Acostumada já ao estatuto de líder entre os construtores de automóveis elétricos, a Tesla renovou aquele que é um dos seus mais bem-sucedidos modelos, o Model 3. Face mais agradável, mais tecnologia a bordo e uma eficiência a toda a prova são argumentos de peso para uma berlina que, racionalmente, é proposta quase irrecusável.

O momento comercial da Tesla é ditado, neste momento, por dos modelos: pelo Model Y, que se apresta a ser o automóvel mais vendido da Europa em 2023 (de janeiro a outubro, tinham sido matriculados 209 mil unidades), e pelo Model 3, que foi agraciado recentemente com uma atualização mais profunda que lhe reforçou a sofisticação, o conforto e o caráter premium, tanto no interior como no exterior, sem alterar profundamente a estética.

No exterior, o Model 3 renovado diferencia-se pela aerodinâmica otimizada, com redução da resistência ao vento e do ruído aerodinâmico, além de melhoria da autonomia. Aliás, a otimização aerodinâmica proporciona ao renovado Model 3 o estatuto de modelo mais com o coeficiente de arrasto mais baixo de qualquer Tesla: 0.219 Cd.

Destaque para os grupos óticos totalmente redesenhados, na frente mais esguios e com assinatura luminosa inferior, enquanto atrás, de cores mais ricas, passam a estar separadas com uma das partes integradas na tampa da bagageira com abertura elétrica. As jantes adotam desenho renovado e mais aerodinâmico (em medidas de 18 e de 19 polegadas, sendo estas últimas as presentes na unidade ensaiada), juntando-se ainda pneus Hankook iOn Evo otimizados ao nível de ruído e autonomia, também em novidade neste conjunto.

Interior mais hi-tech

A bordo, a marca preocupou-se em melhorar alguns aspetos de qualidade, mas também com o reforço da tecnologia integrada. Recorrendo a materiais melhorados, como o alumínio real, tecido e pele, amplificou-se a sensação de luminosidade com o tejadilho panorâmico de grandes dimensões, mas também por ‘obra’ da nova iluminação ambiente personalizável.

Como exemplo de qualidade, os painéis das portas têm revestimentos macios por completo, não faltando até forro interno nas bolsas inferiores. Os bancos dianteiros passam a poder ser ventilados (além de aquecidos), ao passo que a consola central foi redesenhada e coberta em alumínio, com espaços de armazenamento amplos e carregadores duplos de telemóveis sem fios. Há uma porta de carregamento USB-C dianteira e duas traseiras, cada uma com até 65 W de potência.

Para melhorar a insonorização, aplicaram-se novos vidros acústicos e novos casquilhos da suspensão, a que se juntam ainda vedantes e materiais de amortecimento de som melhorados.

Entrando no capítulo da tecnologia, o Model 3 renovado destaca-se por um novo sistema de som premium concebido pela Tesla que, no caso da versão RWD ensaiada, compreende nove altifalantes, um subwoofer e um amplificador para veículos com tração traseira. Inclui suporte nativo para Spotify, Apple Music e Tidal. Sentimos falta, no entanto, da possibilidade de emparelhar os smartphones por via dos sistemas operativos Android Auto e Apple CarPlay, uma vez que a marca de Elon Musk continua a não oferecer a devida compatibilidade.

O ecrã central de 15.4″ com elevada capacidade de resposta mantém o mesmo tamanho do modelo anterior de uma maneira geral, mas dispõe de uma área de ecrã útil superior graças à moldura mais estreita. Inclui um interface do utilizador personalizável e melhora com o tempo através das atualizações OTA. Quanto à conectividade, a rede móvel foi melhorada em 50%, existindo ao mesmo tempo um alcance da rede Wi-Fi duas vezes superior e capacidades de Wi-Fi de duas bandas (2,4 GHz e 5 GHz).

O interior minimalista não se altera, com a totalidade das funcionalidades a ser ajustada pelo ecrã central – ajuste da direção, abertura do porta-luvas e das bagageiras, ajuste dos espelhos retrovisores, itens de segurança, multimédia, jogos, Youtube, dados de viagens, etc. -, que não deixa de ser igualmente simples depois de um período de habituação.

Menos consensual é o desaparecimento das hastes usualmente colocadas na coluna de direção para os ‘piscas’ ou para selecionar a ordem de condução, sendo substituídas por controlos no volante no caso dos ‘piscas’, que estão longe de serem ideais, sobretudo quando se faz uma rotunda e se quer dar a indicação correta de entrada e de saída da mesma. Além disso, durante os quatro dias de ensaio, tive sempre de verificar qual das teclas indicava o lado que queria acionar, embora reconheça que esta é uma circunstância de hábito. O tamanho das letras no ecrã também poderia ser maior, como por exemplo, o dos dígitos de velocidade.

A capacidade da bagageira ampliou-se dos 561 litros para os 594 litros, naquele que é um bom valor, ainda que o bocal traseiro não seja particularmente amplo.

Atrás, há muito espaço para as pernas e o aliciante de um novo ecrã tátil de 8.0″ de alta qualidade que permite entreter os passageiros mais irrequietos atrás (ligando a uns headphones Bluetooth para verem conteúdos do Youtube, por exemplo), mas a altura do assento ao tejadilho não é das melhores, podendo ser limitativa para ocupantes com mais de 1,80 m de altura. Esse ecrã permite ainda controlar a climatização e a ventilação dos lugares posteriores.

Mais aveludado, a mesma competência

Quanto a alterações técnicas, a Tesla procedeu a algumas mudanças na suspensão, que ficou mais macia (com novos casquilhos), mais aveludada para oferecer doses de conforto melhoradas, mas a dinâmica não saiu grandemente prejudicada.

Para escolher o modo ‘D’ de condução ou ‘R’ de marcha-atrás, basta agora deslizar o dedo na faixa lateral do ecrã central, tal como já sucede nos Model S e X renovados recentemente, tornando-se intuitivo após algumas utilizações.

Desde o primeiro momento que o Model 3 RWD se sente solidamente construído, com direção muito precisa e suficientemente ‘pesada’ (pode também ser ajustada nos menus) para assim agradar a um leque de condutores mais alargado. A sua competência em conforto apenas destoa, ligeiramente, nos buracos mais profundos, aqui mais por ação das jantes de 19″, do que pelo trabalhar da suspensão.

Não obstante, não se pode considerar que essa suavização da suspensão se traduza penalize o lado dinâmico, já que continua a ter um excelente comportamente, curvando muito depressa e com total segurança, valendo-se, claro, do baixo centro de gravidade.

Na configuração de tração traseira, o Model 3 mantém o esquema de motor único de 208 kW/283 CV de potência, sendo este um valor que serve já para prestações bastante boas: as acelerações são muito apelativas, mesmo não se tratando da variante de maior performance atualmente (a de tração integral com bateria de maior autonomia). A aceleração dos zero aos 100 km/H cumpre-se em 6,1 segundos, já suficiente para deixar um sorriso no rosto. Curiosa é a redução da velocidade máxima de 225 km/h para 201 km/h.

Por outro lado, fruto do trabalho aerodinâmico, o consumo energético foi reduzido de 14.4 kWh/100 km para 13.2 kWh/100 km, assim melhorando a autonomia homologada, que é agora de 513 quilómetros na versão com jantes de 19″. Se for um pouco menos exigente com o estilo e optar por jantes de 18″ terá um acréscimo da autonomia para 554 quilómetros. A bateria é a mesma de 60 kWh, pelo que não há diferenças.

No nosso ensaio, obtivemos uma média precisamente de 13.4 kWh/100 km, que fica quase em linha com o valor adiantando pela marca, naquele que é um excelente indicador de eficiência para um modelo que conta ainda com regeneração energética muito eficaz (tendo em conta, ainda, que este ensaio decorreu durante dias de inverno).

Quanto ao carregamento, mantém a potência máxima nos 170 kW, podendo dessa forma repor até 282 quilómetros em apenas 15 minutos.

Houve também reforços na vertente da segurança, com melhoria do assistente de ângulo morto e introdução de alerta sonoro de excesso de velocidade, o qual pode ser facilmente silenciado com um simples toque no ícone posicionado na parte superior do ecrã (também bastante pequeno).

Por fim, no meio de todas as competência do renovado Model 3, destaque para um ponto fundamental: o preço mantém-se abaixo dos 40.000€, neste caso, de 39.990€, posicionando-se como uma proposta apetecível ou, mais ainda, tremendamente tentadora.

VEREDICTO

O renovado Model 3 assegura que se mantém como um dos elétricos mais chamativos do mercado, valendo-se de eficiência impressionante e de melhorias tecnológicas que incrementam o apelo desta berlina.

Mais do que apenas ‘hype’, o Model 3 carrega consigo um real conjunto de qualidades e competências que lhe valem o sucesso, desde logo pela melhoria da qualidade percebida, pela condução mais versátil (melhoria do conforto e manutenção da agilidade) e pela ótima vertente tecnológica que tem poucos rivais no mercado a este preço.


MAIS
Qualidade geral
Prestações
Equilíbrio entre conforto e dinamismo
Tecnologia de ponta
Sensação de robustez
Consumos
Preço

MENOS
Excessiva simplificação do interior
Altura nos lugares traseiros
Bocal estreito da bagageira
Botões dos ‘piscas’ no volante

FICHA TÉCNICA
Tesla Model 3 RWD
Motor: Motor elétrico único, síncrono de íman permanente, traseiro
Potência: 283 CV/208 kW
Binário: N.D.
Bateria: Iões de lítio, 60 kWh
Transmissão: Tração traseira, caixa de relação única
Acel. 0-100 km/h: 6,1 segundos
Vel. Máxima: 201 km/h
Consumo médio (WLTP): 13.2 kWh/100 km
Autonomia: 513 km
Carregamento: 170 kW (máx) em CC; 11 kW em CA
Dimensões (C/L/A): 4720/1933/1441 mm
Distância entre eixos: 2875 mm
Bagageira: 594 litros (+88 litros à frente)
Peso: 1765 kg
Jantes: 235/45 R18
Preço: 39.990€

EQUIPAMENTO OPCIONAL: Pintura metalizada (1300€); jantes de 19″ (1700€); interior branco e preto (1200€); Autopilot aperfeiçoado (3800€).

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9
Prestações
9
Espaço
9
Segurança
9.5
Condução
9
Consumos
9.5
Preço/equipamento
9.5