Carlos Tavares: “A mobilidade elétrica é mais cara e não estão a dizer isso às pessoas”

08/10/2019

Repetindo um alerta já feito anteriormente, o presidente do Grupo PSA, Carlos Tavares, voltou a chamar a atenção para os potenciais efeitos nefastos para a indústria automóvel europeia devido às metas anti-emissões estabelecidas pelos decisores políticos do Velho Continente.

Presente na cerimónia de arranque da produção da nova geração do Opel Corsa na fábrica espanhola de Figueruelas (Saragoça), o executivo português voltou a adotar um discurso algo crítico quanto à imposição de metas anti-emissões demasiado duras pela União Europeia e, também, quanto à passagem para o meio elétrico como forma de as cumprir.

Principal responsável pela recuperação económica do Grupo PSA após a crise de 2008 a 2012, Carlos Tavares procedeu, na sua gestão à frente da companhia, a um exigente exercício de racionalização em todas as áreas, cortando gamas e modelos pouco rentáveis e melhorando o esquema de produção, mas ao mesmo tempo conseguindo também aumentar o leque de marcas integrantes do grupo com a emancipação da DS e com a aquisição da Opel à General Motors em 2017.

Mas, no âmbito automóvel, o presidente da PSA também sempre foi crítico para com algumas das imposições em termos da indústria automóvel, repetindo os alertas agora em Espanha quanto ao preço desta solução e à sua rentabilidade.

“A mobilidade elétrica é igual à comida bio[lógica]. É mais cara. E não estão a dizer isso às pessoas”, é citado Tavares no Cinco Dias (do El Pais), acrescentando ainda que “o maior risco para o setor automóvel é interno e provém da União Europeia devido à transição energética imposta para a redução de emissões”.

As suas maiores críticas foram direcionadas a França, Espanha e Itália pela tomada de decisões conjuntas no âmbito da redução das emissões poluentes na Europa, considerando que essas terão um grande impacto na área económica e social, uma vez que este é um setor que dá emprego “a 13 milhões de pessoas na União Europeia”.

“Tomaram decisões extremas quando são dos maiores produtores de veículos na Europa. Nós, os fabricantes automóveis, podemos rumar à produção com emissões zero, contamos com a tecnologia adequada, mas o crítico é a velocidade a que vamos fazer essa transição”, referiu o líder máximo da PSA, reforçando que “a mobilidade elétrica é mais cara do que a mobilidade tradicional e têm de compreender que apenas se podem comercializar com subsídios para os veículos e subindo os impostos”.

Ainda assim, a PSA acompanha o ritmo de eletrificação da indústria automóvel na Europa, estando consciente de que é um segmento no qual é imperioso estar presente. Por esse mesmo motivo, a Opel e a Peugeot preparam os lançamentos dos seus primeiros utilitários 100% elétricos – Corsa e 208, respetivamente –, ambos baseados na mesma plataforma (eCMP) e com preços base a rondar os 30.000€.

A produção do Corsa será feita em Espanha, na fábrica de Saragoça, onde já foram investidos 250 milhões de euros para a sua modernização, podendo construir até 1000 veículos diariamente.