O novo Macan é emblemático para a transformação da Porsche: trata-se do primeiro modelo a fazer a sua transição dos motores de combustão para a eletrificação plena, procurando apelar a uma nova geração de condutores, mas respeitando o legado desportivo pelo qual é conhecida. Plataforma avançada, tração integral e 450 kW/612 CV de potência para fazer do Macan um símbolo da ‘nova’ Porsche.

O SUV mais pequeno da Porsche sofreu uma transformação total na sua passagem para a eletrificação. Desenvolvido como modelo integralmente elétrico e tirando partido da nova arquitetura PPE, o novo Macan sabe manter o carácter desportivo típico da Porsche, bem como o seu desenho desportivo com respeito pela herança da companhia germânica.

A história do Macan iniciou-se há dez anos, mais precisamente, em 2013, quando foi apresentado no Salão de Frankfurt, com a sua produção reservada para a fábrica da Porsche em Leipzig, um centro técnico de última geração para o desenvolvimento (inclui pistas de testes em circuito e fora de estrada) e produção de modelos (os Panamera e Macan saem desta fábrica).

Com dimensões compactas e posicionado abaixo do Cayenne, cujo sucesso superou todas as expectativas, o Macan não tardou a impor-se como o ‘best-seller’ da marca, assim continuando ao longo dos anos: até ao final do primeiro semestre de 2023, o Macan já havia vendido 68.354 unidades, mais 15% do que no passado.

Assim, a missão da marca na renovação do Macan foi arriscada: apostar apenas na eletrificação em detrimento dos motores de combustão, cumprindo simultaneamente as altas expectativas dinâmicas dos seus clientes. Mas este é o primeiro passo para uma futura gama de elétricos composta por 718, Macan, Cayenne, Taycan e, em 2026, um novo SUV posicionado acima do Cayenne, aprontando sobretudo aos mercados chineses e americanos. Para a Porsche, o compromisso de que o carácter dos seus veículos não irá mudar, continuando a primar pelo comportamento desportivo e emoção de condução.

Técnica de excelência

Na vertente técnica, são muitas as evoluções do Macan, com a plataforma PPE, desenvolvida em parceria com a Audi, a ser uma das mais relevantes, já que ‘abre a porta’ para lançar elétricos de ponta com arquitetura de alta voltagem (800 V), o que permite maiores potências de carregamento e reduz o número de cabos.

Essa plataforma, que até será estreada comercialmente pelo Audi Q6 e-tron, permitirá uma elevadíssima rigidez estrutural, ao mesmo tempo que irá oferecer otimização para a arrumação de componentes do sistema motriz e baterias. Tal como no Taycan, também serão usados motores síncronos de excitação permanente (PSM) de última geração, a que se associam ainda avanços significativos na eletrónica de controlo, com recurso a carboneto de silício (SiC) como material semicondutor para incrementar a eficácia do inversor do eixo traseiro, em vez de silicone. Isto permite reduzir significativamente as perdas no inversor e melhora a capacidade de resposta.

a carregar vídeo

Todos os modelos do Macan terão bateria de iões de lítio montada sob o piso e em posição central com uma capacidade total em redor dos 100 kWh. A bateria consiste em 12 módulos de células prismáticas (que podem ser reparáveis isoladamente), podendo ser recarregada a 270 kW de potência nos postos de alta velocidade, graças à tal arquitetura elétrica de 800 V. Dessa forma, pode repor de 10 a 80% em menos de 22 minutos. Mas, a Porsche reserva, até, alguns ‘truques’ para acelerar a rapidez de carregamento. Se a estação de carregamento apenas opera a tecnologia de 400 V, o Macan ativa um método de carga separada, ao dividir o pack de baterias em duas unidades de 400 V ligadas em paralelo para assim carregar mais depressa. O carregador de bordo de série é de 11 kW e o Macan disponibiliza duas tomadas de carga (esquerda e direita).

A integração também com o sistema de navegação mais avançado (como se poderá ler mais abaixo) terá o condão de possibilitar o pré-condicionamento da bateria a cerca de meio hora antes de chegar a um local de carga. Noutra funcionalidade de autopreservação, o sistema tem um método de condicionamento progressivo da bateria, em que se a temperatura da bateria for elevada por diversos dias, o veículo ativa o condicionamento da bateria para assegurar a sua durabilidade.

O salto importante na unidade de controlo da potência (‘Integrated Power Box’) permite que o Macan seja mais ‘inteligente’ nas suas funções: a distribuição do binário é feita de forma variada dependendo do modo de condução. Em modo normal a potência é transmitida apenas ao eixo traseiro, podendo o eixo dianteiro ser chamado de forma praticamente instantânea nas situações em que detete perda de aderência ou, por outro lado, em que seja necessário ativar o modo mais desportivo. Além disso, aglomerando numa só unidade o carregador de bordo CA, o aquecedor de alta voltagem e o conversor CC/CC, o peso total é de 19 kg, menos 3 kg do que os dos componentes convencionais.

Duas versões desportivas

As expectativas desportivas nas prestações ficam a cargo de motores elétricos síncronos de excitação permanente (PSM), que são bastante potentes e eficientes, incorporando novos avanços na refrigeração e na sua própria estrutura.

Inicialmente, o Macan será lançado com uma versão de entrada e uma de topo, a qual irá disponibilizar até 450 kW/612 CV de potência e mais de 1000 Nm de binário, o qual pode ser transferido ao asfalto praticamente instantaneamente. O Macan conta com um novo conceito de eixo traseiro, denominado Performance, no qual o motor é posicionado mais atrás para uma distribuição de peso na ordem dos 48/52 entre as duas extremidades do SUV compacto.

A potência é transmitida às rodas dos eixos dianteiro e traseiro através de uma transmissão de uma velocidade, mas com dois estágios de ação em vez de apenas um (que exige um disco maior), para assim ter um design mais compacto.

Nessa versão de ponta, o motor elétrico traseiro está ancorado diretamente à estrutura por via de quatro pontos, o que tem um efeito positivo na dinâmica de condução, com precisão na trajetória das rodas e elevada rigidez transversal. Outras especificidades dessa variante são o diferencial traseiro de série com controlo independente da potência entre os dois eixos dependendo da situação de condução e o eixo traseiro direcional (até 5º), reduzindo o ângulo de viragem (11,1 metros) em manobras ou melhorando a estabilidade a alta velocidade.

A regeneração de energia pode chegar agora aos 240 kW nas travagens mais fortes, beneficiando ainda de função ‘coasting’ em que se evita o desperdício da energia cinética ou a redução forte da velocidade quando se tira o pé do acelerador. Dessa forma, evita-se que o condutor volte a ter de acelerar para recuperar o mesmo nível de velocidade.

O acerto do chassis mantém as credenciais típicas da Porsche, ou seja, direção variável e 15% mais direta com assistência elétrica, bem como suspensão PASM com amortecedor de duas válvulas, que permite variar a altura ao solo consoante as necessidades – no total, pode alterar-se em 70 mm, entre os mais 40 mm (para off-road) e os menos 30 mm (para a máxima desportividades, por exemplo, em pista). Os modos de condução permitem diferentes abordagens à condução, com opções ‘Off-road’, ‘Normal’, ‘Sport’ e ‘Sport Plus’, sendo esta última claramente orientada para uma prestação mais desportiva. A gama de jantes, forjadas para baixo peso, vai das 20 às 22 polegadas.

Interior premium em evolução

Tendo estreado o conceito Porsche Driver Experience no Taycan, no qual a simplificação digital tornou-se mais evidente, a marca alemã continua a trilhar um caminho relevante no design dos seus interiores. O Macan não rompe decididamente com o passado em termos de habitáculo, mas dá mais um passo em frente na estruturação de serviços e funcionalidades de software pensadas para agradar a todos os tipos de clientes que adiram ao mundo Porsche e, neste caso, eletrificado.

O cockpit é focado no condutor, mesmo na era da condução cada vez mais assistida, pelo que os principais ecrãs e comandos úteis estão virados ligeiramente para o seu lado. Na filosofia da Porsche, o painel de instrumentos de 12.6″ é sempre o ponto mais alto do tablier, ou seja, é o ponto de destaque, como que a simbolizar a supremacia das emoções de condução sobre as de infoentretenimento. Um outro pilar é o da posição de condução baixa e desportiva, para ligar o condutor à experiência do volante. Ou seja, uma vez mais, fechando o círculo, é o condutor que é o ponto nevrálgico.

Sem surpresa, o painel de instrumentos é totalmente digital e de fácil configuração. O mostrador do lado direito, por exemplo, varia entre a navegação, dados de viagem, dados ‘Sport Chrono’ ou informações de multimédia. A tecnologia head-up display com função de realidade aumentada estreia-se na Porsche, com projeção simulada de dez metros à frente e área virtual de 87 polegadas. O mesmo se aplica aos sistemas de assistência à condução, incluindo alertas de distância, por exemplo. Este sistema é opcional, mas aporta consigo uma grande mais-valia em termos de funcionalidade e de segurança.

Os comandos por voz também foram bastante melhorados na resposta e na rapidez com que apresenta os resultados, mesmo com recurso à pesquisa online. Para recorrer à assistente virtual, o basta proferir o comando ‘Hey Porsche’, sendo que também pode agora incluir dados de aplicações de terceiros consoante forem sendo disponibilizadas. Para melhorar a interação, a marca recorre agora a um microfone com tecnologia de redução de ruído, com reconhecimento da voz de quem fala para evitar erros.

A respeito de aplicações e num mundo cada vez mais virtual e conectado, através de 5G, o sistema de infoentretenimento do Macan tem por base um ecrã tátil de alta-resolução de 10.9″, a partir do qual pode descarregar aplicações de terceiros, uma vez que o sistema da marca está baseado no Android Auto e tem cada vez mais apps disponíveis, como Spotify, YouTube, Webex (para navegação online) ou Zoom (para reuniões). Numa nota curiosa, cerca de 85% dos compradores da Porsche são proprietários de Apple iPhone, pelo que o Apple CarPlay tem funções adaptadas no veículo, como o mapa disposto no painel de instrumentos. O Android Auto deverá ter funcionalidades semelhantes mais tarde, mas o sistema operativo pode ser emparelhado na mesma.

O ecrã do passageiro é também novo no Macan, permitindo a utilização de todas as aplicações durante a condução por parte deste, sendo que um filtro impede que os vídeos distraiam o condutor.

A marca apregoa que a construção estará em altíssimo nível e com recurso aos materiais mais desportivos e nobres (as versões com que contactámos tinham a maior parte dos elementos do interior cobertos com panos pretos). A iluminação ambiente está assegurada com recurso a 56 LED no tablier e nas portas, que servem também de luz de comunicação para com o condutor ou ocupantes, respondendo a comandos de voz ou para alertar sobre perigos, como por exemplo na abertura de portas ao aproximar-se algum transeunte ou ciclista.

Há também iluminação de carregamento ativo, indicando de forma evidente quando está a carregar, e para o sistema ‘Launch Control’ com luz pulsante. Os modos de condução também variam a iluminação do habitáculo.

Planear a rota

Ao desenvolver mais esta evolução o sistema de infoentretenimento, a Porsche teve como objetivo melhorar a performance e rapidez do sistema com recurso às potencialidades do online.

A integração entre o sistema multimédia e a aplicação da marca, a ‘My Porsche App’, traz consigo potencialidades diversas, como é o caso do planeamento de rotas, com a marca alemã a escutar as experiências e feedback dos clientes do Taycan para assim oferecer algo melhor. Com recurso à ligação online, a redução do tempo de espera no planeamento foi um dos pontos em que a Porsche investiu bastante nesta evolução da aplicação. O condutor tem agora opção para mostrar apenas os postos de carregamento que estão disponíveis para evitar deslocações desnecessárias e frustrantes para o condutor.

Existe um ecossistema integrado e totalmente adaptado ao estado do veículo, com aplicações e funções que tornam a vida do condutor mais simples. Reconhecendo que o software é hoje um dos elementos fundamentais dos automóveis e essencial para os condutores (e ocupantes), o Macan terá um elevado grau de localização (isto é, adaptação aos mercados) para se focar mais nas necessidades dos clientes dessas áreas. Por exemplo, sendo bastante diferente, o mercado chinês terá uma versão dedicada do software de infoentretenimento com as suas próprias aplicações de redes sociais e de trabalho.

O tempo dos serviços incluídos é de dez anos, ao passo que os pacotes de dados estão incluídos por quatro anos, embora com quantidade limitada.

O ecrã do passageiro é também novo no Macan, permitindo a utilização de todas as aplicações durante a condução. Os vídeos também podem ser vistos, com um filtro de visualização para o ecrã do passageiro que impede a distração para o condutor. Os jogos também podem agora ser jogados a partir do ecrã do veículo.

O novo Macan será lançado em meados de 2024, mantendo-se ainda em desenvolvimento, tanto em percursos de asfalto, como fora dele, esperando-se mais detalhes em breve.

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