Mal saímos do aeroporto internacional Henri Coanda em Bucareste, é impossível não reparar na frota de táxis que está à porta: é totalmente composta por modelos da marca Dacia.

 

Aqui, à semelhança Nova Iorque, também são amarelos e não é coincidência serem de uma marca nacional, tal como acontecia na cidade norte americana quando eram exclusivamente da Ford.

O nome é na verdade inspirado pelos Romanos quando chamaram Dacie ao território onde está hoje a Roménia e alguns países vizinhos. Apesar de jovem – foi criada em 1966 –, a marca já é um orgulho nacional, e este ano atingiu uma quota de 40,8% no segmento dos clientes particulares no mercado romeno.

Em 1999 a Dacia foi comprada pelo Grupo Renault, e em 2004 o primeiro Logan sai da fábrica de Mioveni, o local do nascimento de todos os Dacia desde 1968. Começou por fabricar o 1100, com a plataforma do Renault 8 durante o regime comunista, seguindo-se o 1300 baseado no Renault 12 em 1969 e cujo fabrico durou até 2004 com pequenas alterações ao longo dos anos.

O barulho da prensa gigante é ensurdecedor, enquanto molda os painéis que irão dar forma aos novos carros. A coqueluche da fábrica de Mioveni, a 130 quilómetros de Bucareste é a “prensa de alta velocidade”, onde a cada 10 segundos os robôs colocam uma chapa lisa e retiram o painel formado. Funciona em três turnos, cinco dias por semana, e pode mudar a produção para um molde diferente em apenas três minutos. É gerido por Alina Predescu, que se orgulha de o índice de controlo de qualidade do seu departamento ter atingido noventa e oito porcento.

da linha de montagem sai um carro a cada 55 segundos

Com apenas uma linha de montagem, da fábrica de Mioveni que emprega cerca de dez mil trabalhadores, sai um carro a cada 55 segundos que pode ser um dos quatro modelos que produz: Duster, Jogger, Logan e Sandero. O 100% elétrico Spring é construído na fábrica chinesa de Hubei. Este resultado, cuja performance atingiu o valor de 147% no índice de produtividade norte-americano Harbour, só é possível com a fábrica a funcionar seis dias por semana com três turnos durante 24 horas. Mas também porque depende da proximidade dos componentes, em que a maioria dos fornecedores estão num raio de até setenta quilómetros da fábrica.

Por muito bom desempenho que a fábrica possa ter, sem o departamento de design situado em Bucareste, não existiriam novos modelos para construir. A equipa é composta por cinco nacionalidades diferentes e metade está em França. O problema da distância foi superado por um software específico “Cinematic Room”, com o qual não há diferença para um designer que esteja a trabalhar em Bucareste, em Paris, ou a partir de casa. Para além disso tem ainda um novíssimo centro de modelagem 3D à escala real onde é possível trabalhar em três modelos diferentes ao mesmo tempo. A reputação do departamento é tão elevada que já atrai estagiários dos melhores cursos de design automóvel europeu.

80% das vendas são feitas a clientes particulares

Durante a sua apresentação, Denis Le Vot, CEO da Dacia, refere que “dentro do Grupo Renault nós fazemos as coisas à la Dacia way”, explicando que: “é a filosofia que nós transformamos num poderoso modelo de negócio, e assenta em três pilares fundamentais.”

Design para um custo definido: A plataforma do Clio levou dois anos a ser redesenhada por três mil engenheiros na Roménia para ser transformada no Sandero. Com a preocupação no essencial, no equipamento que realmente faz falta, e não nas tecnologias mais recentes.

Eficiência industrial: A gama simples de produtos da Dacia permite uma industrialização extremamente eficiente. As fábricas trabalham na sua capacidade total durante tês turnos, com uma elevada proporção de produtos locais.

Modelo de vendas: Um modelo simples, com mais de 80% das vendas a serem feitas a clientes particulares. Transparência de preços para os clientes – não há descontos: um preço justo – permite aos stands venderem mais facilmente. O que resulta num valor residual elevado e fidelização do cliente.

“Um Dacia é leve”, diz ainda Le Vot, “por isso consome menos recursos. Não tem cromados, nem interiores em pele. Tem um pequeno motor que consome menos que a maioria da concorrência.” O administrador admite que a receita da Dacia pode não agradar aos compradores mais velhos, mas reconhece que “os jovens de 20 anos dizem que isto é cool para o planeta.”

Em Portugal, os resultados são animadores para a Dacia: 7.725 unidades vendidas, mais 72% em relação ao mesmo período de 2022, e, pela primeira vez, a entrada no top 4 das marcas mais vendidas do mercado. A Dacia foi ainda a líder de vendas a clientes particulares, com 17% de quota de mercado. O Sandero e o Duster foram os dois modelos preferidos dos portugueses. Já o Spring foi o automóvel elétrico mais vendido a clientes particulares, e também o líder do segmento A, com uma quota de mercado de 20%.

O futuro da marca considerada a “jóia do Grupo Renault” pelo CEO Luca De Meo, passa pela entrada no segmento C com o novo Bigster em 2025, sempre com uma utilização eficaz e inteligente dos recursos disponíveis dentro do grupo. “Fazemos uma excelente sopa com as sobras da Renault” termina Denis Le Vot.