Defensor da ideia de que a CUPRA não tem de ser do gosto de toda a gente, mas amada por quem os compra, Wayne Griffiths está a liderar o caminho da marca catalã de desportivos para a era da eletrificação, fazendo questão de garantir que esse rumo não se cruza com o da SEAT em termos de estratégia, nem de posicionamento. Para cimentar o crescimento, o futuro poderá passar também pelo mercado americano, algo que ainda está em análise.

Num setor que atravessa a sua maior transformação em mais de 100 anos, a CUPRA procura desafiar as convenções com uma postura irreverente e emocional que vai ao encontro de uma nova geração de condutores. Assente nesta filosofia, a marca espanhola cumpriu, desde o lançamento, em 2018, um percurso impressionante, com mais de 300 mil automóveis vendidos, tendo o ano de 2022 trazido um novo recorde – quase 153 mil unidades vendidas num só ano.

O “impulso exponencial”, como lhe chamam os responsáveis da marca, prevê uma continuidade no crescimento, mas sem virar as costas aos seus valores de rebeldia, desportividade e estilo, com Wayne Griffiths, CEO da CUPRA, a garantir que há características que são inerentes à companhia e que não podem ser perdidas.

“Não queremos fazer carros de que todos gostem ou que todos conheçam. Queremos fazer carros que algumas pessoas amem”, afirma. “Não ser tão conhecido tem, por vezes, as suas vantagens, porque torna-nos especiais. No entanto, para sermos uma marca relevante, temos de ter uma quota de mercado relevante e isso está definido como algo em torno dos 3% na Europa e creio que vamos chegar lá depressa. Se contarmos com este crescimento exponencial na base de um plano de produto sólido a longo prazo – que temos com o Tavascan, Terramar e Urban Rebel –, penso que vamos chegar aos 500 mil automóveis da CUPRA [vendidos], mais tarde ou mais, estabelecendo uma quota de mercado relevante”, acrescenta Griffiths, que tem também a seu cargo os destinos da SEAT, marca sobre a qual paira algum mistério quanto ao seu futuro. Mas Griffiths é muito pragmático quanto à situação.

“Creio que a separação entre as duas marcas é simples: a CUPRA é elétrica, provocadora, de performance e desejável e a SEAT é mobilidade acessível para uma jovem geração. Estão muito longe uma da outra, não há competição entre as duas e não há substituição, porque os clientes são diferentes”, afirmou, dizendo ainda que ter as duas marcas “é a melhor posição para se estar num mercado em que a eletrificação é totalmente heterogénea no mundo e até na Europa, onde há mercados com mais de 50% de elétricos e outros com menos de 10%. Ser capaz de oferecer os dois tipos de carros na próxima década é importante. Ter duas marcas tão claramente diferenciadas em termos de posicionamento e de tecnologia permite-nos explorar diferentes tipos de mercados sem competirem entre elas”.

Esse aspeto é também tido em conta quando explica o papel da CUPRA no seio do Grupo Volkswagen, que considera ter “o mais fantástico portefólio de marcas que qualquer grupo gostaria de ter”. De acordo com o CEO da CUPRA, a marca destina-se a “uma nova geração de clientes que procura algo novo e diferente, dando origem a novas marcas, não só no setor automóvel. Acreditamos que a CUPRA pode competir aí contra esses novos competidores. O nosso papel no grupo não é competir ou substituir as outras marcas internas. Estamos focados nas novas marcas que chegam de fora, como a Lucid, a Rivian, a Polestar, a Lynk & Co, NIO e muitas outras. Esse é o nosso papel e esses são os nossos rivais”.

‘Sonho americano’

Por outro lado, a CUPRA admite um desejo de relevância global, com expansão a novos mercados. O recente lançamento na Austrália demonstrou que a marca pode olhar para outros continentes com a convicção de sucesso, sendo que a América do Norte é uma das ambições por parte dos seus responsáveis. Por enquanto, está a decorrer uma análise para avaliar uma possível entrada na América do Norte.

“Em primeiro lugar, temos de pensar num ‘business case’ rentável e acreditar que a nossa estratégia fará dinheiro num dos mercados mais difíceis do mundo. Em segundo lugar, precisaríamos de ter uma marca atrativa para os clientes daquele mercado, tanto no seu poder, como no preço. Por fim, teríamos de ter produtos únicos que funcionem naquele mercado. A CUPRA é uma marca estabelecida na Europa e europeia que tem desenvolvido e vendido pequenos SUV e SUV compactos para os clientes europeus. Se quisermos ir para os EUA temos de ter carros maiores, mais em linha com os clientes locais, em decisões de portefólio que poderiam beneficiar outros mercados globais”, concede Griffiths.

Quanto ao próximo modelo da CUPRA a chegar ao mercado, sabe-se já que será o Tavascan em 2024, SUV compacto 100% elétrico que terá produção na China, naquela que foi “uma decisão estratégica”, segundo Griffiths, já que irá ser um dos primeiros modelos a ser produzidos numa nova fábrica do Grupo Volkswagen criada na China.

“Se tivéssemos de esperar pela Europa teríamos de esperar muito mais. Neste momento, a nossa capacidade de produção está totalmente consumida pela produção de carros de combustão e na preparação para os nossos primeiros elétricos pequenos, o Urban Rebel e o respetivo Volkswagen, que serão produzidos em Martorell e Pamplona [Espanha]. Estamos ocupados a fazer isso para os próximos anos e a China foi a oportunidade ideal para chegarmos mais depressa ao mercado com o Tavascan, partilhando sinergias no grupo porque existirão outros carros nesta nova fábrica que serão produzidos na mesma plataforma”.

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