustíveis sintéticos podem ser bons”, reforça, clarificando, novamente, que sem necessidade de modificações no motor, esta solução “é a melhor que podemos ter porque podemos utilizá-la nos veículos de produção e pode ser utilizável facilmente no futuro”.

Envolvimento dos pilotos

O Sandrider teve uma abordagem de manter o essencial, explorando a abertura oferecida pelas normas do regulamento T1+ do campeonato, focando-se, sobretudo, no baixo peso e na agilidade, bem como na simplicidade mecânica, tomando em conta a opinião dos pilotos que participaram na fase de desenvolvimento deste modelo. Desde o início do projeto que pilotos e navegadores ofereceram a sua experiência para ajudar os engenheiros e projetistas no desenvolvimento do Sandrider, com incidência nas ferramentas de realidade virtual.

“No início, trabalhámos muito com ferramentas como a realidade virtual dentro do carro e eles puderam dizer ‘ok, isto está no sítio certo’ e desenvolvemos muito assim. Uma das coisas que os pilotos mais nos pediram foi uma boa visão, quer de dentro, quer para os principais componentes do chassis. A melhor visibilidade que possam ter é bom. A roda suplente, por exemplo, é fácil de tirar e ganha-se muito tempo. Implementámos também uma camada de pigmento anti-infravermelho que pode baixar o peso e a temperatura dentro do carro, baixando assim o consumos… ou seja, sempre menos. A Cristina [Gutierrez], por exemplo, pediu-nos para por uma placa magnética no carro. Porquê? Porque quando se está a fazer algum trabalho de manutenção pode-se perder uma porca, por exemplo, a mudar uma suspensão. Isto é simples e foi algo que nos pediram. Assim, muitos pedidos e perguntas que nos fizeram [no processo]”.

Quanto à escolha dos pilotos, nomeadamente, Sébastien Loeb e Nasser Al-Attiyah, a resposta é simples: “Queríamos duas equipas de pilotos que fossem rápidas e que soubessem como ganhar rapidamente, porque não temos um programa com a duração de dez anos”.

Os primeiros testes arrancam em final de abril ou princípio de maio, com o objetivo de verificar se tudo está a funcionar, seguindo-se depois um extenso programa de testes em Marrocos (durante nove semanas) que culminará na estreia em competição, precisamente no Rali de Marrocos, em outubro. Porém, o responsável da Dacia admite que essa será mais uma sessão de testes em ‘mundo real’ do que uma participação em busca de um resultado de excelência.

“Podemos dizer que a prova de outubro é também um teste, porque será a nossa primeira corrida. Nada é melhor do que uma corrida real. Isto ajudar-nos-á a definir e a avaliar o que aconteceu de bom e de errado. É em outubro, depois disso o carro vai para a Arábia Saudita em janeiro. Portanto, temos tempo suficiente para implementar alguma solução, se necessário, e se virmos alguma coisa relevante”.

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