Novo Audi A6: Conforto e tecnologia de classe executiva

22/05/2018

“O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. – Miguel Torga in “Diário XII”

O novo Audi A6 é proposta fortíssima da marca germânica. Tecnologia, design, espaço e conforto, está lá tudo o que se quer numa berlina que se apresenta com bons argumentos para bater uma concorrência feroz.

Cenário: o “Doiro sublimado” de Torga e as estradas que lhe serpenteiam as margens. Chamava-lhe o poeta “um excesso de natureza”, não será exagero afirmar que, durante alguns dias, o protagonista não foi só paisagem. No plano entra a estrela desta curta metragem: o novo Audi A6, um excesso de automóvel, digo eu. A apresentação internacional do sedan da marca alemã foi um filme rodado em terras lusas e, ao volante, fui apenas figurante em cenas em que as principais deixas ficaram a cargo do automóvel.

A marca de Ingolstad apresentou a oitava geração do Audi A6 oferecendo sério rival ao Série 5 da BMW, ao Jaguar XF, ao Classe E da Mercedes-Benz, sem esquecer o Volvo S90 ou o Lexus GS. O que veste este Audi A6 que o pode fazer destacar-se na passadeira vermelha reservada ao segmento? Um elenco de equipamento com foco na tecnologia, conforto e espaço, design sofisticado e uma performance que permite desfrutar de alguma adrenalina inerente a uma condução mais desportiva. Caso sejam estes critérios no casting do cliente, então sim, será condutor satisfeito. Partilho a experiência vivida nesta Premiére.

O que é que o A6 tem?

A primeira impressão é refém do exterior e essa tive oportunidade de partilhar quando ao A6 fui, pela primeira vez, formalmente apresentada em ambiente exclusivo e controlado. A berlina mantém-se fiel para que a assinatura da marca alemã se reconheça à primeira vista, mas a sensibilidade ao pormenor permite descobrir as diferenças.

O novo Audi A6 pode parecer muito semelhante à versão anterior, mas não é. Houve evolução subtil que garante distinção do A7 e do A8 ainda que os traços Audi sejam percetíveis. A grelha singleframe é característica a que a marca nos habituou, mas neste automóvel a imponência transmite-se pela robustez do músculo aliado à aerodinâmica marcada por linhas mais arrojadas. O aperfeiçoamento de dimensões resulta numa versão ligeiramente maior do que a anterior. Tem agora 4,94 m de comprimento, 1,89 de largura e 1,46 m de altura. Isto representa um aumento de 7 milímetros no comprimento, 12 na largura e 2 milímetros na altura em relação à versão anterior. Já a mala mantém a capacidade generosa para 530 litros.

Tirei as medidas à versão exposta, em vermelho, e levantou-me algumas questões estéticas…não é a minha cor, admito. Mas para os mais extrovertidos é garantia de nunca passar despercebido e, cores e gostos à parte, este é, simplificando, um automóvel bonito e com classe agora comprovada fora do estúdio de fotografia, com o favorecimento da luz natural.

Refira-se também o capô longo e o fluir de linhas que leva o olhar pelo tejadilho até à traseira em continuidade harmoniosa atribuindo-lhe traços distintivos. Destaque para as óticas angulares, com opcional de tecnologia de iluminação HD Matrix LED, e para os piscas de iluminação dinâmica.

Riqueza interior

“O luxo tem que ser confortável ou não é luxo” – Coco Channel

Luxuoso. É palavra batida, mas define bem o interior do A6. A excelência dos materiais como a madeira, a pele de alta qualidade, os plásticos suaves ao toque, revela que o cuidado com o detalhe passa pelas texturas e pela qualidade mas não só. Com a tecnologia a impor-se em força, é arte criar um ambiente em que esta não se sobreponha à estética. O Audi A6 é bem-sucedido na simbiose entre estes elementos, há contraste, mas subtil.

O painel de instrumentos digital, o Audi Virtual Cockpit, tem 12.3” e o ecrã do sistema de infoentretenimento 10.1”. Há ainda o mostrador digital de controlos da climatização. Os ecrãs centrais recorrem ao sistema operativo MMI, com funcionamento melhorado para as instruções de controlo por voz. Os três painéis não são presença agressiva e, do ponto de vista do utilizador, permitem controlo bastante intuitivo. Os parâmetros personalizáveis recorrem ao sistema de “drag and drop”, ao qual estaremos todos mais que acostumados, pelo que, de forma simples, é possível ajustar a posição dos ícones consoante a sua utilidade para o condutor.

Os bancos dianteiros ventilados são um “nice to have” e o sistema de som Bang & Olufssen uma necessidade para quem, como eu, não faz estrada sem banda sonora. Toda uma experiência de conforto e luxo para viver num habitáculo elegante e “arrumado”. Há vários pequenos compartimentos e um destinado a carregamento wireless de telemóvel.

O espaço não é questão, tanto à frente como nos lugares traseiros. Os comandos de controlo de posição de bancos, rápidos de encontrar (sim, porque não são poucas as vezes em que é preciso perder tempo à procura), como tal, conseguir estado de conforto em viagem é simples para os quatro (ou cinco) ocupantes.

As funcionalidades de conectividade permitem que o sistema de navegação calcule os percursos tendo em conta o trânsito em tempo real e para esta primeira experiência de condução servimo-nos de percursos estrategicamente escolhidos pela marca. Vamos ao asfalto.

Experiência de condução

A saber, a oferta consiste em quatro motorizações: um a gasolina, versão 55 TFSI, e três a gasóleo, nas versões 40, 45 e 50 TDI. A versão 55 TFSI apresenta um motor V6 de 3.0 litros e 340 CV. Quanto às versões Diesel, a 40 TDI é de quatro cilindros, 2.0 litros e 204 CV, ao passo que a 45 TDI recorre a um V6 de 3.0 litros com 231 CV. Por último, a versão 50 TDI oferece um V6 de 3.0 litros com 286 CV.

Todos os motores deste A6 são eletrificados e recorrem à tecnologia mild-hybrid (MHEV). Não, não é possível conduzir em modo elétrico. O que esta tecnologia garante é redução de consumo enquanto ajuda na ignição mais rápida e suave do motor após este ter sido desligado pelo sistema start/stop. Nos motores de seis cilindros é usado um sistema elétrico principal de 48 volts que tem a sua própria bateria de iões de lítio. No de quatro cilindros a conexão é feita a uma rede convencional de 12 volts. Os dois incluem o BAS, um alternador com motor de arranque, que trabalha juntamente com a bateria de iões, funcionalidade que entra em ação a partir dos 55 até aos 160 km/h. Isto permite que, aproveitando a inércia, o automóvel circule com o funcionamento do motor suspenso.

Ao contido rugido inicial no motor, segue-se a quase ausência de som. Ruído é quase nulo com a Audi a provar ter sido bem-sucedida no isolamento acústico do habitáculo, mesmo quando se impõe pé mais pesado no acelerador. Há barulho, mas só aquele que nos devolve a potência oferecida pelo que mora por baixo do capô, o único agradável de ouvir e sentir.

A caixa de velocidades é automática para todas as versões. Nos Diesel de 231 e 286 CV, trata-se de uma tiptronic de oito velocidades e tração integral quattro. Nos restantes há uma caixa S tronic de sete velocidades de dupla embraiagem.

Condução suave. Os primeiros quilómetros assim se fizeram, em autoestrada, ainda em reconhecimento. Comportamento eficaz, sem grandes surpresas, a responder de forma competente sempre que a aceleração assim o exigiu. Para mim, condução em estrada larga de múltiplas faixas é sempre mais prosa pouco interessante que poema rico e elaborado. Mas é aqui que se percebe que o Audi A6 foi feito de forma a permitir uma experiência premium de rolamento em estrada aberta. Estabilidade e suspensões firmes que eliminam as imperfeições do percurso são características do novo A6, especialmente no modo de condução “conforto”, neste caso, palavra-chave. No capítulo das suspensões, há quatro opções: a standard, a desportiva, a com controlo de amortecimento e a suspensão pneumática adaptativa. Esta última a de eleição, surpreendente na inibição de efeito de irregularidades que é coisa que não falta nas estradas nacionais. O Cruise Control adaptativo, que mantém o veículo na faixa de rodagem, é função que me exige alguma paciência – aquele forçar de volante a sobrepor-se à minha vontade mexe-me um bocadinho com os nervos – mas admita-se, é de grande utilidade, especialmente em trajetos mais longos em que o cansaço pode levar a melhor.

Com o Douro como destino, mudou a paisagem e os desafios da condução. Confesso alguma frustração. Cenário de inquestionável beleza, estradas mais estreitas que podiam ter sido desenhadas para servir apenas de local de filmagem de anúncios de automóveis. Mas depois há a vida real em que a câmara lenta não é obra de pós-produção cinematográfica. Os tratores e reboques, os gatos a atravessar caídos do céu, as pessoas no seu vai e vem de todos os dias. Ao volante, em trabalho, a marcha lenta pode ser desesperante. Saiam da frente, Guedes.

Uma vez livre para aceitar a provocação das curvas e contracurvas, dá-se o bailado. Estabilidade, segurança e a confiança inspirada pelo sistema (opcional) de quatro rodas direcionais que é arma a merecer consideração. Facilita o curvar e torna-se especialmente útil em ângulos apertados que exigem destreza de manobra. Para um automóvel com estas dimensões, recorrer a este extra pode ser salvação, por exemplo, em parques de estacionamento que, como sabemos, podem ser uma dor de cabeça (e de carteira).

Já conhecidos no A8 e no A7 Sportback, um conjunto de sensores foi também atribuído ao novo A6. Podem ser até cinco sensores de radar, cinco câmaras, seis sensores ultrassónicos e um scanner por laser, todos elementos que permitem a implementação de diferentes assistentes de condução oferecidos em três packs opcionais, City, Tour e Estacionamento.

É segmento agressivo e não há falta de boas propostas, mas o Audi A6 regressou mais forte e competente. Prima pelo conforto e ganha a aposta que a marca fez na tecnologia, mas talvez sem um caráter tão desportivo como alguns poderão desejar. O argumento para este A6 nunca seria o do atleta de alto rendimento. Um guião mais adequado implicaria o sucesso de um executivo de topo, a inteligência de saber deslumbrar, a satisfação de cumprir aquele derradeiro desafio depois de, com extrema competência, chegar à meta da milha extra. Chegamos à última cena mas os créditos finais terão que ficar incompletos dado que ainda não há preço para Portugal para o Audi A6, que chega ao mercado em setembro.

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