É um dos três apresentadores do programa de automóveis mais antigo da televisão, Top Gear, que se tornou numa das imagens de marca da britânica BBC. Chris Harris, jornalista com larga experiência na área automóvel, reconhece esse mesmo facto e sabe que isso traz uma responsabilidade acrescida, partilhada com os seus dois colegas Paddy McGuinness e Freddie Flintoff.

A 27ª temporada, que estreou em Portugal no passado dia 12 de maio no canal por cabo Blaze, dedicado a conteúdos de elevada adrenalina, volta a colocar em patamar de destaque alguns dos automóveis mais espetaculares do mundo, naquele que, como reconheceu Chris Harris em entrevista ao Motor24, é um “trabalho de sonho”.

“Ser apresentador do Top Gear é aterrador e excitante ao mesmo tempo porque o legado é tão forte e o programa é tão famoso – o fardo e a responsabilidade podem ser assustadores se fores como eu, só um jornalista. Eu não sou uma estrela, apenas um jornalista que conduz carros. Mas assim que assentas, começas a gravar e a fazer o programa é tão divertido. Adoro a equipa, adoro trabalhar com os meus colegas e posso trabalhar com carros o tempo todo. É um trabalho de sonho, mas como qualquer coisa que seja um sonho, há sempre lados menos bons, mas desde que se consigam gerir esses, podemos acordar todos os dias de manhã a querer ir para o trabalho, o que é um ótimo sentimento”.

Uma parte desse sentimento reside no entendimento com os outros dois apresentadores, com quem Harris garante que existe um companheirismo muito grande. “Nós damo-nos muito bem. Somos três companheiros, brincamos uns com os outros. Não nos zangamos. De vez em quando temos boas discussões e uma boa fricção. Um programa como o Top Gear assenta nessa fricção boa”.

Freddie Flintoff, Chris Harris e Paddy McGuiness

Se no passado, Top Gear foi também acompanhado de algumas polémicas, sobretudo quando na apresentação estava o trio composto por Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May, a BBC continua a dar aos atuais produtores e apresentadores do programa “uma grande dose de independência editorial”.

“Os meus chefes e executivos têm um ótimo julgamento e o Top Gear sempre foi visto um pouco como a criança malandra da ‘sala de aulas’ da BBC. Vamos continuar a sê-lo. Provavelmente, não vamos forçar as fronteiras tanto como os nossos antecessores fizeram, porque não precisamos ou queremos. Penso que o Top Gear está no seu melhor quando causa aos responsáveis da BBC uma ligeira dor de cabeça mas não uma grande dor de cabeça”, afiança, demonstrando-se igualmente surpreendido pelo facto de o programa estar a angariar cada vez mais audiência apesar de uma ideia generalizada de que as pessoas começam a dispensar o automóvel das suas vidas.

“É um pouco um paradoxo para o Top Gear. Sim, sendo um jornalista e tendo uma presença online, com filhos jovens, posso ver que se calhar os adolescentes não gostam tanto de carros como na minha ou na tua geração. Mas o que não percebo, então, é porque é que o Top Gear tem uma das maiores bases de audiência de todas as marcas BBC. Tem de ser porque ainda gostam de ver carros. O Top Gear emergiu forte na faixa demográfica mais jovem. Por isso, secretamente, talvez mais pessoas gostem de carros do que pensamos”, explica.

Generalista obriga a temas mais abrangentes

A notoriedade de Chris Harris aumentou exponencialmente com alguns dos seus vídeos no seu canal de YouTube, que obtiveram milhões de visualizações. Porém, a abordagem e o cuidado que um programa como o Top Gear exige é muito especial, já que sendo direcionado a uma audiência mais generalista, exige uma outra abordagem, que misture testes a automóveis com alguns momentos de boa disposição que divirtam os espectadores.

“Penso que tomei a decisão de aceitar o desafio [de apresentar o Top Gear] porque me entusiasmou a marca, que é grande, e gostei da ideia de ver como era fazer televisão com um grande orçamento. É complicado, mas é um processo realmente interessante, o cuidado com que é feito. Nos meus dias do Youtube, gravávamos algo num par de horas e atirávamos para lá para ver quantas visualizações conseguia. Um episódio do Top Gear pode ser editado durante três meses, com muito tempo para afinar os detalhes, escolher a música certa e garantir que cada piada está de acordo. É um produto diferente. Gosto de ter um envolvimento em ambos. Continuo a adorar a Internet, adoro a sua velocidade, a experiência, a forma como se pode fazer algo rapidamente e obter uma resposta muito imediata. Mas observar pessoas bastante talentosas a fazer televisão é discutivelmente mais excitante. São produtos muito diferentes. Não sei qual será o futuro… Pode ser algo no meio, pode ser algo no âmbito dos serviços de streaming. Talvez não seja preciso algo tão dispendioso. Mas depressa se percebe que um filme do Youtube não é suficientemente bom para um serviço de streaming e que um filme de Youtube também não é suficientemente bom para uma audiência mais generalista. Podes filmar um diferencial de um M3 e obter um milhão de visualizações, mas se queres que centenas de milhões o vejam, como no Top Gear, tens de fazer um belíssimo programa de televisão e isso exige tempo e pessoas”, garante.

Por outro lado, atendendo ao momento atual que se vive com a pandemia de Covid-19, que afeta praticamente todos os setores da sociedade (traçando também um cenário pouco animador para a indústria automóvel), Chris Harris reconhece que também o programa Top Gear será afetado, mas que existem alguns aspetos positivos.

“Estamos bem no meio da epidemia de Covid-19 e isso tem um grande impacto, claro. Somos um programa de viagens internacionais e o resto da temporada terá por base o Reino Unido. Mas, eu até gosto bastante de voltar ao Reino Unido. Passei muitos anos a viajar pelo mundo, é bom regressar à base e mostrar às pessoas que o Reino Unido é um país bonito e temos muito para oferecer aqui. De qualquer forma, tínhamos definido que íamos reduzir um pouco as viagens no estrangeiro. Ainda assim, espero que no prazo de um ano possamos fazer um pouco mais fora do país”.

E aponta ainda que, mesmo no âmbito das viagens e dos desafios especiais que povoam os programas de Top Gear nas suas diferentes temporadas, há alguns limites inerentes: “Mas sabes, quando olho para a temporada 27, aquela viagem à Etiópia está gravada na minha memória – que local fantástico para ir conduzir carros! Por isso, não consegues continuar a tentar ir a locais mais aventureiros, porque eventualmente ficas sem opções de surpreender ainda mais as pessoas. Para tal teríamos de deixar este planeta e ainda não podemos fazer isso ainda…”, afirma.

A casa portuguesa

Sobretudo por razões profissionais, Chris Harris conhece bem os caminhos no Sul de Portugal, mais concretamente na zona em redor do Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão. Uma relação profissional que entretanto cresceu para uma relação de amizade com o nosso país e com o circuito algarvio.

“Já passei muitos dias em Portugal, talvez mais dias em Portugal do que em qualquer outro país europeu nos últimos dez anos porque adoro Portimão. Tornou-se numa segunda casa para mim, porque filmo lá muito, o circuito é espetacular. O Paulo [Pinheiro, proprietário do Autódromo] e a sua equipa fazem um excelente trabalho e são ótimas pessoas. Portugal também tem ótimas estradas para conduzir. E há algo na Costa Atlântica que me faz sentir como um britânico em casa, porque se assemelha à Cornualha e sempre que lá estou, sinto-me em casa, mas com um clima decente. Por isso, gosto muito de lá. E adoro uma Sagres ou Super Bock no final da tarde, pelo que estou sempre muito bem no país”, conclui.

A temporada 27 estreou no passado dia 12 de maio no canal Blaze, estendendo-se até ao mês de outubro.


Temporada excêntrica

A temporada 27 do Top Gear, que volta a levar muitos carros aos seus limites, chega a Portugal em exclusivo no canal Blaze, todas as terças-feiras pelas 22h, até outubro, com apresentação de Chris Harris, Paddy McGuiness e Andrew ‘Freddie’ Flintoff e uma ‘ajudinha’ do enigmático piloto conhecido por Stig.

Do calor brutal do deserto etíope até à sufocante floresta de Bornéu, das montanhas da Islândia até… uma zona pedestre de comércio no centro de Mansfield, as aventuras nesta temporada do Top Gear passam ainda pelas voltas no ‘Carro Razoavelmente Rápido’, no qual algumas celebridades colocam os seus dotes à prova. Em junho, será transmitido um especial com os melhores momentos de mais de uma década de programa, com corridas de condução mais extremas em veículos inadequados e em locais ainda mais impróprios nos quatro cantos do mundo.

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