Novo Nissan Juke: O regresso do agente irreverente

03/09/2019

Ajudou a criar um segmento e, com a chegada de concorrência implacável, evolui ao sabor dos novos tempos. Ou antes, produz uma revolução sobre si mesmo, com uma mudança substancial que o transforma num SUV mais amigo das jovens famílias, mais tecnológico e sempre com o seu ambicioso design irreverente.

Um dos ícones da gama crossover da Nissan renovou-se por completo após uma década de bons serviços. O Juke, que foi um dos precursores da moda de transformação dos modelos de segmento B em SUV de menores dimensões ainda no início da década, evolui para uma nova geração com ganhos significativos nas dimensões, no espaço a bordo e na vertente tecnológica, ao mesmo tempo que mantém a imagem tão irreverente e única que o destacou no passado.

Mas, voltemos apenas um pouco atrás no tempo. Quando foi lançado, o Nissan Juke tinha uma posição muito singular: poucos rivais, um visual tremendamente irreverente que fez levantar a sobrancelha a muita gente, mas também uma enorme proximidade ao concept de que derivou, o Kazana. No entanto, ao longo de quase uma década, operou-se no mercado europeu uma reviravolta completa de todos os paradigmas para uma situação atual em que a tendência SUV é dominante (bem como as motorizações a gasolina).

Ou seja, hoje, todas as marcas generalistas têm um modelo de segmento crossover para o segmento B e, num outro trejeito curioso do mercado, até posicionando-se entre segmentos, não sendo nem B, nem C, mas qualquer coisa no meio. Ou, como Thibaut Louisy, gestor de produto do Juke na Nissan Europa, prefere chamar, um SUV-B Plus, algo que apela aos condutores que descem dos SUV-C, mas que não querem perder tecnologias ou demasiadamente em espaço.

É precisamente nesta casa que o novo Juke se integra, crescendo notoriamente face ao anterior, algo que fica de imediato percetível pela maior largura e pelo maior comprimento, que lhe dá mais espaço nos bancos traseiros e na bagageira (422 litros) e linhas muito mais retas nesse compartimento, mesmo que não tenha sido uma das prioridades no desenvolvimento. Calhou bem, no entanto.

Tão bem quanto as linhas exteriores, que se mantêm como um dos atributos mais fortes do Juke, como nos explicaram os responsáveis da equipa de design da Nissan, que procuraram dotar o novo SUV de visual sempre irreverente e jovem, mas que responderam também às necessidades de eficiência aerodinâmica. Assim, em destaque na dianteira, uma aproximação à nova imagem da marca, com a grelha ‘V-Motion’ a envolver-se com as luzes diurnas em LED na parte superior e a iluminação principal (também em LED, de série) na parte inferior e com uma assinatura em ‘Y’, prosseguindo assim com a tendência de separação nos grupos óticos, algo que no primeiro Juke era quase uma exclusividade e que hoje se aplica também noutros modelos como o Hyundai Kauai ou no Skoda Kamiq. Louisy refere que se procurou manter uma imagem também agressiva na traseira e no perfil mais ao jeito de um coupé, reforçado pelos vincos fortes acima das cavas das rodas e pelos próprios ‘ombros’ largos que albergam jantes até 19 polegadas, algo que é único no segmento.

Maior e mais leve

A plataforma utilizada foi a CMF-B, que é partilhada com a Renault na Aliança e que, quando foi desenvolvida entre as integrantes da parceria, foi já pensada para este modelo da Nissan, sendo este mais pensado para a vertente dinâmica, dizem-nos os responsáveis da marca presentes em Barcelona. Reconhecendo que o anterior era firme, sobretudo em mau piso, a preocupação com a obtenção de um compromisso mais delicado entre conforto e dinamismo foi primordial, conforme acrescenta o gestor de produto. Para tal, todos os elementos de ligação ao solo são específicos da Nissan.

Com o aumento de dimensões o peso não se descontrolou. Antes pelo contrário. Com um comprimento de 4210 mm, altura de 1595 mm e largura de 1800 mm, o novo Juke consegue ser 23 kg mais leve graças à utilização de aço de resistência ultra elevada. A distância livre ao solo também aumentou, sendo agora de 179 mm.

A bordo, também nova revolução, com foco maior na qualidade. Embora esta fosse uma unidade de pré-série, ainda com pontos a melhorar sobretudo na montagem, a ideia geral é de que o ambiente deu um grande salto em frente em matéria qualitativa. O tablier surgia composto por materiais macios e revestido na parte diante dos passageiros por elemento em Alcantara, específicos da linha de equipamento desportivo. De resto, volante desportivo com base plana, ecrã tátil de 8 polegadas bem no centro da consola central (com uma série de novas funções e teclas de atalho) e componentes em preto brilhante e cromado produzem um ambiente de maior qualidade percebida. Nas portas, a parte superior em plástico duro contrasta com o painel central em Alcantara.

Atrás, os ganhos na habitabilidade são significativos, sendo isso bem evidente ainda antes de entrar no habitáculo, já que as portas traseiras são mais longas. Mais espaço para as pernas e em altura revelam que o Juke cumpre agora melhor com o seu lado familiar, algo que a bagageira de linhas mais retas e piso duplo (com os já referidos 422 litros de capacidade).

De acordo com a marca, o espaço para as pernas nos bancos traseiros cresceu 5,8 cm, ganhando também 1,1 cm no espaço entre assento e tejadilho. A facilidade no acesso e saída também foi merecedora de trabalho por parte da Nissan.

Ainda na carroçaria, vão existir 11 cores à escolha, havendo uma nova na forma da Fuji Sunset, com a possibilidade também de contar com tejadilho flutuante pela combinação de cores.

Motor 1.0: Escolha única para já

Com o segmento cada vez mais refém das motorizações a gasolina, não é de estranhar, por isso, que o novo Juke tenha como primeira aposta precisamente uma mecânica a gasolina de 1.0 litro com 117 CV. Este bloco 1.0 DIG-T com injeção direta e turbo, tem uma arquitetura de três cilindros e é observada pela Nissan como aquela que “oferece maior equilíbrio entre prestações e consumos”. Está disponível com uma caixa manual de seis velocidades ou automática de dupla embraiagem (DCT) de sete velocidades partilhada com a Renault e com um seletor de modo de condução (Eco, Standard, Sport), com o qual os condutores podem fazer corresponder o seu estilo de condução a qualquer cenário de tráfego, para um máximo de diversão na estrada. Thibault garante-nos que houve um esforço para que os modos fossem realmente diferentes entre si. Quanto a mais hipóteses de motores, ‘nada a declarar’…

Tecnologicamente, o Juke também não desaponta, com as diversas tecnologias de infoentretenimento e de apoio ao condutor da Nissan, incluindo a ProPILOT, que oferece direção assistida, aceleração e travagem controladas eletronicamente. Concebida para utilização em autoestrada com trânsito de faixa única, o sistema ProPILOT acelera e desacelera o JUKE para manter a distância e velocidade em relação ao veículo precedente e mantém o automóvel centrado na faixa de rodagem.

Mas, em matéria de segurança, há mais na lista de equipamento: sistema Inteligente Anticolisão com Identificador de Peões e Ciclistas, Identificador de Sinais de Trânsito, Sistema Inteligente de Manutenção de Faixa, Alerta de Trânsito Traseiro e Intervenção de Ângulo Morto que, além de avisar o condutor quando um automóvel entra no seu ângulo morto, traz o Juke de volta para a sua via.

Com o novo sistema NissanConnect, é possível utilizar o Apple CarPlay e o Android Auto para espelhar as suas aplicações do smartphone no ecrã tátil de 8 polegadas. Os condutores também podem aceder aos mapas e às informações de trânsito em direto da TomTom (gratuito por três anos) ou ativar o seu Wi-Fi de bordo para permitir que os passageiros liguem os seus computadores portáteis e tablets.

Por outro lado, numa evolução face ao sistema que já se encontra no Micra, o Juke disponibiliza uma nova variante do sistema de áudio Bose Personal Plus, que tem oito altifalantes, dois dos quais nos encostos de cabeça dos bancos dianteiras (altifalantes denominados Ultra Nearfield).

A nova geração do Nissan Juke continuará a ser produzida na fábrica da Nissan em Sunderland, no Reino Unido. As primeiras entregas estão previstas para o final de novembro para os mercados europeus.

Agentes especiais por uma manhã
O convite da Nissan para ficar a conhecer o novo Juke tinha um foco de curiosidade, quase como um desafio: ‘seja um agente secreto e descubra o novo Nissan Juke em Barcelona’. Foi mais ou menos desta forma que o convite chegou às redações, deixando em segredo as imagens do carro e o próprio programa. Foi preciso chegar à Catalunha e ao próprio dia do evento para se ter uma outra noção do que estava para acontecer. Assim, pela manhã, fomos incumbidos da tarefa de procurar o carro num local secreto – na verdade, não o procurámos por aí além já que o porta-voz português da marca indicou-nos o caminho, temendo quiçá que fôssemos desviados por qualquer outra missão…
Fomos depois recebidos por uma espécie de Mr. Q, ‘à la James Bond’ que nos revelou este projeto secreto, destapando-o por inteiro para nos deixar ver a próxima montada de agente secreto. Ecrãs com números a correr por todo o lado, o Juke em laranja eletrizante na sala e um ‘técnico’ a mostrar-nos as grandes novidades deste crossover à volta do mesmo: eis a forma como vimos e entrámos neste crossover pela primeira vez tal como está na imagem desta caixa.
Mas não foi aqui que descobrimos todos os seus segredos (ou quase, já que alguns temas ficaram por arrancar aos homens da Nissan…). Esses foram-nos contados pelos engenheiros e responsáveis da marca numa bem mais vulgar sala contígua. Cerca de uma hora depois é tempo de partir. Os tempos de agente especial tinham acabado e, afinal, tal como havíamos chegado ao local – a pé – saímos sem qualquer veículo especial capaz de lançar mísseis a partir da grelha dianteira.
Ser agente secreto também já não é o que era…

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