Bentley reconstrói o azarado Corniche de 1939

08/08/2019

Poucos carros têm uma história tão azarada como o Corniche da Bentley, construído em 1939, desaparecido e destruído pela Segunda Guerra Mundial. No seu centenário, a marca britânica voltou a construir este modelo, com recurso aos procedimentos antigos e ligando-o aos seus produtos mais recentes.

Este ‘novo’ carro é o único da sua classe e foi produzido pela Mulliner, concebido na sua época como uma versão de alta performance exclusiva do MkV, que tinha data de lançamento prevista para outubro de 1939. Contudo, o rumo da História seguiu o seu curso e trouxe um desenrolar dos acontecimentos muito diferente do que se supunha inicialmente.

Estilo aerodinâmico

O seu estilo diferenciava-se bastante daquele ostentado pelos Bentley lançados nas décadas de 1920 e de 1930, aplicando então uma fórmula mais aerodinâmica para o seu desenho, que a marca apelidou de ‘Streamlining’, ou seja, com um desenho mais esguio para ajudar a obter uma maior performance (a Bentley chegou à conclusão, mais tarde, que o radiador na vertical dos outros Bentley prejudicava a sua velocidade de ponta).

Tal como hoje sucede, também na altura os clientes mais abastados procuravam carros com exclusividade. Foi exatamente isso que o grego André Embiricos desejou quando comissionou este Bentley na segunda metade de 1930, com base no antigo chassis de 4¼ litros. O desenho foi então levado a cabo por Georges Paulin e a produção ficou a cargo da francesa Pourtout.

O carro, embora privado, era encorajado pelos engenheiros e técnicos da marca, que desejavam uma versão mais desportiva do futuro MkV, tendo como objetivos um chassis de baixo peso, motor melhorado do MkV e caixa de velocidades associada.

A sua forma viria a inspirar outros modelos no pós-Guerra, desde o R Type Continental até ao atual Continental GT, mas o destino do Corniche foi traçado pelo início das hostilidades entre a Alemanha, França e o Reino Unido em 1939.

Foi, aliás, em França que o destino do Corniche original ficou traçado de forma negativa. Ainda antes do início da guerra, em 1939, o modelo sofreu um acidente de viação quando fazia ensaios de estrada, em julho, batendo num autocarro. Seria enviado de novo para Paris para ter a sua carroçaria reparada pela Vanvooren, que também participou na sua conceção, apenas para voltar a sofrer novo acidente, em agosto, este mais severo. Para se desviar de um carro que se atravessou à sua frente, o condutor da Bentley que o havia levantado, teve de tomar uma manobra evasiva e, após embate numa árvore, capotou e danificou bastante o Corniche.

Mas o azar não iria terminar aqui: a carroçaria foi removida do chassis e ambos seguiram caminhos distintos – o primeiro foi para uma oficina em França e o segundo regressou a Crewe, no Reino Unido. Reparada, a carroçaria foi depois transportada para Dieppe para ser enviada para a sede britânica, mas um atraso administrativo causou um atraso fatal no envio. Com a atividade beligerante a subir de intensidade, Dieppe viria a ser bombardeada quando a carroçaria estava lá armazenada. Nunca mais foi vista. Até que a Bentley pensou em fazer renascer este modelo de luxo.

Fénix renascida

O projeto foi iniciado originalmente há vários anos, por voluntários da WO Bentley Memorial Foundation e da Sir Henry Royce Memorial Foundation, mas foi só em fevereiro de 2018 que a ideia foi ‘agarrada’ pela Bentley com o presidente Adrian Hallmark pediu para ser completado em 2019 para celebrar o centenário. Naturalmente, a divisão de personalização Mulliner viria a ser envolvida no projeto, com recurso aos componentes mecânicos e desenhos originais dos Corniche e MkV, com a produção a ser feita em Crewe.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.