Com o mercado europeu a direcionar-se no caminho dos automóveis 100% elétricos, a Dacia mantém uma postura de abertura, preocupando-se, acima de tudo, em oferecer soluções adequadas e acessíveis aos condutores do continente, como explica Xavier Martinet, vice-Presidente da Dacia para as áreas de Marketing, Vendas e Operações. Apesar da complementaridade com a Renault em termos de oferta de produto, garante também que não ficará “surpreendido se a próxima geração do Sandero tiver uma variante elétrica, em 2027 ou 2028”.

Profundo conhecedor do mercado europeu, Xavier Martinet, que também já passou por cargo de responsabilidade do Grupo Renault em Portugal, reconhece que a estratégia de complementaridade entre as marcas Renault e Dacia em termos de posicionamento de tecnologias, com a marca francesa a ter a seu cargo o estatuto de porta-estandarte na introdução da eletrificação a pensar já no futuro, enquanto a Dacia tem como objetivo oferecer uma gama mais multifacetada e a pensar nas necessidades dos condutores neste momento.

Essa mesma complementaridade, como diz, tem-se traduzido em excelentes resultados para ambas as marcas, já que têm vindo a crescer em termos de quota de mercado e de vendas na Europa, pelo que não vê razões para mudar, sobretudo quando analisa o ambiente extremamente desafiante da Europa, como comentou durante uma mesa redonda bastante exclusiva no Salão de Genebra.

“Atualmente, posicionámos as marcas no seio do Grupo Renault em patamares diferentes, porque é isso que nos permite fazer o que fazemos. Trabalhámos no sentido de traçar claramente a diferença entre a marca Renault, que está na vanguarda da eletrificação e dos veículos elétricos para o grupo, e a Dacia, que pretende promover a mobilidade de baixo carbono a preços acessíveis. Já viram que a Renault ganhou o prémio de Carro do Ano Europeu com o Scenic e que revelou o novo 5, a que se irão juntar os novos 4 e Twingo no futuro. Nós temos o Spring do nosso lado. A Renault está mesmo a apostar nos veículos elétricos”, enalteceu, traçando um caminho para a progressão da Dacia no capítulo da eletrificação.

“A questão não é se o conseguimos fazer – tecnicamente, temos todo o ‘know-how’ dentro do grupo. A questão é mais a de saber se o devemos fazer, se faz sentido e se os nossos clientes estão dispostos a comprar mais ou a gastar mais por um veículo elétrico atualmente. E a resposta é não. Por isso, mantemos esta complementaridade e, no ano passado, funcionou muito bem. Tanto a Renault como a Dacia cresceram em termos de quota de mercado na Europa e de vendas. Isto significa que há uma complementaridade que funciona, de facto. Haverá um momento em que teremos de introduzir os veículos elétricos também na marca Dacia. Portanto, temos a proibição dos motores de combustão interna prevista para 2035 e digamos que a decisão será para a próxima geração do Sandero. O atual Sandero foi lançado no final de 2020, no início de 2021, pelo que a próxima geração será lançada em 2027, 2028. Assim, com vista a 2035, não me surpreenderia ter uma variante elétrica na próxima geração do Sandero ou que fosse multienergia, se se quiser. A decisão ainda não foi tomada, pelo que não estou a fazer nenhuma revelação, mas não ficaria surpreendido se fôssemos nessa direção. Faria sentido”, acrescentou Martinet, que olha para lá apenas do mercado europeu.

“A plataforma também está ao serviço de veículos vendidos fora da Europa, ou seja, quer sob a insígnia Dacia, como em Marrocos e países do género, mas também com a insígnia Renault. Temos esta plataforma que está a ser usada em países fora da Europa. Por isso, nessa altura, ainda precisaremos de ter propostas com motor de combustão interna e, nessa altura, a Dacia poderá ser o melhor dos dois mundos. Se a Dacia estivesse sozinha ou fosse uma marca autónoma, não poderíamos estar a fazer o que estamos a fazer. O facto de termos o grupo com o posicionamento das duas marcas ajuda-nos realmente a ter escolhas claras e propostas claras para os clientes”, concedeu, indicando ainda que “se tivéssemos um tipo de carroçaria semelhante com os mesmos grupos motopropulsores a serem vendidos nos mesmos concessionários, não faria sentido tentar maximizar a cobertura do mercado europeu através desta complementaridade entre a Dacia e a Renault”.

Ou seja, para Martinet, “a questão não é técnica. A questão é mais sobre quando é que faz sentido. Já agora, basta olhar para o híbrido: podíamos estar hoje com o híbrido no Sandero. Quero dizer, o Clio e o Captur têm uma versão híbrida na mesma plataforma, mas seria mais caro e acreditamos que não é necessário. Acreditamos que hoje o GPL é uma proposta muito melhor e mais eficiente para esses clientes”.

Novos projetos, nova afirmação

Já o ano de 2024 será de grande relevância para a Dacia na medida em que permitirá introduzir novos modelos, nomeadamente o Spring e o Duster, mas também estabelecer uma nova postura para a companhia romena.

“Passámos de uma marca Dacia que era bastante limitada ao Sandero e ao Duster e expandimos a nossa gama. Agora temos quatro modelos: temos o Spring, o Sandero, o Jogger e o Duster e no próximo ano teremos o Bigster. Ou seja, é a transformação da marca em termos de cobertura de produto. E a ideia é que, com estes cinco modelos, possamos cobrir ou ir ao encontro de 80% do mercado europeu”, afirmou Martinet, destacando a prestação comercial do Spring, pequeno elétrico urbano com preço em torno dos 20.000€, que este ano terá uma versão completamente nova, e a importância do Duster para a imagem da marca.

“Em 2023, o Spring esteve no pódio de vendas de elétricos. Tivemos dois Tesla e o Spring, naquela que eu diria que é uma boa companhia para se ter, em termos de elétricos. O Sandero tem sido o líder das vendas a particulares na Europa desde 2017, o Jogger o modelo de segmento C mais vendido no segmento, naquela que é uma boa conquista, e o Duster continua a ser um dos SUV mais vendidos. Por isso, queremos continuar com esta tendência de que cada modelo encontra o seu cliente e vamos lançar dois novos modelos interessantes este ano, o novo Duster, modelo de terceira geração que é bastante impressionante para nós, porque não só acreditamos que é uma afirmação bastante forte do nosso ícone, como é uma afirmação muito forte da própria marca Dacia. Queremos mostrar com a nova geração do Duster que a Dacia está mesmo a evoluir e a modernizar-se com um design que é mais assertivo do que o que tivemos até aqui, com muita mais tecnologia a bordo. Mas, ao mesmo tempo, continua a ser um Dacia, ou seja, o mesmo pacote ‘best value for money’ no mercado. Queremos manter essa elevada taxa de conquista que temos hoje e essa taxa de lealdade. Mas também mandar uma mensagem às pessoas que não têm a Dacia na sua ‘lista de compras’, como que a dizer ‘hey, estamos aqui, estamos a mudar, mudámos e adicionámos alguns modelos bem interessantes, venham ver-nos’”.

“É também o que estamos a fazer com o Spring, que tem funcionado bastante bem para nós ao longo destes três anos. Foi lançado em 2021 e no ano passando vendemos 62.000 unidades na Europa, uma vez mais no pódio europeu. Mas, quero dizer… a concorrência está a chegar. Penso que abrimos o caminho, porque quando lançámos o Spring não existiam alternativas elétricas a menos de 20.000€ na Europa. As pessoas viram que resultava, os rivais viram que resultava e agora estão a chegar. Penso que o mercado de veículos elétricos na Europa está a desenvolver. Digamos que é um mercado volátil em que temos de estar sempre a investir para estarmos a par das novas tendências. Assim, uma vez mais, estamos a mostrar que Spring é importante para nós e que continuamos a investir no Spring”.

Quanto ao projeto do Dakar, com o Sandrider, este é um conceito que, de acordo com Martinet, serve para projetar uma nova imagem e um novo posicionamento da Dacia. Também presente no Salão de Genebra, o Sandrider T1+ teve a visita de um dos seus futuros pilotos, o francês Sébastien Loeb, mas o mais importante, para o responsável da Dacia na Europa é que este projeto de competição sirva “como uma afirmação forte da marca e para nós 2024 é mesmo isto: é muito mais sobre a marca do que sobre os seus produtos. Queremos mostrar que a marca está a avançar, que há cinco anos as pessoas compravam um Dacia porque era barato, mas agora compram um Dacia porque gostam, porque tem bom aspeto e tem todo o equipamento de que precisam. E com um preço muito ajustado. Esta é a mensagem que queremos passar: a marca está a evoluir, mas sem esquecer ou negar aquilo que somos e o ponto de partida. Ainda queremos ser a melhor oferta ‘value for money’ no mercado. É fundamental”.

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