São raras as famílias que não têm uma história para contar ligada ao Renault Clio, um dos modelos de maior sucesso em Portugal desde o seu lançamento. Lançado em 1990, o utilitário compacto já superou as 500 mil unidades vendidas em solo português e continua a ser um dos pilares para a estratégia da Renault, mesmo na época da eletrificação.

Lançado em 1990, o Renault Clio original foi uma ‘pedrada no charco’, sendo uma grande evolução face ao Renault 5 que substituiu. A marca procurava um automóvel mais moderno e que cortasse com a década de 1980, assumindo por isso uma designação não numérica e visual muito mais moderno.

Desde então, o Clio atravessou cinco gerações e teve de tudo um pouco: versões de duas portas, versões comerciais, versões desportivas e, mais recentemente, versões com acesso à eletrificação de forma a reduzir emissões e consumos. Além disso, o Clio tem também uma distinção muito honrosa, sendo o único, a par do Volkswagen Golf, a ter sido eleito por duas vezes Carro do Ano na Europa, em 1991 e 2006, coincidindo com as primeira e terceira gerações.

Enquanto modelo de enorme sucesso para a marca francesa (com mais de 16 milhões de unidades vendidas em 33 anos de existência), uma das constantes do Clio foi a de que sempre se manteve entre os mais vendidos do Velho Continente, com Portugal a não escapar, naturalmente, a essa tendência.

Assim, registam-se já mais de 500 mil unidades vendidas em solo luso, de onde até saíram algumas unidades do Clio, da fábrica da Renault em Setúbal, terminando a produção a 30 de julho de 1998. A fábrica da Renault também fechou portas então, com a produção do Clio a passar para a Eslovénia (cujos funcionários receberam formação, precisamente, dos portugueses de Setúbal).

Como dados que comprovam o sucesso do Clio, basta reparar que, dos 33 anos que tem de vida, esteve no pódio dos mais vendidos em 25 desses e que, apenas uma vez, em 2005, não esteve no top cinco absoluto de vendas.

Gerações sempre em evolução

Ao todo, o Clio tem cinco gerações, contando-se ainda com algumas atualizações de meio de ciclo entre gerações. A primeira chegou a Portugal em 1990, depois da apresentação internacional do sucessor do 5 no Salão Automóvel de Paris, em França, durando até 1997. Foram vendidos 172.258 exemplares no total, com 139.124 veículos ligeiros de passageiros e 33.134 comerciais ligeiros, sendo um autêntico sucesso arrebatador em termos de números. A atestar a sua durabilidade, ainda hoje é fácil encontrarem-se exemplares da primeira geração.

Um dos modelos mais carismáticos e também mais valiosos desta geração é o Clio Williams, modelo produzido para celebrar a parceria triunfante entre a equipa de Fórmula 1 Williams e a Renault, que cedia os motores à escuderia britânica – pilotos como Nigel Mansell e Alain Prost sagraram-se campeões tirando partido da eficácia do binómio carro-motor.

Este dispunha de um motor 2.0 atmosférico de quatro cilindros em linha, injeção multiponto e 147 CV de potência, que permitia atingir os 215 km/h de velocidade máxima. O chassis beneficiava de alguns ajustes feitos pela Renault Sport para tornar o modelo mais ágil e dinâmico, sendo também um sucesso. O número de unidades produzidas, no total, rondou as 12.000, sendo que hoje já se tornam raros.

A segunda geração comercializou-se entre 1998 e 2005, com um total de 163.016 unidades matriculadas, das quais 112.471 eram veículos ligeiros de passageiros e 50.545 comerciais ligeiros. O sucesso manteve-se, com o modelo a evoluir nas áreas-chave, para dessa forma apelar a um número de clientes ainda maior.

Numa nota também desportiva, este foi o modelo que deu origem ao nascimento da sigla R.S. (acrónimo para Renault Sport) em associação aos modelos de estrada da marca: o Clio R.S. nasceu em 1998, com um motor 2.0 de 172 CV, podendo atingir os 220 km/h de velocidade máxima e com afinações mais dinâmicas.

Mas, como se tal não bastasse, a Renault não evitou uma pequena ‘loucura’ com a criação do Clio V6, em 2001, dotado de um motor V6, como o próprio nome indica. Amplamente modificada, esta versão tinha sido desenvolvida em parceria com a Tom Walkinshaw Racing (TWR), nome associado à competição automóvel, nomeadamente a projetos como o da Jaguar em Le Mans no início da década de 1990. O motor V6, derivado do Laguna e de muito maiores dimensões do que os que eram vendidos inicialmente, foi instalado na secção posterior do Clio (tirando os lugares traseiros), tornando-se assim num modelo de tração traseira.

Inicialmente, desenvolvia 226 CV, subindo mais tarde para 255 CV para o Clio V6 Fase 2, ou seja, a atualização.

A geração que menos sucesso granjeou foi a terceira, que se comercializou em Portugal entre 2005 e 2012, coincidindo com a crise económica e financeira que assolou o país, mas que também viria a ‘espalhar’ efeitos para a geração seguinte. Carro do Ano Europeu em 2006, o Clio III foi reconhecido pelo seu enorme salto qualitativo, com um total de 65.107 unidades comercializadas, das quais 55.374 eram de passageiros e 9733 comerciais ligeiros.

Foi também a época em que as pequenas carrinhas com base em modelos de segmento B tiveram um pequeno ‘boom’ na procura, com o Clio a não escapar a uma tendência que procurava assim dar maior funcionalidade às pequenas famílias, mas sem crescer em demasia nas dimensões. A carrinha Clio tinha como rivais na sua geração os Peugeot 207 SW e o SEAT Ibiza ST.

Tal como a terceira geração, a quarta também sentiu os efeitos da crise, nascendo em 2012 e vendendo-se até 2019. Com 79.263 unidades matriculadas, ostentava já um design bem arrojado e muito mais dinâmico, com algumas influências do Renault DeZir Concept, apresentado pouco antes. Vendendo-se em carroçarias de cinco e três portas e também carrinha, o Clio IV vendeu 71.705 particulares de passageiros e 7558 comerciais ligeiros.

A atual geração, a quinta, foi lançada em 2019, sendo um marco tecnológico ao incluir já uma série de assistentes de segurança de primeira linha, mas também um foco redobrado na vertente da eletrificação, passando a dispor de solução híbrida E-Tech com patentes derivadas da Fórmula 1. Assente na plataforma CMF-B do Grupo Renault, o Clio V vendeu, até agora, 22.883 unidades, tendo beneficiando muito recentemente de uma atualização estética e técnica que melhorou os seus atributos em diversos aspetos.

Em termos de design, passa a contar com uma grelha diferente, para-choques retocados com nova assinatura luminosa em representação do losango da Renault na dianteira, novas jantes, tecnologia Full LED para os faróis e nova cor Rafale Grey. Ao mesmo tempo, estreia a versão Esprit Alpine, que vem dar corpo à identidade mais desportiva dos Renault, com aspeto mais dinâmico, novas jantes, tablier e bancos distintos, entre outros aspetos. Ainda em matéria de sustentabilidade, esta versão tem revestimentos dos bancos com 72% de fibras recicladas, ao passo que a gama está agora disponível sem pele de origem animal.

Outras das novidades do renovado Clio passam pelo novo sistema com replicação wireless dos smartphones, painel de instrumentos digital modernizado e ecrã central de 7 ou de 9 polegadas, dependendo da versão escolhida. As tecnologias de segurança são agora 20, incluindo assistentes de segurança como o cruise control adaptativo com stop & go ou o reconhecimento de sinais de trânsito. A gama foi também simplificada em três níveis de equipamento – Evolution, Techno e Esprit Alpine –, havendo uma redução do preço na gama, que começa agora nos 19.400€.

Sinais dos tempos

Ao nível das motorizações, também as diferentes gerações do Clio refletem os cenários industriais e sociais ligados ao automóvel. Da predominância da gasolina por motores atmosféricos no início, ao domínio do Diesel entre as décadas de 2000 e 2010, passando pela obrigatória eletrificação, o Clio incorporou também o que cada momento da indústria automóvel tinha como dominante.

Além da introdução da sobrealimentação nos motores a gasolina, outro dos aspetos relevantes foi a perda de popularidade do Diesel nos últimos anos, com a Renault a manter ainda uma opção a gasóleo como elogio à sua máxima de ‘liberdade de escolha’, ou seja, com diferentes propostas ainda à disposição do cliente – gasolina (TCe 90), GPL (TCe 100), Diesel (dCi 100) e híbrido (E-Tech 145).

Destes, a Renault continua a destacar a importância da tecnologia GPL, sendo um combustível que permite autonomia até 1100 quilómetros graças aos depósitos de gasolina e GPL, havendo agora até um indicador no painel de bordo da média de consumo do gás. Embora seja ligeiramente superior face à alimentação a gasolina, o preço do GPL substancialmente mais baixo torna-o numa proposta bastante vantajosa, emitindo 107 g/km de CO2.

Porém, é no E-Tech que a marca francesa deposita o maior número de fichas. A versão de 145 CV é bastante avançada, com um motor 1.6 a gasolina associado a um motor elétrico de tração (e outro como gerador) para uma potência combinada de 145 CV. Este sistema conta ainda com caixa de velocidades multimodo e bateria de iões de lítio bastante compacta de 1.2 kWh, sendo fruto de intenso desenvolvimento no mundo da Fórmula 1. O seu consumo mais baixo face a outras versões de combustão ‘puras’ deriva do facto de poder circular até 80% do tempo em modo elétrico em condução urbana.

A Renault apela ainda a que a fiscalidade destes automóveis eletrificados seja revista, na medida em que um modelo híbrido como o Clio E-Tech (e outros, como o Toyota C-HR 1.8 Hybrid ou o Honda Civic e:HEV…) pagam imposto sobre veículos (ISV) com base na cilindrada, embora tenham emissões tremendamente inferiores. A marca francesa apelida esta situação de “fiscalidade desajustada”, comparando até o TCe 90 a gasolina e o Clio E-Tech Full Hybrid 145 para mostrar a diferença: os dois têm 24 g/km de CO2 de diferença, mas o Clio a gasolina paga 11 vezes menos de imposto que o híbrido, que é mais eficiente (244,19€ contra 2632,78€).

Esta é uma situação que também revela que, na Cliopátria, há coisas que são difíceis de alterar.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.