Profundamente ligada à história alemã, a Volkswagen teve, por um breve período, supervisão britânica militar, numa medida que acabou por ditar a ‘sorte’ da marca alemã em salvar-se no pós-guerra do maior conflito mundial conhecido até hoje – a Segunda Guerra Mundial.

A 5 de junho de 1945, o exército britânico entrava naquela que viria a ser decretada como a sua zona de ocupação, substituindo as tropas americanas que haviam ali assentado a 11 de abril daquele mesmo ano. Em Wolfsburgo, o Governo Militar Britânico assumia o comando da Volkswagenwerk GmbH, incluindo a totalidade dos seus 6.000 trabalhadores, dando assim início a uma história única no pós-guerra.

A figura chave neste processo foi o jovem Major Ivan Hirst, de 28 anos de idade, que deu um passo decisivo para manter a fábrica da marca alemã, ajudando à sua conversão de destruída instalação de produção de armamento para uma fábrica de veículos automóveis civis.

Num documentário agora lançado pela Volkswagen, a marca recolhe os depoimentos de Hirst, que lembra o briefing inicial que lhe foi dado pelas autoridades militares. “Inicialmente, o meu plano de ação era muito simples. Ir a Wolfsburgo, encontrar a fábrica e assentar lá. Nem sequer disseram que era uma fábrica da Volkswagen”. É assim que começa a história do Major Ivan Hirst à frente da marca alemã, tendo chegado a Wolfsburgo em agosto de 1945, tendo deixado a mesma, exatamente quatro anos mais tarde, bastante satisfeito com a sua prestação.

Mas até chegar a esse momento, é preciso voltar um pouco atrás. Até ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, apenas 630 unidades do “carro do povo” conhecido como o “KdF-Wagen” tinham sido construídas. A fábrica, que viria a tornar-se na atual unidade fabril sedeada em Wolfsburgo, havia sido destinada à produção da indústria de variado armamento militar alemão no tempo da guerra.

No final da Segunda Guerra Mundial, a Volkswagenwerk GmbH tinha perdido a sua proprietária, a organização Nacional Socialista Deutsche Arbeitsfront (Frente Laboral Alemã) tinha sido extinta em virtude da guerra e a fábrica, que estava destinada à produção do KdF-Wagen, estava agora parcialmente destruída depois de ter funcionado durante a guerra como local de produção de armamento. Para o efeito, recorreu a mais de 20 mil trabalhadores forçados. Após a guerra, o seu destino seria a destruição, mas a entrada dos americanos nas instalações levou a que fosse, desde logo, convertida em oficina. Na passagem de testemunho para o exército britânico, o potencial da fábrica foi, desde logo, observado e, com a chegada de Hirst, o plano seguiu em frente.

Muita da maquinaria para a produção de veículos civis havia sido deslocada para outros locais. Hirst ordenou que fosse reposta em Wolfsburgo e, apesar dos danos consideráveis na fábrica, o local foi mesmo o escolhido para seguir em frente com a produção de veículos que viriam mais tarde a desempenhar um papel fundamental na retoma da economia alemã, apesar de todos os problemas de então – sem infraestruturas, sem bases financeiras, mas com muita energia para o reinício.

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No dia 22 de agosto de 1945, o recém-nomeado diretor Ivan Hirst recebeu um pedido inicial de 20.000 veículos, proporcionando-se a continuidade da fábrica e um novo futuro para os seus colaboradores. Este contexto foi decisivo para o término da ameaça da descontinuidade e consequente desmantelamento da fábrica. Os veículos foram destinados principalmente para serem usados pelos Aliados no período da “Ocupação”, mas também para ajudar a fornecer serviços de cuidados de saúde nas zonas rurais. A produção média mensal foi de cerca de 1000 veículos no período de 1946-1947. Apenas depois da reforma monetária, em junho de 1948, começou a surgir um número significativo de compradores particulares, como o próprio Hirst viria a dizer mais tarde.

“Era uma fábrica moderna, pronta para funcionar, com trabalhadores empenhados, uma equipa de gestão alemã e um produto que tinha provas dadas. Quando a moeda mudou em 1948, ganhou fôlego: a Volkswagen partiu a sua volta ao mundo”. Com o passar do tempo, ficou claro que aquela era também a vontade britânica para a retoma da Alemanha, que viu a segurança material e as perspetivas de futuro para a sua população como elementos para o desenvolvimento das estruturas democráticas que propiciariam a retoma da economia local e que a levariam a ser conhecida como ‘motor da Europa’.

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