O novo Renault 5 E-Tech Electric ‘roubou’ as atenções no recente Salão de Genebra, sendo uma reinterpretação do icónico 5 lançado originalmente na década de 1970. O modelo que em 2024 será colocado nas estradas europeias é, acima de tudo, um projeto de dedicação e de paixão por parte da equipa que o concebeu, revela Paula Fabregat, diretora de projeto do R5, para quem o desenvolvimento deste modelo apenas podia ser feito enquanto automóvel elétrico.

Desde o momento em que foi revelado enquanto concept, o novo Renault 5 teve o destino da produção praticamente traçado. Mas, ao contrário de muitos protótipos que perdem uma grande parte das suas linhas arrojadas no momento de passar à linha de montagem, o 5 E-Tech Electric mantém o desenho quase inalterado.

Admitindo que “este é, provavelmente, um dos carros mais importantes para a Renault”, Paula Fabregat, responsável de design espanhola que tem a seu cargo a gama alargada de modelos compactos da Renault, reconhece que o acolhimento caloroso do protótipo foi uma grande ajuda para a decisão de colocar o 5 E-Tech Electric na estrada em 2024, inserindo-se na estratégia Renaulution definida por Luca de Meo, CEO do Grupo Renault, a qual reforça o empenho na eletrificação.

Foi, precisamente, Luca de Meo quem deu o empurrão necessário para o avanço do projeto do novo R5. “Na verdade, há alguns anos, a equipa de design começou a fazer desenhos espontâneos sobre os ícones e quando descobrimos os primeiros esboços do R5, dissemos “uau, temos aqui qualquer’. Mas esse período não era o ideal para mostrar ou propor um novo projeto. Assim, mantivemos a maqueta e, quando o Luca chegou, fizemos uma apresentação de todos os projetos em curso numa grande sala de reuniões. Ele chegou, viu a maqueta e demorou apenas cinco segundos a dizer ‘uau, este é o carro que temos de fazer’”, recorda a espanhola. A manutenção das proporções gerais e das linhas irreverentes passaram a ser requisitos fundamentais no compromisso do desenvolvimento da versão de produção: “Quando nos afastámos um pouco do ‘show-car’, o Luca disse ‘não, não, temos de voltar atrás’”.

Com efeito, as linhas gerais do Renault 5 E-Tech Electric são praticamente decalcadas do concept originalmente mostrado em 2021, procurando combinar elementos modernos e tecnológicos com uma aura emocional muito importante, algo que é recuperado do Renault 5 clássico.

“Depois de termos as propostas para a postura do carro e os traços gerais tínhamos de trazer um aspeto mais humano. Por essa razão, introduzimos as ‘pupilas’ nos ‘olhos’ e introduzimos um pouco mais de curvas no design. Mas as fronteiras eram muito frágeis, porque não queremos ser demasiado robóticos ou quadradão, nem demasiado redondo. Por isso, encontrar este bom equilíbrio foi importante para este exercício e com todos os detalhes do passado que, é claro, queríamos interpretar e não, simplesmente, ‘copiar e colar’. Queríamos fazer algo completamente moderno, contemporâneo e até futurista, se me permitem, mas com todos os detalhes que as pessoas que viveram os seus primeiros carros, os carros icónicos, vão recordar e vão identificar-se. Mas que também as novas gerações vão adorar porque o carro é fantástico, quase mais como um produto de design do que um automóvel”, explica, concedendo que idealizar o interior foi até mais desafiante do que o exterior.

Mas, o conceito de reinterpretar o passado não ficará por aqui, já que na calha está uma gama de modelos denominados ‘Ícones’, que será composta pelo 5 E-Tech Electric, mas também pelos novos R4 e Twingo, cujos concepts foram também já apresentados, com Fabregat a antecipar “desafios idênticos” em termos de desenvolvimento.

Só possível como elétrico

Assente na nova plataforma AmpR Small, o 5 E-Tech Electric é o primeiro automóvel do Griupo Renault a utilizá-la, tendo esta sido uma ‘ferramenta’ essencial para que o modelo conhecesse a luz do dia: apenas a componente elétrica permitiu à Renault fazer regressar este modelo.

“Ficou claro desde o início. Ficou claro, porque o primeiro passo a obter eram as proporções e não se poderia construir este modelo com estas proporções com recurso a plataformas para diferentes modelos. O primeiro passo era produzir a plataforma com as proporções acertadas, pelo que desde o início ficou decidido que seria apenas elétrico e uma das grandes mensagens que queremos passar com este novo carro é que o R5 original foi realmente popular e agora queremos popularizar a eletrificação”, admite Fabregat, notando também que a sustentabilidade traz um custo, ainda não compensado totalmente pelos processos de reciclagem.

“Neste momento, temos 26,6% de materiais provenientes de economia circular. E a ideia é melhorar esse número a cada novo carro, mas hoje podemos escolher entre tecidos reciclados ou não. Conhecemos os fornecedores e eles propõem-nos exatamente o mesmo tecido, mas, infelizmente, como os tecidos reciclados têm um segundo processo – o primeiro é o de reciclagem em si, o segundo é a conversão em peças, bancos ou seja o que for –, no final de contas é uma questão de custos. É por essa razão que não temos 100% de materiais reciclados na versão de entrada, mas depois, nos níveis Techno e Collection, temos interior com materiais 100% reciclados. Mas no final, temos de encontrar um bom equilíbrio entre o preço e a sustentabilidade”.

Símbolo de uma nova fase

A gama de automóveis da Renault divide-se hoje entre automóveis híbridos ou ainda exclusivamente a combustão – modelos como o Clio ou o Captur – e elétricos, com esta dupla via a ser essencial para que a marca francesa consiga chegar a diferentes tipos de condutores e às suas necessidades. Mas o novo 5 é um símbolo para uma nova fase.

“Do meu ponto de vista, penso que no futuro teremos diferentes tecnologias. Como disse, o mais importante num carro é a plataforma. Não podemos aplicar a mesma plataforma a diferentes carros [com diferentes tipos de motor], embora /algumas marcas o façam. Mas temos uma excelente gama neste momento: temos o Clio, temos o Captur, temos diferentes carros, e teremos a Ampere com os elétricos. Penso que no final de contas é o cliente que vai escolher o que quer. Mas, para mim, o Renault 5 tem de ser elétrico, tem ser um carro urbano. Penso que este é o carro da Renaulution, o carro para a Ampere. É um símbolo da Renaulution, tem de ser elétrico”, afirma.

Uma das particularidades do novo modelo é a sua estrutura de gama, com a versão de entrada ‘Evolution’ a ser acompanhada de uma mais equipada ‘Techno’, sendo que no topo estará uma versão semelhante a uma coleção de moda – anual e com temática variada para que cada Renault 5 ‘Collection’ seja realmente único, como explica Fabregat.

“Penso que este carro é intemporal, é contemporâneo, mas penso também que temos de propor este carro para o futuro e, uma vez mais do meu ponto de vista, este carro vai viver durante muito tempo ao longo dos anos. Assim, a ideia é continuar a propor diferentes aspetos deste modelo porque, a meu ver, tem várias facetas. Desde o início do design que dissemos que tinha de ter cores verde, amarelo, vermelho… as cores ‘pop’, porque é um carro ‘pop’, realmente expressivo e divertido, mas depois, como é usual, a equipa de produto disse-nos ‘vá lá, temos de ter cores neutras’. Tudo bem. Não ficámos muito contentes, porque achamos que este carro tem de ser expressivo, mas decidimos usar o branco e vamos apenas oferecer cinco cores hoje. Outras cores virão – mas agora apenas comunicamos cinco, porque é o Renault 5 –, mas não temos cores opacas, são todas metalizadas e propomos a verde como cor de série”, prossegue, destacando ainda o foco na personalização, por exemplo, com os autocolantes de carroçaria.

“O primeiro passo é dado agora com os autocolantes, porque é algo que, depois, podemos oferecer em mais opções. Primeiro, temos de ver se os clientes acolhem bem a ideia. Mas iremos propor diferentes acessórios no futuro. É um carro verdadeiramente pessoal e emocional. De facto, este é um projeto mágico, porque permite mesmo fazer o que se quiser. Em termos de parcerias, por exemplo, podemos trabalhar com um parceiro de moda ou com [a indústria dos] grafitis. Depois podemos ir atrás de marcas de luxo ou de quaisquer outras. É o projeto perfeito para isso”.

Uma equipa unida

Para esta responsável espanhola, a participação no projeto da reinterpretação do Renault 5 assume-se também “como uma aventura incrível, porque toda a gente estava mesmo muito motivada e toda a gente queria trabalhar neste projeto”.

A simbiose entre os diversos elementos da equipa de desenvolvimento ficou comprovada em diversos momentos, como “por exemplo, quando quisemos substituir a pela de plástico no capot do concept pelo ecrã de indicador de carga da bateria, as pessoas em torno disseram ‘vá lá, não podem querer fazer mais do que no ‘show-car’’. Claro que podemos. Tentámos e as pessoas não hesitaram. Isto foi incrível, porque, normalmente, encontramos várias complicações para tornar realidade as coisas que temos em mente. Mas, encontrámos sempre um bom equilíbrio entre o preço e o produto”.

“Queremos fazer isto ou aquilo, mas depois o que é que podemos fazer para poupar alguns euros, para aplicar isso e para escolher fazer as boas escolhas em termos do que é mais importante. Foi fantástico e eu faço um bom trio com [os responsáveis] de Produto e de Engenharia. Para nós os três foi uma experiência mágica porque, normalmente, quando não encontramos uma boa decisão com os nossos parceiros, temos de recorrer ao Gilles [Vidal] ou ao Luca [de Meo] e, para mim, este é um projeto único em que nunca fui falar com o Gilles para fazer a arbitragem. Fizemos tudo juntos. Estas três pessoas tinham uma abordagem de 360°”.

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