Numa era em que a mobilidade está a ser fundamentalmente repensada e em que a vida nas cidades tende a ser cada vez mais exigente em termos de constrangimentos de espaço, a necessidade de trabalhar em conjunto para abordar os principais problemas das urbes no presente tornou-se imperiosa, com a pandemia a trazer novas oportunidades, mas também desafios de grande envergadura. A conferência digital BMW e-Future procurou imaginar o que será preciso para uma melhor vivência na cidade do amanhã.

A necessidade de repensar a mobilidade dentro das cidades e a sua redefinição no âmbito de uma nova era de digitalização e de conectividade foi o tema de uma conferência digital organizada pela BMW Portugal sob a temática das ‘smart cities’, numa visão holística que integra os diferentes ‘players’ e utilizadores das cidades, desde os cidadãos aos decisores políticos, passando ainda pelos criadores de tecnológicas.

Abordando aquela que promete ser a maior mudança no paradigma da mobilidade, Massimo Senatore, Diretor Geral da BMW Portugal, explica que para esta nova era terá de haver um trabalho conjunto para pensar no caminho para o futuro. “Estamos muito empenhados em promover um diálogo sobre a mobilidade e as cidades do futuro, num paradigma que traz muitas oportunidades, mas muitos desafios. Temos de tornar as cidades mais inteligentes, mas a única forma de o conseguir é fazê-lo em conjunto. O conceito de mobilidade do futuro e de cidades mais inteligentes, mais limpas e tecnológicas é muito importante e está a evoluir muito rapidamente para enfrentar esses desafios e também o de sobrelotação nas cidades. Temos de criar cidades mais sustentáveis. Agora, devido à pandemia, tivemos uma forte redução de poluição em cerca de 50%, com ar mais limpo e melhores condições nas cidades, mas o grande desafio é manter as pessoas a fazerem o que querem, mas sem parar tudo e sem que as pessoas fiquem paradas em casa”.

Massimo Senatore, Diretor-Geral da BMW Portugal.

A questão da preparação das redes elétricas e a criação de uma infraestrutura de carregamento capaz de cobrir todo o território assume uma importância elevada, mas Massimo Senatore mostra-se confiante de que o futuro vai trazer um bom equilíbrio para Portugal, embora volte a apontar a necessidade de uma conjugação de esforços para que o objetivo da mobilidade sustentada seja atingido.

“Estou preocupado mas ao mesmo tempo consciente de que é um caminho que está a ser feito. Acho que em Portugal já foram feitas muitas medidas para acompanhar essa mudança, mas penso que precisamos de ter três pilares para que essa transição seja mais rápida: a disponibilização de produto no mercado, o que tem vindo a ser feito de forma muito rápida e por quase todas as marcas, a criação de uma infraestrutura pública, porque nem todos os mercados são iguais e é importante disponibilizar medidas para a utilização dos veículos elétricos pelos cidadãos – neste capítulo tenho um pensamento otimista, pois acredito que, de forma muito rápida, vai ser implementado em todos os países uma infraestrutura alinhada com a expectativa pública – e o terceiro pilar que é o da informação, porque uma decisão informada é melhor. Por exemplo, falou-se muito nos plug-in nos últimos meses, se eram piores ou não. Eu quero sublinhar que os PHEV reduzem, certamente, as emissões, mas tem que ver com a forma como as pessoas conduzem o carro. Têm de ter uma abordagem mais eficiente. No curto prazo, os plug-in híbridos são uma mais-valia, mas é precisa uma infraestrutura”, garante.

Outras ideias que poderão ser úteis para alavancar a transição para a mobilidade elétrica passará, de acordo com o Diretor Geral da BMW Portugal, pela oferta de mais incentivos aos clientes particulares e não apenas aos empresariais, que já estão a fazer o seu caminho nesse sentido, não só por inerência dos benefícios fiscais, mas também pela sua maior consciencialização ambiental. “O custo de produção de um elétrico ainda é superior ao de um carro convencional, pelo que, para baixar custos é preciso massificar e, para isso, é preciso incentivar à sua compra”.

Aponta, pois, para uma necessidade de consertação de esforços no sentido de tornar esses desafios em soluções concretizáveis. “É para isso que temos muitas áreas a trabalhar. Nós, enquanto fabricantes de automóveis, temos um papel muito importante. Temos de criar uma mobilidade mais sustentável, mais elétrica. A BMW está a fazer já uma forte aposta neste campo, pois acreditamos que será fundamental. Em 2023 teremos 25 modelos eletrificados, dos quais metade totalmente elétricos e em cada ano seguinte vamos aumentar as entregas de carros totalmente elétricos: em 2025 teremos dois milhões de veículos elétricos nas ruas. Mas nem todas as cidades têm o mesmo ritmo de eletrificação e esse é outro desafio, por isso, a ideia é que em 2030 metade das nossas vendas seja de elétricos”.

Acelerar a transição

Porém, esse é apenas um dos desafios, relacionados com a transição energética, sendo a necessidade de integração de políticas de mobilidade com base nos transportes públicos e a adequação das redes elétricas e de uma boa malha de infraestruturas de carregamento a cobrir o território outros pontos fundamentais, como explica o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, que confirma a atenção do Governo para com esta necessidade de transição energética, entretanto acelerada pela pandemia de Covid-19.

“A questão da mobilidade é uma grande preocupação para o Governo, sim. O facto de a Mobilidade estar integrada no Ambiente é muito mais do que uma questão simbólica – é um sinal forte de que a mobilidade tem de ter uma componente sustentável. Os transportes são essenciais para a sociedade, mas, tal como o setor eletroprodutor, têm um peso negativo na produção de gases com efeitos de estufa. Temos de ter vários medidas em simultâneo para atingir a neutralidade carbónica em 2050. Temos de implementar algumas medidas de forma acelerada. A pandemia que vivemos só nos veio trazer mais força e consciência para fazê-lo. Há a questão do apoio financeiro para a transição energética, com o Fundo Ambiental de apoio às viaturas elétricas, que é de quatro milhões por ano, mas também de infraestrutura, que é determinante, assim como da própria rede elétrica para dar resposta a este crescimento nos próximos anos”, destaca o secretário de Estado, apontando ainda um outro pilar importante que é o do quadro legal e da regulamentação com as autarquias a disporem da capacidade de gerir e decidir as suas próprias medidas.

“Daí a delegação nos respetivos municípios das decisões de estruturas de mobilidade ou em regiões metropolitanas no caso de Lisboa e Porto, com a passagem da gestão dos transportes públicos igualmente para o seu controlo. É importante esse quadro legal até para se tomarem decisões de restrições de acesso às cidades por parte dos veículos”, afiançou.

Moliceiros totalmente elétricos em Aveiro

Essa deixa foi precisamente aproveitada por José Ribau Esteves, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, para destacar o que tem sido feito naquela cidade em prol de uma transição energética mais eficaz, destacando-se o lançamento do primeiro ferry boat elétrico e da conversão de todos os moliceiros igualmente para elétricos.

“Foi, de facto, um passo importante essa entrega dos transportes públicos aos municípios e será um dos passos que tem maior sucesso. Mas também foi muito difícil porque a administração central entregou-nos um dossier muito desorganizado, num trabalho que tem sido difícil mas que tem vindo a ser organizado. Depois temos este problema que é Covid, que tem tido um grande efeito nos transportes públicos. Mas foi um passo muito bem dado, muito positivo, que foi dado para melhorar a oferta em relação à procura, para melhorar a qualidade da fiscalização e um conjunto de parâmetros em termos de performance. Em Aveiro, começámos pelos autocarros – temos uma concessão municipal que foi ganha por uma empresa do grupo Transdev. Este grupo tem 1500 autocarros em Portugal e apenas três dos quais elétricos, estando em Aveiro na operação da Aveiro Bus, em funcionamento há três anos”, começa por referir.

“Agora estamos a dar um passo novo com o projeto Aveiro Steam City. Somos o único município com um grande projeto financiado pela Iniciativa comunitária Urban Inovative Actions (UIA), num investimento de 6.1 milhões de euros com comparticipação comunitária de 4.9 milhões de euros e que integra outros parceiros importantes. Uma das áreas deste projeto é exatamente essa conjugação entre a mobilidade e energia, de forma a melhorar as nossas performances ambientais. Já terminou o projeto-piloto que é a transformação do mecanismo de locomoção dos nossos moliceiros que fazem os passeios turísticos na ria de Aveiro. Os 27 moliceiros vão ser convertidos para elétricos e neste momento estão a ser instalados os postos de carregamento, cuja instalação foi ganha por uma empresa portuguesa e temos dois anos para que todos os moliceiros tenham esse motor elétrico. E, claro, temos ainda o ferry boat elétrico, num investimento de sete milhões de euros”, assevera o autarca aveirense, que não deixa passar em branco também a mensagem transmitida pela eletrificação de que é importante efetuar essa transição energética.

Tecnologia para ‘atar’ as pontas soltas

A ligar todas estas pontas soltas está a tecnologia e as soluções que a mesma pode aportar. Um dos exemplos colaborativos é o da Critical TechWorks, que é responsável pelo desenvolvimento da aplicação de conectividade dos BMW. Massimo Senatore destaca a importância da tecnologia e o valor da competência nacional neste campo.

“Hoje, temos mais de 1000 talentos portugueses a trabalhar em tecnologia e mais de um milhão de automóveis da BMW em todo o mundo a circular com tecnologia portuguesa. Quase que podemos colocar a bandeira portuguesa ao lado do símbolo da BMW. É uma forte aposta da marca neste pais. Os talentos dos portugueses é uma mais-valia para a nossa empresa”, refere Senatore, dando o exemplo de uma aplicação tecnológica para a mobilidade.

“A tecnologia ajuda a fazer essa transição energética. Por exemplo, temos a eDrive Zone, que é um sistema que automaticamente muda o motor para totalmente elétrico assim que deteta a entrada numa zona de emissões reduzidas. Parece simples, mas é fundamental. Também temos a nossa aplicação que ajuda a escolher a melhor rota e tudo isso vai ajudar a criar a mobilidade do futuro”.

Da parte da Critical TechWorks, essa mesma observância de colocar a tecnologia ao serviço da mobilidade é essencial, como assume João Peixoto, CTO daquela companhia.

“Um dos princípios mais básicos é concentrar-nos no que é mais importante para as pessoas e como é que melhoramos a sua vida. Tudo na Critical TechWorks foi desenhado a pensar nisso. Organizámos a empresa em equipas responsáveis por produtos específicos, com uma pessoa responsável por cada equipa, a que damos o nome de ‘product visionary’, e fazemos com que estejam focadas em desenvolver um produto pensando maioritariamente no valor que vão dar às pessoas, que pode ser uma melhoria. Já temos participado em vários projetos e entregue várias aplicações que o fazem, como o eDrive Zones, do ponto de vista de gestão de recursos das nossas cidades. Outro ponto é tentar perceber a utilidade e a utilização que as aplicações vão ter para desenvolver a nossa tecnologia e as nossas aplicações e o feedback será muito importante para oferecer algo que vá ao encontro daquilo que as pessoas procuram, procurando melhorar a sua vida. Cada vez mais as tecnologias vão ser desenvolvidas para ajudar as pessoas e a sua vida”.