Meia volta à Córsega no Citroen C3 Aircross

25/10/2017

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No dia em que o novo Citroen C3 Aircross aterra em Portugal, com o mesmo tipo de pretensões ao emergente mercado dos SUV compactos de cidade que Napoleão teve em relação à Península Ibérica e ao trono português, eu faço o percurso inverso até à Córsega, palco da apresentação internacional do pequeno conquistador gaulês

Foi precisamente esta ilha, a quarta maior do Mediterrâneo, que viu nascer, no dia 15 de agosto de 1769, um pequeno e tempestuoso corso chamado Napoleón di Buonaparte, imperador de França e que foi o pior pesadelo das cabeças coroadas da Velha Europa no séc. XIX. A casa onde nasceu, na capital da Córsega, Ajaccio, está ainda de pé e os sinais orgulhosos do seu berço estão espalhados um pouco por esta bela cidade de encanto mediterrânico.

É aqui o ponto de partida para um “Tour de Corse” com o Citroen C3 Aircross, o novo Crossover urbano da marca do double chevron, sucessor do C3 Picasso, que à semelhança de Napoleão pretende conquistar a Europa no mais aguerrido segmento de mercado do momento.

Só nos últimos meses entraram no campo de batalha modelos como o Hyundai Kauai, Kia Stonic, SEAT Arona ou o Opel Crossland X (com quem partilha muitos elementos mecânicos) e que pretendem destronar o Renault Captur e o Nissan Juke da liderança deste segmento.

Coração verde em mar azul

A Córsega é uma região administrativa da França, mas o seu coração bate em italiano, o que legitima os impulsos de independência e separatismo dos corsos desde que foram anexados pelos franceses há 250 anos.

O dialeto local é parecido com o toscano e um dos grandes heróis corsos da luta pela independência, Pasquale Paoli, descreveu bem este sentimento: “Nós nascemos italianos pelos sentimentos, mas, em primeiro lugar, nos sentimos italianos pelo idioma, pelas raízes, pelas tradições. Todos os italianos são irmãos para a história e para Deus”.

Como não estou cá em missão diplomática, esquivo-me destas questões políticas e passo à estrada, nesta ilha tocada por Deus. Um imenso coração verde de floresta mediterrânica e montanha que se estende, inexpugnável, até ao litoral, recortado em pedra de falésias ameaçadoras ou belas praias onde o mar se espraia com uma cor única de insustentável leveza de azul.

A Córsega é um paraíso natural que convida a uma road trip entre a imperial Ajaccio e a esfusiante cidade de Bastia, capital da Alta Córsega. Pelo caminho, praias de sonho como Palombaggia, Saleccia e Lodo, baías de cortar a respiração, montanhas a perder de vista, parques naturais, com destaque para a Reserva Natural de Scandola e vilas e aldeias, preservadas e medievais, onde é possível saborear calmamente uma gastronomia que combina a tradição italiana com a francesa, temperada por vinhos de carácter e reputação.

A ligar todo este encanto da ilha verde, estradas, maravilhosas estradas. Sinuosas, traiçoeiras, recortadas entre penhascos e montanhas, com o imenso Mediterrâneo a inundar a janela do C3 Aircross.

É aqui nesta bela ilha verde que se disputa um dos mais dramáticos ralis do Mundial, a Volta à Córsega, antigamente conhecido como o “Rali das 10 mil curvas” e que foi palco de alguns dos momentos mais trágicos da história dos ralis, com os acidentes mortais de Attílio Bettega e de um dos meus ídolos de infância, Henri Toivonen, que despenhou o seu Lancia num penhasco, provocando a sua morte imediata e a do seu navegador, Sérgio Cresto no dia 2 de maio de 1986. Não correrei riscos de velocidade excessiva, até porque este C3 Aircross que partilho com o meu amigo João da Silva da revista AutoFoco, não é propriamente o Lancia Delta do Toivonen.

Este é um crossover urbano para umas escapadelas de montanha que tem debaixo do capot um motor 1.2 Puretech de uns modestos, mas honestos 110 Cv. É esta a montada que temos para uma meia volta à Ilha da Córsega, já que o programa é curto e não nos levará à Alta Córsega, apenas à Reserva Saparella, mais a Sul de Ajaccio.

Ainda tem uns tracinhos de monovolume

A primeira coisa a dizer sobre o C3 Aircross é que é inconfundível. Ou seja, não se confunde com nenhum dos seus rivais. Isto porque os designers da marca optaram por fazer um verdadeiro crossover; a meio caminho entre um pequeno SUV e um monovolume.

O C3 Aircross é assim para o género balofo, com uma frente bastante imponente e com formas arredondadas e bojudas que lhe dão um certo ar de bonacheirão capaz de se meter por maus caminhos. A altura ao solo não aconselha grandes avarias (17,5 centímetros), mas para sublinhar as suas capacidades de TT light a Citroen dotou-o de um sistema de Grip Control com função de um assistente de descidas inclinadas, sistemas quase inéditos neste campeonato. O Grip Control é um programa de gestão eletrónica que permite adaptar o controlo de tração ao tipo de piso e aderência.

Para sublinhar as suas capacidades de TT light a Citroen dotou-o de um sistema de Grip Control com função de um assistente de descidas inclinadas

Ainda no domínio das tecnologias de auxílio à condução, a Citroen oferece à dúzia que é mais barato. Destaque para elementos como: head up display, assistente de travagem de emergência, Park Assist, câmara de visão traseira ou a comutação automática de máximos.

Para controlar as funções de entretenimento e navegação a marca francesa recorre ao Citroen Connect Nav 3 D táctil com possibilidade de conexão a smartphones e ao Citroen Connect Box, que permite ter acesso aos diferentes serviços conectados durante três anos sem pagar.

A gama em Portugal é composta por três níveis de equipamento (Live, Feel e Shine) e por um conjunto de cinco motorizações: Três blocos a gasolina 1.2 Puretech com diferentes níveis de potência (82 Cv, 110 Cv e 130 Cv) e dois propulsores Diesel 1.6 BlueHDi com dois níveis de potência (100 e 120 cavalos). A transmissão é dianteira (para já não está prevista uma versão 4×4) e manual de cinco ou seis velocidades. A caixa automática está apenas disponível na versão 1.2 Puretech a gasolina de 110 Cv.

As hipóteses de costumização e combinação de cores do C3 Aircross são de deixar o potencial cliente numa crise de definição cromática. Há 85 combinações de cores exteriores, complementadas por 3 cores de tejadilho. A minha preferida é o azul, vai bem com o mar Mediterrânico, e quanto ao tejadilho, a minha cor preferida é a do tecto panorâmico, para ver o céu de nuvens claras e majestosas sobre a ilha da Córsega.

Os preços em Portugal não são de bradar aos céus, e iniciam-se nos 15.900 euros, preço de combate que coloca em posição de assalto aos líderes do segmento. Apresentações feitas, vamos para a estrada, que já se faz tarde.

Espaçoso e confortável

De Ajaccio dirigimo-nos para o sul da ilha, iniciando a grande serpente de curvas da encosta. A estrada é estreita e a primeira perceção é que o carro é “gordinho”, porque é largo e pouco ágil, mas sobretudo porque não é fácil percebermos onde ficam as suas extremidades quando vamos ao volante. A posição de condução é alta e vai agradar todos aqueles que gostam de guiar como se estivessem sentados num andaime a ver a estrada.

O João da Silva vai ao volante a tentar manter-se na sua faixa sem pisar o risco, o que me dá tempo para ir cuscando o habitáculo. Há muitas coisas que gosto, o design e apontamentos de estilo que são modernos e “catchie”, os espaços de arrumação espalhados pelo habitáculo e, sobretudo a luminosidade.

Os preços em Portugal não são de bradar aos céus, e iniciam-se nos 15.900 euros, preço de combate que coloca em posição de assalto aos líderes do segmento

É um carro muito agradável para andar a passear em estradas cénicas como estas da Córsega, porque o ângulo de visão é amplo e as superfícies vidradas asseguram boa entrada de luz. Depois o espaço, quer à frente, quer atrás. O facto de ter ainda uns tracinhos de monovolume reflete-se quer no espaço para os passageiros do banco de trás (mais generoso que alguns dos seus rivais), quer na capacidade da bagageira, que ascende aos 410 litros de capacidade. A modularidade é outro dos trunfos do C3 Aircross, que pode inclusive rebater o banco onde agora vou sentado, para meter lá dentro, por exemplo, a prancha de surf.

Depois de brincar um pouco com as funções de infoentretenimento no ecrã táctil, que é intuitivo e fácil de usar, começo a ficar um pouco enjoado e peço ao João para me passar a “rodela”. Agora é a vez dele enjoar.

Mais joie de vivre do que prazer de condução

Sabendo que partilha muitas coisas com o Opel Crossland X, temi que aa direção fosse tão hesitante e vaga como a do seu primo alemão. Felizmente, a Citroen deu-lhe um apuro e acerto diferente. Não sendo um fenómeno de precisão, informa e responde às ordens do timoneiro. O ziguezague de curvas de montanha continua e sem imprimir um ritmo muito elevado é possível perceber que a Citroen se preocupou em evitar os naturais balanceamentos de carroçaria, mesmo tendo de tirar uns pozinhos de conforto da suspensão.

Este C3 Aircross incorpora, tal como o C3, o programa de Citroen Advanced Confort, uma visão holística do conforto a bordo de um automóvel que compreende novos bancos (bem confortáveis e com excelente apoio), o recurso à técnica de colagem estrutural que permite o reforço estrutural da carroçaria e, finalmente uma nova e revolucionária suspensão de duplo batente hidráulico, que permite à suspensão trabalhar em dois tempos — extensão e compressão — em função das solicitações, evitando dissipações de energia que têm sempre efeitos nos movimentos verticais e longitudinais do chassis.

O C3 Aircross é provavelmente o mais confortável e familiar automóvel da sua classe, mas não é certamente o mais dinâmico ou divertido de conduzir

Desta forma a Citroen promete maximizar a eficácia da sua suspensão, elevando os patamares de conforto com um sistema mecânico que não depende da eletrónica, o que lhe garante ainda uma maior fiabilidade. O que me parece óbvio é que em relação ao C3, a Citroen foi obrigada a imprimir uma maior firmeza na sua suspensão por causa da volumetria e de suavizar o balanceamento em curva, o que se traduz num pequeno sacrifício do conforto.

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Ainda assim, no global, o C3 Aircross é provavelmente o mais confortável e familiar automóvel da sua classe, mas não é certamente o mais dinâmico ou divertido de conduzir. Falta-lhe a agilidade ou rapidez em curva, que oferecem, por exemplo o Renault Captur ou o Seat Arona. Em compensação, oferece aquele “Feel Good Factor”, difícil de explicar, mas que se traduz numa condução descontraída e bem disposta, capaz de estampar um sorriso nos lábios.

O motor 1.2 de 110 Cv dá para os gastos, consegue recuperações interessantes, só se apaga um pouco em subidas mais inclinadas, mas é preciso não esquecer que o seu principal objetivo é moderação nos consumos.

É pois em ritmo de alegre passeio que vamos cantarolando músicas francesas pelas estradas da Córsega até chegar ao nosso destino, a Reserva Saparella onde vamos pernoitar num grande acampamento com tendas de safari, não sem antes dar um belo e retemperador mergulho no Mediterrâneo e fazer um snorkling de fim de tarde a ver os peixinhos no mar.

La joie de vivre, que é toda a mensagem que a Citroen quer passar com os seus novos automóveis, especialmente com este C3 Aircross, um carro para gente feliz.

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Preços:

C3 Aircross 1.2 Puretech 82 CV Live – 15 900 euros

C3 Aircross 1.2 Puretech 110 CV Feel – 18 500 euros

C3 Aircross 1.2 Puretech 110 CV Auto Feel – 20 300 euros

C3 Aircross 1.2 Puretech 130 CV Shine – 21 400 euros

C3 Aircross1.6 BlueHDi 110 CV Live – 19 900 euros

C3 Aircross 1.6 BlueHDi 100 CV Shine – 23 600 euros

C3 Aircross 1.6 Blue HDi 120 CV Shine – 24 400 euros